«Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
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Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
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O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
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Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
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Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.»
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Alberto Caeiro
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"A poesia de Alberto Caeiro", apresentação crítica, selecção e linhas de leitura de Manuel Gusmão, p. 58 e 59, Editorial Comunicação, Lisboa, 1986
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