Reinaldo Ferreira foi a vibração excessiva e intensa de quem tinha pouco tempo para fazer o seu «voo cego a nada».
«Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
......
Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?»
E foi ao mesmo tempo a contenção e o rigor seco, sem enfeites. Noutro dos seus poemas diz-nos:
«Se nunca disse que os teus dentes
São pérolas,
É porque são dentes.»
Esta juventude de fogo e este rigor colheu-os o vento cedo. A sua vida, meteórica, balizou-se entre 1922, quando nasceu em Barcelona e 1959, data da sua morte em Moçambique, com 37 anos! Sem tempo de rever e de publicar a sua obra, reunida e dada a lume por alguns amigos.
Luísa Dacosta, De mãos dadas, estrada fora... 3, pp. 115 e 116, Figueirinhas, Porto, 1980
1 comentário:
Muito bom poeta. Ditos insólitos. Pena que tenha vivido tão pouco...
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