Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quinta-feira, 1 de julho de 2010

lágrimas

porque elas se formam e deslizam e é possível reprimi-las às vezes e outras vezes não...

porque nada dói mais que ser abandonada

e essa dor maior é a pedra, é o chão

é a realidade indesmentível

inquestionável, impossível e real no mais alto grau.

.

chegadas e partidas da vida...

não poder confiar nunca mais no amor, na protecção...

.

estranha entre estranhos cujas palavras e acções são surpreendentes

e convencionais

.

há sílabas que fazem chorar

sílabas que nos dão prazer e alegria

mas o abandono... o chão frio da ausência... está sempre lá

nada é mais confiável

que a dor

sempre absolutamente real

e sempre cá

.

apenas os milagres abrem subitamente percepções mais vastas

para lá da dor...

.

e esses milagres...

de raros e maravilhosos

são estrelas no escuro

estrelas...

.

como alcançá-las senão com o amor?

o mais vasto de todos os estados de espírito?

.

a palavra amor é ao mesmo tempo bela e envilecida pelo uso

não sagrado

.

a falta de respeito torna infame...

.

lágrimas... regatinhos... Chuva

cai sobre as faces tristes todas... lava, alivia, salva...!

.

ou tu Sol seca-as... leva-as, dissolve-as no ar... que chovam noutro lugar

.

lágrimas, gotas de orvalho, bálsamo, prazer

.

.

viajar pelos caminhos rectos e paralelos da escrita habitua a mente à geometria das formas regulares

e claramente distintas do fundo

.

a estética das formas geométricas pode ser bela contra um fundo selvagem,

como algumas plantas num espaço geométrico

na individualidade dos seus vasos

são ainda assim belas selvagens

.

oh, mas as lágrimas... sem cor, sem forma, sem nada de definido...

selvagens lágrimas das florestas húmidas

das existências desmesuradas... estrelas... e nuvens...

noites caladas

dias muito lentos...

.

lentas lágrimas

.

límpidas e invisíveis agonias gritantes mas caladas...

.

espaços secretos nos corações não visíveis

prazeres indesmentíveis... milagres...

.

e uma vasta escuridão suave e profunda para onde a água vai

seguindo a linha do menor esforço,

que num mundo em relevo raramente é recta

mas sempre cai

excepto quando se eleva ao céu... cheia das lágrimas

.

que alguém ainda não chorou

mas vão revelar sagradas e divinas as dores humanas

e os seus prazeres na Terra...

...

celestes!

2 comentários:

Anónimo disse...

...!!!...
espiar
e
sair
de
mansinho....

assim quer
o
desmesurado...

Anónimo disse...

não está
jamais
em
abandono
quem
do abandono
fala
tão
poderosa
mente