Citação do poema de Lermontov "O Anjo" (1831) que abre o prólogo do livro "As Bagas Silvestres da Sibéria" publicado por Evguéni Evtouchenko na Rússia em 1981, traduzido de uma tradução francesa e publicado pela Presença em Lisboa em 1985.
"Esta frase veio ao espírito do astronauta, que sorriu tristemente e pensou, para consigo: «É bonito, o anjo...»
Voltado para a vigia da sua nave espacial, o rosto do astronauta estava fatigado, prematuramente envelhecido, mas cheio de uma viva curiosidade infantil. Ainda nunca tinha ido ao estrangeiro e eis que, de súbito, o seu olhar abarcava todos os países ao mesmo tempo. As fronteiras tinham desaparecido. Todos os postos fronteiriços bicolores, essas no man's lands cuidadosamente arranjadas, o arame farpado, os comités fronteiriços com os seus pastores alemães, os postos alfandegários, tudo soçobrara no nada. Vista do cosmos, a existência de todos esses seres, de todas essas instituições parecia de um absurdo contranatural. Um termo como o de propiska, pelo qual se designa o registo obrigatório de todos os cidadãos soviéticos no posto de milícia do seu bairro, tornava-se subitamente grotesco, totalmente inconcebível...
Abaixo dele, punhado de poalha de ouro semeada num campo de veludo negro, Paris cintilava com miríades de luzes."
Prólogo
Voltado para a vigia da sua nave espacial, o rosto do astronauta estava fatigado, prematuramente envelhecido, mas cheio de uma viva curiosidade infantil. Ainda nunca tinha ido ao estrangeiro e eis que, de súbito, o seu olhar abarcava todos os países ao mesmo tempo. As fronteiras tinham desaparecido. Todos os postos fronteiriços bicolores, essas no man's lands cuidadosamente arranjadas, o arame farpado, os comités fronteiriços com os seus pastores alemães, os postos alfandegários, tudo soçobrara no nada. Vista do cosmos, a existência de todos esses seres, de todas essas instituições parecia de um absurdo contranatural. Um termo como o de propiska, pelo qual se designa o registo obrigatório de todos os cidadãos soviéticos no posto de milícia do seu bairro, tornava-se subitamente grotesco, totalmente inconcebível...
Abaixo dele, punhado de poalha de ouro semeada num campo de veludo negro, Paris cintilava com miríades de luzes."
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