Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

tempo livre

é preciso não ter nada para fazer ou não querer fazer nada para descobrir o que é tempo livre, também é preciso estar só, então o tempo dilata-se, não tem limites, torna-se intemporal e tudo o que acontece: a manhã, por exemplo, não somos nós que fazemos... sem esforço dormimos e acordamos... sem esforço estamos, sentimos... o estado de espírito da manhã no deserto

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

quem me dera dançar assim

Encontrei no youtube a dança cuja fotografia uso no blog. É do filme "Latcho Drom" de Tony Gatlif (1993). Dança cigana do Rajastão, Índia, no deserto de Thar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sol parado

Nestes dias o percurso do Sol chega ao seu extremo Sul e parece parar aí. Aqui, no hemisfério Norte, são os dias mais curtos e as noites mais longas. Daqui a um dia ou dois o Sol parece recomeçar a mover-se para Norte, cada dia um pouco mais, e os dias vão ser cada vez mais longos até ao solstício de verão, quando o Sol parece parar de novo, desta vez no extremo Norte do seu percurso anual.

Diz-se "parece" porque é a inclinação da Terra que produz este efeito.

Na imagem podemos ver as posições extremas do Sol nos solstícios de inverno e verão e a posição média nos equinócios de primavera e outono.

domingo, 20 de dezembro de 2009

pensando

  • tu és sempre algo que permanece com lampejos da finitude do real e amnésias mais ou menos consentidas.
  • as metamorfoses são irrepetíveis mas podem parecer monótonas.
  • depende do teu estado de espírito: compreendes ou não compreendes, e compreendas ou não, eis o que é.
  • sem limites mas apropriadamente descrito como esfera.
  • se não houvesse a verdade como se poderia deformá-la? ;)
  • frio celeste, lume terrestre, vinho e petisco com amigas...
  • o prazer do inverno reside no lume.
  • no lar.
  • vocação de gata borralheira...
  • sonhos...
  • esquecimento
  • de todas as coisas do mundo quem pode julgar quais as que devem e as que não devem existir?
  • de toda a diversidade quem pode seleccionar o que é e não é legal?
  • (tenho aqui a sençação que a leitura brasileira e portuguesa da última frase vai divergir bastante)
  • acredita em ti, tu sabes.
  • e o que tu sabes não é o mesmo que outra pessoa sabe e é por isso que sois diferentes, para que vos possais reconhecer uns aos outros
  • e mesmo assim vós confundis o avô com o neto, os primos e os irmãos
  • trocais os nomes uns aos outros, não sabeis já o que queríeis quando iniciastes o caminho.
  • vamos às cegas, não vemos, vamos de costas voltadas para a fé, percorrendo a área das nossas crenças, raízes imaginárias de um ser equivocado.
  • auto-limitado para sentir algum poder.
  • por mínimo que seja:
  • eu fui fonte e origem disto ou daquilo...
  • engraçado, não é?
  • como se a fonte dissesse de si: nenhum manancial me alimenta escondido aos vossos olhos...
  • flutuam as nuvens no céu e as ideias também se evaporam e chovem.
  • por fim estás tão entretida que nem percebes quando acaba uma brincadeira e começa outra
  • não há fronteiras senão imaginárias, por mais que se materializem, sempre se esboroam sem se dar por nada

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Sonetos dos Portugueses"

Em 1845/6 Elizabeth Barrett Browning escrevia sonetos àquele que viria a ser o seu marido, mas não lhos deu a conhecer senão três anos depois de casarem. O marido achou que deviam ser publicados e ela, para os disfarçar, sugeriu que fossem apresentados como traduções de bósnio, mas ele preferiu chamar-lhes "Sonetos dos Portugueses" porque ela admirava Camões e já tinha publicado o poema "Catarina a Camões".

Em "A Garganta da Serpente" podem ler-se traduções de alguns Sonetos, feitas por Sérgio Duarte e Manuel Bandeira, assim como a tradução de "Catarina a Camões" feita por Fernando Pessoa.

