«Nos últimos tempos fui iluminado, no seio de uma muito admirável contemplação, há dezoito meses por um primeiro luar, há três meses por uma distinta claridade e há muito poucos dias pelo próprio Sol. Nada impede de me abandonar a um transporte sagrado e afrontar os mortais, confessando ingenuamente que roubei os vasos de ouro dos Egípcios para erguer um altar ao meu Deus, tão longe das fronteiras do Egipto. Se acreditais em mim, regozijar-me-ei; se vos indignardes, tolerar-vos-ei. A sorte está lançada, escrevi o meu livro, que ele seja lido agora ou na posteridade, pouco importa: bem pode esperar cem anos pelo seu leitor, se o próprio Deus esperou seis mil anos por um contemplador da sua obra.»"
Mais adiante Ivar Ekeland volta a citar Kepler:
"Quanto ao próprio Kepler, a Astronomia nova mostra as diversas fases do seu pensamento: começa por atribuir aos planetas (diferentes da Terra) órbitas perfeitamente circulares, depois complica-as com um epiciclo antes de chegar à elipse. Damos-lhe a palavra:
«O meu primeiro erro foi ter admitido que a órbita dos planetas era uma circunferência perfeita. Este erro custou-me tanto mais tempo quanto é certo ter ele sido sustentado por todos os filósofos, sendo metafisicamente plausível de todo.»"
Ivar Ekeland, A Matemática e o Imprevisto, Gradiva, Lisboa, 1993, p. 16 e 24
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