Foi só quase uma hora mais tarde que Ivor e Mary apareceram.
- Ficámos para ver aparecer a Lua - disse Ivor.
- Estava toda curva, percebem - explicou Mary, muito técnica e científica.
- Estava tão bonito lá em baixo no jardim! As árvores, o perfume das flores, as estrelas ... - Ivor ondulava os braços. - E quando a Lua surgiu, foi realmente mais forte que tudo. Produziu em mim um tal efeito que rompi a chorar.
Sentou-se ao piano e levantou a tampa.
- Havia muitos meteoritos - disse Mary, para que a ouvissem. - A Terra deve ter chegado à altura da chuva estival de meteoritos. Em Julho e em Agosto...
Mas Ivor começara já a tocar. Interpretava o jardim, as estrelas, o perfume das flores, a Lua. Chegou até a meter um rouxinol que não estava lá. Mary, extasiada, ouvia, de lábios entreabertos. Os outros continuavam entregues às suas ocupações, não parecendo seriamente incomodados. Precisamente num mesmo dia de Julho, exactamente trezentos e cinquenta anos atrás, Sir Ferdinando tinha comido sete dúzias de ostras. A descoberta deste facto deu a Henry Winbush um prazer muito especial. Tinha uma natural propensão em deliciar-se com a celebração de datas importantes. O tricentésimo quinquagésimo aniversário das sete dúzias de ostras... Se tivesse sabido aquilo antes do jantar, teria mandado vir champanhe.
Aldous Huxley, Férias em Crome (Crome Yellow, 1921), Capítulo 17, p. 150, Livros do Brasil, Lisboa, s/ data
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