Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quarta-feira, 15 de julho de 2020

D. Pedro e D. Inês

Trazendo o infante D. Pedro consigo D. Inês e não se sabendo ao certo se era sua mulher ou não, fizeram entender a el-rei seu pai que o infante se preparava para mandar pedir ao Santo Padre que lhe desse licença para casar com D. Inês. Foi isto uns três anos antes de D. Inês ser morta. El-rei D. Afonso que então estava em Alenquer, quando isto ouviu ficou descontente de tal embaixada e escreveu secretamente ao arcebispo de Braga, que então estava em Roma, que conseguisse que o Papa não deferisse o requerimento do infante, que era para el-rei grande ódio e prejuízo.

As Crónicas de Fernão Lopes, Seleccionadas e transpostas em português moderno, António José Saraiva, Gradiva, Lisboa, 3ª edição, Março de 1993, p. 278 (Crónica de D. João I, A eleição do rei nas Cortes de Coimbra, Do recado que el-rei D. Afonso IV enviou à Corte do Papa para o infante seu filho não casar com D. Inês)  

segunda-feira, 13 de julho de 2020

O Macaco do Rabo Cortado


Era uma vez um macaco que queria ir para a escola, mas muitos meninos faziam troça dele porque tinha um rabo comprido. Então ele resolveu ir ao barbeiro e pedir para lhe cortarem o rabo. O barbeiro perguntou se tinha a certeza, e como o macaco respondeu que sim, o barbeiro, trás! Cortou-lhe o rabo com uma navalha.

No outro dia, quando o macaco chegou à escola, os meninos riram-se por ele ter o rabo cortado, e chamaram-lhe “o macaco do rabo cortado”. Então, resolveu ir ao barbeiro buscar o seu rabo, mas o barbeiro disse-lhe que já não tinha o rabo, que tinha ido para o lixo. Então o macaco ficou furioso, pegou na navalha do barbeiro e fugiu com ela.

Na rua encontrou uma varina que o viu com a navalha na mão e lhe disse: “ó macaquinho, para que queres tu essa navalha? Não te serve para nada! A mim é que fazia falta para eu amanhar o meu peixe”. O macaco deu-lhe razão e entregou-lhe a navalha. Mas mais tarde, começou a sentir fome e para descascar uma maçã, precisou da navalha. Foi ter com a varina e pediu a navalha, mas a navalha estava partida. Então ficou furioso e levou a canastra das sardinhas da varina.

Quando ia na rua com a canastra de sardinhas, encontrou o padeiro, que lhe disse: “olha coitado, vais tão carregado com as sardinhas, se quiseres eu guardo essa canastra na minha casa.” E assim foi. Agora o macaco sentia-se mais à vontade e podia ir de um lado para o outro, sem ter de transportar as sardinhas. Mas um tempo depois, começou a ter fome. O peixe dava-lhe jeito para comer e por isso resolveu ir buscá-lo a casa do padeiro. Mas o padeiro, com a família, tinha comido as sardinhas. Então furioso, tirou um saco de farinha ao padeiro.

Quando ia pelo caminho com o saco de farinha, encontrou a senhora professora que lhe pediu a farinha para fazer uns bolinhos. Como o macaco não sabia fazer bolinhos com a farinha, deu a farinha à senhora professora. Mais tarde, quando voltou a ter fome, resolveu ir ter com a senhora professora e pedir-lhe alguns bolinhos. Mas os bolinhos já tinham sido todos comidos. Ninguém tinha guardado uns bolinhos para oferecer ao macaco. Então ficou furioso e roubou uma menina da senhora professora.

Só que, para espanto do macaco, a menina começou a chorar. Teve pena da menina e foi levá-la à mãe. Para que é que quereria uma menina? Mas mais tarde, quando chegou a casa e viu tudo desarrumado, pensou que a menina poderia trabalhar para ele e ajudá-lo a limpar e a arrumar a casa e por isso resolveu ir buscá-la. Quando foi buscar a menina, a mãe não lha deu, claro, e então, furioso, levou–lhe a camisa do marido que estava pendurada na corda da roupa.

No caminho, encontrou o músico com uma viola que lhe pediu a camisa. Como a camisa do músico já estava muito velhinha o macaco deu-lhe a camisa. Mas o músico quando foi para casa vestir a camisa, ela rompeu-se, e teve de a deitar fora. Quando chegou a noite e o macaco sentiu frio, quis a camisa de volta, mas o músico já não a tinha porque a camisa tinha–se rompido. Então, tirou a viola ao músico e fugiu.

O macaco subiu então para cima do telhado e começou a cantar:

"Do rabo fiz navalha, da navalha fiz sardinha, da sardinha fiz farinha, da farinha fiz menina, da menina fiz camisa, da camisa fiz viola, Tum…Tum…Tum… que eu vou p’ra Angola, Tum…Tum…Tum… que vou… ".


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Restos de festas

de anos sem conta
nem peso
que sabem a baunilha.
Sorrisos com falta
de dentes
à vista de jovens elegantes
que dançam.
Vestígios de infinitos
que foram.