-Agora, uma velha historia commovente; é a historia da camponeza Hikeda-no-Akaiko; e data do século V da nossa era.
O imperador Yuraku vagueava um dia ao longo das margens pittorescas do rio Miwa, quando, á borda do rio, deu fé de uma formosa rapariga, que alli lavava roupa. Ficou encantado. Dirigindo-lhe a palavra, o imperador perguntou-lhe pelo nome; e advertiu-a que nunca se casasse, que esperasse a occasião de ser chamada á corte imperial, onde elle a queria para si.
Hikeida-no-Akaiko, a humilde camponeza, fez a sua reverencia e acquiesceu; e o imperador, após o galanteio, retirou-se, continuando a vaguear por aquelles sitios.
E a humilde camponeza pôs-se a esperar a esperar, a esperar que a chamassem á corte do soberano. Esperou tanto, que esperou até aos oitenta annos, em virginal candura de donzella, recusando vários casamentos vantajosos. Mas, tendo chegado áquella idade, curvada ao peso dos invernos e com os cabellos cor de neve, pareceu-lhe que não deveria esperar mais tempo, dirigindo-se então ao palácio imperial, com alguns presentes para o soberano.
O imperador, que havia esquecido de toda a aventura, ficou surprezo e angustiado de remorsos, quando foi informado d'aquella estranha visitante. Encheu de afagos e benesses a decrépita amorosa, buscando assim consolal-a dos longos infortúnios; do seu punho, dedicou-lhe uma poesia. Mas a velha a nada respondia, nada queria; chorava, chorava e nada mais…
Wenceslau de Moraes, Cartas do Japão III, 2ª Serie - 1911-1913, Sociedade Editora Portugal Brasil, Arthur Brandão & C.ª, Lisboa
Carta de 15 de Novembro de 1912, p. 122 e 123
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