A imagem veio daqui.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

David e Betsabé

Pintura de Jean Bourdichon (1457-1521) no Livro de Horas de Luís XII

Banho de Betsabé

França

1498/9

Bíblia, Antigo Testamento

2.º livro de Samuel

11 David e Betsabé

1 No ano seguinte, na época em que os reis saem para a guerra, David enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel; eles devastaram a terra dos amonitas e sitiaram Rabá. David ficou em Jerusalém.

2 E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa.

3 David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita.

4 Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa.

5 E, vendo que concebera, mandou dizer a David: «Estou grávida.»

6 Então, David mandou esta mensagem a Joab: «Manda-me Urias, o hitita.» E Joab enviou Urias, o hitita, a David.

7 Quando Urias chegou, David pediu-lhe notícias de Joab, do exército e da guerra.

8 E depois disse-lhe: «Desce à tua casa e lava os teus pés.» Urias saiu do palácio do rei, e este, em seguida, enviou-lhe comida da sua mesa real.

9 Mas Urias não foi a sua casa e dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu senhor.

10 E contaram-no a David, dizendo-lhe: «Urias não foi a sua casa.» David perguntou a Urias: «Não voltaste, porventura, de uma viagem? Porque não foste a tua casa?»

11 Urias respondeu: «A Arca de Deus habita numa tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus servos dormem ao relento, e eu teria coragem de entrar na minha casa para comer e beber e dormir com a minha mulher? Pela tua vida, pela tua própria vida, não farei tal coisa!»

12 David disse-lhe: «Fica aqui também hoje, e amanhã te enviarei.» E Urias ficou em Jerusalém naquele dia. No dia seguinte,

13 David convidou-o a comer e beber com ele, e embriagou-o. Mas à noite, Urias não foi a sua casa; saiu e deitou-se com os outros servos do seu senhor.

14 No dia seguinte de manhã, David escreveu uma carta a Joab e enviou-lha por Urias.

15 Dizia nela: «Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.»

16 Joab, que sitiava a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que estavam os mais valentes guerreiros do inimigo.

17 Os assediados fizeram uma surtida contra Joab, e morreram alguns homens de David, entre os quais Urias, o hitita.

18 Joab mandou imediatamente informar David de todas as peripécias do combate,

19 ordenando ao mensageiro: «Quando tiveres contado ao rei todos os pormenores do combate,

20 se ele, indignado, te disser: 'Porque vos aproximastes da cidade para lutar? Não sabíeis que iam disparar do alto da muralha?

21 Quem matou Abimélec, filho de Jerubaal? Não foi uma mulher que lhe atirou uma pedra de moinho de cima do muro, matando-o em Tebes? Porque vos aproximastes dos muros?' - dirás, então: 'Morreu também o teu servo Urias, o hitita.'»

22 Partiu, pois, o mensageiro e foi contar a David tudo o que Joab lhe havia mandado.

23 Disse-lhe: «Esses homens são mais fortes que nós. Saíram ao nosso encontro em campo aberto, mas nós perseguimo-los até às portas da cidade.

24 Então, do alto da muralha, os arqueiros dispararam sobre os teus servos, e morreram alguns servos do rei, entre eles o teu servo Urias, o hitita.»

25 Então o rei respondeu ao mensageiro: «Diz a Joab que não se aflija por causa deste fracasso, pois a espada fere ora aqui, ora ali. Que intensifique o ataque à cidade até a destruir. Encoraja-o.»

26 Ao saber da morte de seu marido, a mulher de Urias chorou-o.

27 Terminados os dias de luto, David mandou-a buscar e recolheu-a em sua casa. Tomou-a por esposa e ela deu-lhe um filho. Mas o procedimento de David desagradou ao SENHOR.

12 Censuras de Natan a David. Nascimento de Salomão

1 O SENHOR enviou então Natan a David. Logo que entrou no palácio, Natan disse-lhe: «Dois homens viviam na mesma cidade, um rico e outro pobre.

2 O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade;

3 o pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha.

4 Certo dia, chegou um hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ovelhas nem nos seus bois para preparar o banquete e dar de comer ao hóspede que chegara; mas foi apoderar-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o seu hóspede.»

