Um idiota encontrou um dia uma cauda de carneiro. Cada manhã servia-se dela para pôr gordura no bigode. Depois ia ter com os amigos e dizia-lhes que acabava de chegar de uma recepção onde tinham feito uma grande festa e comido muito bem. A sua barriga vazia maldizia o seu bigode brilhante de gordura.
Oh desgraçado! Se não fosses mentiroso talvez um homem generoso te convidasse para comer!
Um dia, em que o estômago do nosso idiota se queixava a Deus, um gato roubou a cauda do carneiro. O filho do idiota tentou apanhar o animal mas em vão. Com medo que o pai o repreendesse pôs-se a chorar. Depois foi a correr ao lugar onde o pai estava com os amigos. Chegou no preciso momento em que o seu pai contava aos outros a sua refeição imaginária da véspera. Disse-lhe:
«Papá! O gato levou a cauda de carneiro com que punhas gordura no bigode todas as manhãs. Eu tentei apanhá-lo mas não consegui.»
A estas palavras os amigos começaram a rir e convidaram-no para uma refeição, desta vez real. E assim o nosso homem, abandonando as suas pretensões, conheceu o prazer de ser sincero.”
Djalâl Al-Dîn Rûmî, “Le Mesnevi, 150 contes soufis”, pp. 64-65, Albin Michel, Paris, 1988
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