
«Este acto de contagem, que, nas fórmulas recolhidas tanto do grego como do latim, pareceria ficar exclusivamente pela dimensão numérica do movimento, acaba por ganhar uma dimensão semântica suplementar com a transposição para o domínio do vocabulário hebraico. Com efeito, o conceito beneficia com uma duplicidade de sentidos para o termo "contar" que ocorre em hebraico. Tal como acontece igualmente em português, da acção expressa pelo verbo contar tanto pode resultar uma conta como se pode produzir um conto: enumerar e narrar são sentidos igualmente acessíveis e implicados de forma alternativa e complementar no termo hebraico para contar (
sapar, de onde resulta
mispar, "número" e
sippur, "narração"). Com a numeração oferece-se a seriação, a imagem de teor físico do tempo; com a narração define-se o seu conteúdo enquanto acontecimento.»
José Augusto Martins Ramos, O espaço do tempo segundo o judaísmo, in Cultura, Revista de História e Teoria das Ideias, vol. XXIII / 2006, IIª Série, Ideia(s) de Tempo(s), p. 233, 234, Universidade Nova de Lisboa
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