5 David, indignado contra tal homem, disse a Natan: «Pelo DEUS vivo! O homem que fez isso merece a morte.

6 Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão.»

7 Natan disse a David: «Esse homem és tu! Isto diz o SENHOR, Deus de Israel: 'Ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos de Saul,

8 dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mulheres nos teus braços. Confiei-te os reinos de Israel e de Judá e, se isto te parecer pouco, ajuntarei outros favores.

9 Porque desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que lhe desagrada? Feriste com a espada Urias, o hitita, para fazer da sua mulher tua esposa. Foste tu quem o matou por meio da espada dos amonitas!

10 Por isso, jamais se afastará a espada da tua casa, porque me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o hitita, para fazer dela tua esposa'.

11 Eis, pois, o que diz o SENHOR: 'Vou fazer sair da tua própria casa males contra ti. Tomarei as tuas mulheres diante dos teus olhos e hei-de dá-las a outro, que dormirá com elas à luz do Sol!

12 Pois tu pecaste ocultamente; mas Eu farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do dia!'»

13 David disse a Natan: «Pequei contra o SENHOR.» Natan respondeu-lhe: «O SENHOR perdoou o teu pecado. Não morrerás.

14 Todavia, como ofendeste gravemente o SENHOR com a acção que fizeste, morrerá certamente o filho que te nasceu.»

15 E Natan voltou para sua casa.O SENHOR feriu o menino que a mulher de Urias havia dado a David com uma doença grave.

16 David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite prostrado por terra.

17 Os anciãos da sua casa, de pé junto dele, pediam-lhe que se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento algum.

18 Ao sétimo dia, morreu o menino, e os servos do rei temiam dar-lhe a notícia da morte do menino, pois diziam: «Quando o menino ainda vivia, falávamos-lhe, e ele não nos queria ouvir; como vamos dizer-lhe agora que o menino morreu? Pode cometer uma loucura!»

19 David notou que os servos segredavam entre si e compreendeu que o menino morrera. Perguntou-lhes: «O menino já morreu?» Responderam-lhe: «Morreu.»

20 Então, David levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do SENHOR para o adorar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refeição e comeu.

21 Os seus servos disseram-lhe: «Que fazes? Quando o menino ainda vivia, jejuavas e choravas; agora que morreu, levantas-te e comes!»

22 David respondeu: «Quando o menino ainda vivia, eu jejuava e orava, pensando: 'Quem sabe se o SENHOR terá pena de mim e me curará o menino?'

23 Mas agora que morreu, para que hei-de jejuar mais? Posso, porventura, fazê-lo voltar à vida? Eu irei para junto dele; ele, porém, não voltará mais para junto de mim.»

24 David consolou Betsabé, sua mulher. Procurou-a e dormiu com ela. Ela ficou grávida e deu à luz um filho, ao qual David pôs o nome de Salomão. O SENHOR amou-o

25 e ordenou ao profeta Natan que lhe desse o sobrenome de Jedidias que significa «amado do SENHOR.»

Salmos 51

51 (50) PRECE DE UM CORAÇÃO CONTRITO (MISERERE)

Salmo individual de súplica. Tradicionalmente é conhecido como o "Miserere", palavra com a qual começa, na sua tradução latina, a Vulgata. É o salmo mais conhecido sobre o arrependimento. Dado tratar do arrependimento pelo pecado, pertence ao número dos "salmos penitenciais".

1 Ao director do coro. Salmo de David

2 Quando o profeta Natan foi ao seu encontro, depois do adultério com Betsabé.

3 Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade; pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.

4 Lava-me de toda a iniquidade; purifica-me dos meus delitos.

5 Reconheço as minhas culpas e tenho sempre diante de mim os meus pecados.

6 Contra ti pequei, só contra ti, fiz o mal diante dos teus olhos; por isso é justa a tua sentença e recto o teu julgamento.

7 Eis que nasci na culpa e a minha mãe concebeu-me em pecado.

8 Tu aprecias a verdade no íntimo do ser e ensinas-me a sabedoria no íntimo da alma.

9 Purifica-me com o hissope e ficarei puro, lava-me e ficarei mais branco do que a neve.

10 Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria e exultem estes ossos que trituraste.

