Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




domingo, 27 de junho de 2010

os templos dos prazeres

a protecção divina

que de súbito te rouba quem mais te ama

e reclama para si de novo

o que te tinha dado

ama-te agora melhor

porque te ama com o seu amor

.

mas compreender o que é realmente o amor

demora toda a vida

.

quando realmente sabes

morres

ou quando morres sabes

.

por isso se fala de morrer antes de morrer

.

quer dizer regressar à ignorância original

que sustenta, é chão, é terra

age discretamente

embora possa rebentar de repente

.

que é esperar?

é ter um desejo por cumprir?

uma força que te atrai?

.

fora de si

vivem os materialistas

dentro de si

os idealistas

definições

isto é:

aproximações de conceitos numa estrutura inteligível "fora de si"

.

ser inteligível "fora de si" é o espantoso do mistério

.

o próprio espanto é original

não é espanto disto ou daquilo

mas de tudo em geral

.

e é tranquilo

ou desesperado, satisfeito e desgraçado,

tudo ao mesmo tempo

e algo de cada vez

como ondas

nuvens

bandos migrantes de aves selvagens

que gritam de entusiasmo e expectativa

na grande aventura sem rede que é a vida

se pudermos

nunca pensar em comida senão quando queremos comer, porque há sempre

.

e se houver tempos de fome e miséria

aos quais se sobreviva

aprende-se como é grande a protecção divina

ainda quando

mal te sustentando

apesar de tudo te sustenta

enquanto te não reclama como sua para sempre

.

quem vive neste amor

pode amar todos os homens da sua vida

.

por isso é que as sacerdotisas amavam os peregrinos que as visitavam

e por isso é que os peregrinos acorriam aos templos com ofertas

.

e todas as mulheres eram sagradas nos templos dos prazeres

.

pois que é a vida sem raros e deliciosos prazeres?

.

no outono acasalavam para o inverno

.

todos os dias acolhem totalmente a protecção divina

.

não lhes importa enriquecer os que amam a pobreza

não lhes importa empobrecer os que amam a riqueza

a protecção é a mesma

só o cenário é que muda

imperador e escravo são papéis para actores

ah, como é bom enaltecer a divina percepção da protecção!

Fotografia de Leonor Rocha

2 comentários:

Nivaldete disse...

Que grande, Almariada...

difícil/impossível acrescentar qualquer palavra...

contemplo as tuas,
é o que cabe...

Um grande abraço, querida!

almariada disse...

um grande abraço, querida Nivaldete! :)