«Logo Áureo viu a alma do convertido transformar-se em estrela brilhante, voando sobre a nuvem que fugia no ar. O cadáver do velho índio voava também ao lado da alma que o habitara, envolto em bruma. E a própria bruma o depôs no cume da montanha do Corvo, onde, batido do vento frio que a neve da altura mais esfria, ao sol, ao gelo e à chuva, se tornou de pedra, eterna e rija como mármore. E ei-lo ali, de arco na mão, de diadema de plumas na cabeça, vermelho na face, velho no aspecto, a apontar as plagas brasileiras aos portugueses que por aquelas regiões navegavam.
«Dir-se-ia que lhes mostrava o caminho do país prodigioso, que os incitava à gloriosa empresa de descobrir e conquistar mais essa terra de maravilha, depois de tantas que já tinha conquistado! E foi essa a sepultura, a aérea sepultura do selvagem convertido, por milagre de Deus feito estátua de pedra!...»
João de Barros, CARAMURU, Aventuras prodigiosas dum português colonizador do Brasil, Adaptação em prosa do poema épico de Frei José de Santa Rita Durão, p.23 e 24, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa (A primeira edição desta obra é de 1931)
Sem comentários:
Enviar um comentário