11 Desvia o teu rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas culpas.

12 Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito.

13 Não me afastes da tua presença, nem me prives do teu santo espírito!

14 Dá-me de novo a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito generoso.

15 Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos e os pecadores hão-de voltar para ti.

16 Ó Deus, meu salvador, livra-me do crime de sangue, e a minha língua anunciará a tua justiça.

17 Abre, Senhor, os meus lábios, para que a minha boca possa anunciar o teu louvor.

18 Não te comprazes nos sacrifícios nem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça.

19 O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito; ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

hoje não há luar

Mesmo que o céu não estivesse todo enublado, como está, hoje não haveria luar. É noite de Lua Nova. Noite escura. Fim e início de um mês lunar. Amanhã começa um novo mês de inverno. Na noite do solstício a Lua vai estar em crescente, haverá luar durante o início da noite, mesmo que o céu esteja nublado. Também haverá luar na noite de Natal.

A imagem veio daqui

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Magia Selvagem

Com ledo rosto e coração festivo,

Seguindo o atalho do regato à beira,

Entro às vezes na selva que peneira

Orvalho e sol, como um dourado crivo.

.

Fronte ensombrada, aspecto pensativo

De árvores mil, abóbada altaneira

De entrançados festões, - estranho e vivo

Templo, arcadas de lucida madeira;

.

Pássaros, flôres, pétalas ungidas

De orvalho, errantes plumas coloridas,

Rios, penhascos, sol esplendoroso,

.

Claros de céus radiando em flóreo prisma...

Tudo, ajoelhado e trémulo, me abisma,

Cego de assombro e extático de gôso.

.

Alberto de Oliveira

in O Livro da Festa da Árvore, Livraria Figueirinhas, Imprensa Civilização, Porto, 1916

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ir de viagem

gosto de viajar mas não de fazer a mala e todos os pretextos são bons para adiar mais um bocadinho - até fazer um post no blog...

e andar à procura de uma foto no google... amanhã, em imaginação, vou estar assim quando saír de casa

a mala com rodinhas é parecida! ;)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

халва

Descobri a halva (julgo que se lê kalvá) há alguns anos, numa loja russa em Liège, na Bélgica. A senhora da loja quase não falava francês e eu não falo russo. Fiquei surpreendida com o aspecto deste alimento e julguei que fosse necessário cozinhá-lo de algum modo mas a senhora disse-me que não, que era para comer assim mesmo e eu experimentei. É doce e tem uma consistência única, tal como é único o seu aspecto.

Ultimamente surgiram lojas russas também em Portugal. Fiz a surpresa de levar halva para a sobremesa, num jantar em casa de uma amiga, e a cara que os filhos dela fizeram quando a viram fez-nos rir com muito gosto! É cinzenta e mais ou menos do tamanho de um pão de forma mas não é necessário comprar inteira, compra-se a quantidade que se quer. Também há em caixas de plástico, mas gosto mais desta a vulso.

sábado, 28 de novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

entregar o nome à censura do publico

Dedicatória de "Novos Contos de Fadas" (1857) primeiro livro publicado pela Condessa de Ségur:

A MINHAS NETAS

CAMILA E MADALENA DE MALARET

Aqui tendes os contos que tanto vos distraíram e que vos prometi publicar.

Quando os lerdes, queridas netas, lembrai-vos da avozinha que, para vos ser agradável, saiu da sua obscuridade e entregou à censura do público o nome da

CONDESSA DE SÉGUR

(Rostopchine)

A capa é de Marcel Marlier, o ilustrador belga.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

o corpo insurrecto

Sendo com o seu ouro, aurífero,

o corpo é insurrecto.

Consome-se, combustível,

no sexo, boca e recto.

Luísa Neto Jorge, Terra Imóvel, 1964

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

a arca de Fernando Pessoa

Acabo de descobrir que a arca com os poemas de Fernando Pessoa e heterónimos está na net: carregue aqui!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

o sonho de um gozo / no gozo não é sonho

Cada momento que a um prazer não voto

Perco, nem curo se o prazer me é dado,

Porque o sonho de um gozo

No gozo não é sonho.

