"Dela me abstive,
ainda que a sentisse
prestes a entregar-se
e não cedi à tentação
que Satan me fazia.
.No meio da noite,
ela surgiu desvelada
e as trevas nocturnas,
iluminadas pelo seu rosto,
também, naquela vez,
se desvelaram.
.Não havia olhar seu
que não tivesse incentivos
a abrasar os corações.
.Mas respeitei o preceito
que condena a luxúria
e domei as caprichosas
arrancadas do corcel
da minha paixão,
para que o meu instinto
não vencesse a castidade.
.E assim passei a noite com ela,
como o pequeno camelo sedento
a que o néscio impede de mamar.
.Tal como num pomar,
onde alguém como eu
apenas aproveite da visão e olfacto.
.Que eu não sou
como os animais abandonados
que tomam os jardins como pastos."
.Ibn Farach, in Ladrões de Prazer, poemas arábigo-andaluzes, p. 49 e 50, Editorial Estampa, Lisboa, 1991
4 comentários:
Que pena, que talvez teria sido uma noite ...... inspirada :))
foi uma noite inesquecível! ;)
Inesquecivel pode ser pode ser fantastico ou horrivel :))
o acto sexual também poderia ter sido fantástico ou horrível...
Ibn Farach era pelo "amor udrí" que conhecemos como "amor platónico" ou espiritual - se é que conhecemos... :)
a mim o que me tocou neste poema foi precisamente o prazer
na linguagem dos nossos dias talvez se dissesse "preliminares sem sexo"
a palavra "preliminares" pressupõe que haverá sexo a seguir: são considerados um meio para um fim e não um fim em si, como parece ser o caso neste poema
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