Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Imaginação e lógica

"Introduzi numa garrafa meia dúzia de moscas e meia dúzia de abelhas; depois, com a garrafa deitada horizontalmente, voltai-lhe o fundo para a janela do aposento. As abelhas labutarão, durante horas, até que morrem de fadiga ou de inanição, a procurar uma saída através do fundo de cristal, ao passo que as moscas, em menos de dois minutos, terão saído todas do lado oposto pelo gargalo. Sir John Lubbock concluiu daí que a inteligência da abelha é extremamente limitada, e que a mosca é muito mais hábil em se livrar de apuros e encontrar o seu caminho. Esta conclusão não parece irrepreensível. Voltai alternadamente para a claridade, vinte vezes a seguir se quiserdes, umas vezes o fundo, outras vezes o gargalo da vasilha transparente, e vinte vezes seguidas as abelhas se voltarão ao mesmo tempo para o lado da janela. O que as perde, na experiência do sábio inglês, é o seu amor à luz, e é a luz a razão do seu proceder. Imaginam evidentemente que, em qualquer prisão, a libertação está do lado da claridade mais viva; procedem assim por consequência, e obstinam-se em proceder logicamente. Nunca tiveram conhecimento desse mistério sobrenatural que é para elas o vidro, essa atmosfera subitamente impenetrável, que não existe na natureza, e o obstáculo e o mistério devem ser tanto mais inadmissíveis, tanto mais incompreensíveis, quanto mais inteligentes elas são. E as moscas estouvadas, sem cuidarem da lógica, do apelo da luz, do enigma do cristal, volteiam ao acaso dentro da garrafa, e, encontrando a boa fortuna dos simples, que às vezes se salvam por onde perecem os sábios, acabam necessariamente por encontrar na sua passagem o bom gargalo que as liberta."

Maurício Maeterlinck, "A Vida das Abelhas", p. 86 e 87, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1961

Sem comentários: