"Antigamente, o Alt Breisach, uma fortaleza rochosa por onde corre o rio, ora de um lado, ora do outro - pois, na sua juventude inexperiente, parece que o Reno não estava ainda bem seguro do seu caminho -, devia ser, como local de residência, do agrado exclusivo de quem gostasse de mudança e agitação. Entre quem quer que fosse a guerra, e qualquer que fosse a razão dela, o Alt Breisach estava condenado a participar. Toda a gente o cercou, a maior parte capturou-o; a maior parte voltou a perdê-lo, e ninguém era capaz de o manter. O habitante do Alt Breisach nunca tinha bem a certeza a quem pertencia e o que era. Um dia era francês e, antes de conseguir aprender o francês suficiente para pagar os impostos, passava a ser austríaco. Enquanto tentava perceber o que era preciso para se ser bom austríaco, descobria que já não era austríaco mas alemão, embora fosse sempre duvidoso que espécie de alemão seria, entre as doze espécies que havia. Um dia descobria que era católico, no dia seguinte protestante fervoroso. A única coisa que lhe pode ter dado alguma estabilidade à existência deve ter sido a monótona necessidade de pagar alto o privilégio de ser o que quer que fosse no momento. Mas quando se começa a pensar nestas coisas, perguntamo-nos como é que alguém, na Idade Média, fora os reis e os cobradores de impostos, se dava sequer ao trabalho de viver."
Jerome K. Jerome, "Três Homens de Bicicleta" (publicado em 1900), p. 170, Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 1992
A imagem é de um cartão postal escrito e enviado em 1914 - aqui
Jerome K. Jerome, "Três Homens de Bicicleta" (publicado em 1900), p. 170, Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 1992
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