"Ali estava sozinho, e o mundo era todo feito de uma estranha e esbranquiçada luz solar, alva, e de água, água morna e brilhante, absolutamente pura, de um verde delicado e frágil. Erguia-se em asas fulgurantes aos lados da proa do navio, e lançava uma espuma de penas brancas dos seus rebordos verdes. E havia sempre, sempre, sempre, aquela fonte duplamente alada, enquanto o navio avançava entre as suas asas, como a vida, e a espuma saltava sempre, derramando-se do arco verde das duas asas de água. E lá em baixo, ainda intocado, um momento mais adiante, sempre um momento mais adiante, e absolutamente intacto, estava o belo verde profundo da água, a profundidade imensa, de um claro tom de esmeralda, a pouca altura, e de um verde-safira por baixo, escuro e claro, azul e verde tremeluzente, duas águas, muitas águas, uma só água, em perfeita união, um momento à frente da proa do navio, tão serena, insondável e pura e intemporal. Era algo muito belo, e no gurupés, que se elevava suavemente, do navio longo e rápido, o corpo era embalado no balanço da vida intemporal, a alma suspendia-se no momento colorido como uma gema, a eternidade pura da gema daquele golfo de parte alguma."
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DH Lawrence, St. Mawr e outros contos, (O Peixe Voador) p. 279, Livros do Brasil, Lisboa, 1990
2 comentários:
...sensação de: estranho/familiar...
sim, Nivaldete, é isso mesmo que sinto também...
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