
"Estava deitada, isso estava, e obcecada pelo desejo de ser cigana. De viver dentro de uma carroça, no campo, e não pôr nunca os pés numa casa autêntica, viver alheia a paróquias e sem ter à frente dos olhos uma igreja. Endurecera o coração com a sua repulsa pelo reitorado. Tinha nojo das casas de banho com banheiras e retretes ocultas atrás de portas, pelo que havia nelas de extraordinariamente repulsivo. Odiava o reitorado e tudo o que lhe estava implícito. A sua estagnante e canalizada forma de vida onde ninguém falava de esgotos mas cheirava a eles, cheiro que parecia vir do íntimo dos seres com duas pernas que o habitavam, desde a Vovó às criadas, e a contaminava. Os ciganos, ao menos, não tinham casas de banho mas também não tinham esgotos. Viviam ao ar puro. E o ar, no reitorado,
nunca era puro.Poluía-se na alma das pessoas e cheirava mal."
D. H. Lawrence, A Virgem e o Cigano, p. 60, Assírio & Alvim, Lisboa 1986
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