Ricardo Reis

in Silva Bélkior, Texto Crítico das Odes de Fernando Pessoa - Ricardo Reis, p. 264, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1988

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

a paixão de ler

ler grandes textos no écran do computador torna a leitura difícil e desagradável e por isso dificilmente teria acreditado que havia de ler 264 páginas tão de seguida quanto possível e lamentando amargamente cada interrupção - mas a capacidade de me surpreender a mim mesma continua a existir.

o que me fez perder a cabeça de tal maneira que praticamente tudo o mais deixou de existir, foi "o sol da meia noite" escrito por Stephenie Meyer.

ela andava a escrever o texto para vir a ser um livro mas alguém o publicou na internet sem o seu consentimento e a partir de então ela resolveu pô-lo no seu próprio site, para que os leitores não se sentissem mal de o lerem noutros, e desistiu de continuar a escrever "o sol da meia noite" - o que lá está é o que há e ela diz que não vai haver mais, nem vai haver livro.

está em inglês e deixo aqui o link, sem mais comentários.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

a paixão pelos livros

As pessoas que gostam de livros devem trabalhar em bibliotecas? As pessoas que trabalham em bibliotecas não devem gostar de ler? Tentamos descobrir a verdade e traduzi-la em frases, mas ela não se deixa apanhar, nem se importa com o que dizemos.

O maior ladrão de livros terá sido o conde italiano Guglielmo Libri (1803-1869) e "libri" quer dizer "livros" em italiano, mas era um dos seus nomes de família e não uma alcunha.

Excelente matemático, Guglielmo Libri estudou na universidade de Pisa onde foi nomeado professor aos 20 anos. Provavelmente não gostou de ensinar porque no ano seguinte pediu uma licença sabática e foi para Paris.

Escreveu uma história matemática para a qual se apropriou de livros e manuscritos de Galileu, Fermat, Descartes e Leibniz na Biblioteca de Florença.

Em França foi nomeado inspector das Bibliotecas Públicas e terá levado mais de trinta mil livros consigo quando fugiu para Inglaterra antes que o prendessem.

Membro da Academia das Ciências Francesa e detentor de uma Legião de Honra imagina-se que o processo não tenha sido simples.

Depois da sua morte a maioria dos livros voltou para as Bibliotecas de onde os tinha levado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

simplificar a linguagem: Toki Pona

Toki Pona = linguagem simples ou linguagem boa, foi criada para dizer o máximo usando o mínimo: 123 palavras e 14 sons.

Toki Pona baseia-se na tradição espontânea de criar uma língua comum por pessoas que falam línguas diferentes.

Foca-se nos elementos universais da vida: pessoa, comida, água, bom, dar, dormir, ... e elimina todos os conceitos que ultrapassem as necessidaes básicas de sobrevivência e comunicação.

O conceito fundamental é Pona = bom, simples.

É uma linguagem que em vez de desligar da experiência directa através de conceitos abstratos e complexos, religa o falar ao ambiente em que ocorre, ao agora da comunicação.

As suas 123 palavras têm origens muito diversas.

sábado, 14 de novembro de 2009

ler muitos livros

"Era uma sensação estranha - não surpreendente, supunha, porque agora tudo me parecia estranho - sentir-me natural em alguma coisa. Como humana, nunca fora a melhor em coisa alguma. (...) Nunca ninguém me atribuíra um prémio por ler muitos livros. Ao fim de dezoito anos de mediocridade, estava mais do que habituada a ser uma criatura mediana. Agora apercebi-me de que pusera de lado, há muito tempo, a aspiração a ser brilhante em algo. Limitara-me a fazer o melhor que podia, com o que tinha e sem nunca me adaptar totalmente ao meu mundo."

Stephenie Meyer, Amanhecer, p. 522, Gailivro, Alfragide, 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

por aí fora...

  • as percepções e as ideias fluem, relacionam-se intimamente. acontecimentos reais e (i)maginários concatenam-se numa realidade bem mais vasta que aquela à qual achámos por bem reduzir-nos e que convém, sobretudo, às mentes circunscritas e quanto mais se circunscrevem. e, no entanto, todos participamos de uma realidade absolutamente vasta e inextinguível. da qual ignoramos tudo excepto que é dela que provimos, é nela que vivemos e a ela que regressamos. nada desconhece, porque tudo lhe pertence. chamamos-lhe natureza, mas alguns seres destacam-se no nosso sentimento de... há palavras para isto noutras línguas que nos provocam o mesmo sentimento. as palavras são poderosos acontecimentos. acontecimentos poderosos. completamente fluídas, fluem sem deixar rasto, ou deixando-o demasiado profundo na paisagem mental. roubam-se palavras, aqui e ali, deformam-se, são postas a dizer o que não dizem e mil e um outros jogos de linguagem.
  • para quê? porque vivemos aí. a realidade é tão, oh, mais vasta, sem limites, nem que a possas saber infinita ou finita. nenhumas palavras lhe convêm porque é dela que todas provêm e nela que são esquecidas. este útero infinito, de onde provimos já no para cá. para cá de algo que não deixámos de saber e nos proporciona acesso a linguagens tão variadas quantas se podem imaginar.
  • uma boa história é a que nos transporta, não apenas sem esforço mas com deliciosa e profunda antecipação. o medo é profundo mas ela é mais profunda ainda e muito, muito mais vasta, porque o contém. a ferocidade existe. mas é ela que a produz. o sentimento de reverência, a reverência profunda é também ela que a produz. nada desconhece, nada retém e tudo regressa como se fosse para a frente. que sabemos nós de frente e verso do universo? que é e ainda não é tão vasto como ela, a fonte de toda a luz e todas as trevas.
  • chama-lhe andar. chama-lhe caminho. eis que descobres o fundamental? é provável que a tua mente se abra, vá abrindo, como a flor que pode vir a ser fruto, semente, árvore que se eleva sobre os muros ou cresce em densas e vastas assembleias que inspiraram os pilares com que construímos não tão vastos abrigos comunitários.
  • das florestas viemos, fomo-las destruindo, primeiro devagarinho, elas não tinham fronteiras, era tudo floresta, excepto onde secava em vastos desertos, se humedecia em mares ou gelos... infinitas maravilhas. rios onde o ouro brilhava.
  • as nossas histórias são todas sagradas, sobretudo as profanas. escatologia e sublime brotam do mesmo chão. chão, água, água, chão. navegar em mares sem fim, encalhar em canais estreitos, tudo é navegar.
  • voar em sonhos faz parte da vida. tudo faz parte da vida, no lado de cá, e brota do lado de lá e lá existe e lá deixa ou não deixa marcas visíveis e invisíveis, e para lá regressa.
  • palavras que criam, destroem, matam, ou amparam, confortam, maravilham. palavras para tudo o que nos conseguirmos lembrar, tudo o que nos ocorrer e conforme ocorre. o país das maravilhas não é ainda suficientemente onírico. limita-se a subverter a lógica, não a libertar-se dela. a lógica é uma grelha, uma estrutura, um esqueleto. e tudo se resume aí, esquecendo que as maravilhas da carne, como as suas podridões, não são mais nem menos reais. tudo é real de maneiras diferentes. mil e uma é ainda uma metáfora para o que não vale a pena contar, a areia no deserto, as estrelas no céu, os brilhos do mar.
  • os campos de gelo, os pântanos intermináveis, tudo é real.
  • mas as tuas crenças limitam-te. não sabes interpretar o canto dos pássaros, nem a direcção do vento, não conheces o perigo eminente da caçada. desdobras-te em eu e tu, em ti e ele, em ti e ela, em nós, em vós, e neles. Nós, escondido, no meio, é o mais vasto. Aqui, lá, além e mais além. "até onde levar a força humana".

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Louvor da Srª Conceição

Com fermento e água

e com as mãos

fecundava a farinha.

Os punhos

cavavam, possuíam

a massa borbulhante

e ainda amarga.

Por fim

antes do fogo

cobria os filhos que fizera.

António Osório, A Raiz Afectuosa, 1965-1971

in António Osório por Eduardo Lourenço, p.54, Presença, Lisboa, 1984

A fotografia veio daqui, onde se podem ver fotografias recentes e antigas de Dogueno, um monte alentejano perto de Almodôvar.

domingo, 8 de novembro de 2009

aqui é domingo

são cinco da tarde, está de chuva e é quase de noite, que bom!

estamos tão habituados ao domingo que nem reparamos que é uma convenção, que a natureza não tem domingos, nem a maior parte das culturas

a globalização do domingo é recente, ainda há muitos lugares no mundo onde não é domingo mas onde as pessoas sabem exactamente qual é o dia lunar - a imagem é do calendário hindu

qual de nós sabe qual é hoje a fase da lua?

o domingo é o herdeiro cristão do sábado judaico: "o Criador descansou no sétimo dia"

os muçulmanos respeitam a sexta-feira pelo mesmo motivo e devido à mesma herança

os chineses e japoneses tinham e têm divisões do mês de dez dias

aos 30 anos escrevia assim

Se pudesses assegurar-me

cada vez que me sinto insegura!

Amparar-me a cada

amargura! Embalar-me quando

choro... Retomar-me cada vez

que fujo! Chamar-me quando

ensurdeço. Amar-me

quando me enamoro. Amar-me

cada vez que me esqueço!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A história de =

Até ao séc. XVI era preciso escrever sempre "é igual a" na língua vernácula ou em latim "aequalis" ou a sua abreviatura "ae".

No séc. XVI alguns matemáticos lembraram-se de criar um símbolo. Usaram primeiro duas rectas verticais.

Robert Recorde escreveu no seu livro "The Whetstone of Witte" (a pedra de afiar do espírito), que foi publicado em 1557: "para evitar a entediante repetição destas palavras: é igual a: estabelecerei, como faço habitualmente no meu trabalho, um par de paralelas ou linhas gémeas da mesma largura, isto é: =, porque não há nada que possa ser mais igual que duas linhas"

terça-feira, 3 de novembro de 2009

as pessoas cheias de vontade

Ocupam-te a mente. Não te permitem saber quem és, obrigam-te a ser o que elas querem. Se lhes obedeces ficas em dívida, se não obedeces castigam-te. Desprezam-te ou lisonjeiam-te conforme lhes convém, enganam-te com mentiras e verdades. Se te deixas enganar escravizam-te, se não te deixas enganar vingam-se. A felicidade delas depende da tua dependência. Ensinam-te a agradecer quando não te maltratam. As pessoas cheias de vontade são muito susceptíveis: ofendem-se facilmente, facilmente caluniam, mas também te perdoam se reconheceres os teus erros: precisam sempre de escravos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

o esquecimento das sensações

Os acontecimentos são fáceis de recordar, mas o mesmo não se passa com as sensações que os mesmos acontecimentos nos causaram. Tudo quanto sei é que, à medida que estes acontecimentos se produziam, parecia-me que a natureza humana era incapaz de suportar uma dor maior.

Edgar Allan Poe (1838), Aventuras de Arthur Gordon Pym, p.145, Estampa, Lisboa, 1988

sábado, 31 de outubro de 2009

comer e brincar

牛車水 佛牙寺 Originally uploaded by Prometheus1021

As preferências do divino

Um sacerdote passava frente a uma humilde aldeia. Ouviu uns risos alvoroçados e aproximou-se para ver a que se deviam. Havia uma mãe a dar de comer aos seus quatro filhos, mas o que surpreendeu o sacerdote foi ver que também dava de comer a uma imagem da divindade. O sacerdote irritou-se e gritou: «Mulher blasfema, como te atreves a brincar com a imagem de Deus?» Pegou na imagem e levou-a. Não podia permitir que fizessem dela um brinquedo. As crianças ficaram muito tristes e a mulher envergonhada. O sacerdote colocou a imagem sagrada no templo. Essa noite, em sonhos, Deus apareceu-lhe e disse: «Insensato! Quem te manda meter o nariz onde não és chamado? Não aceitarei nenhum sacrifício nem qualquer oferenda dos sacerdotes, porque onde eu era realmente feliz era naquela casa, com aqueles meninos. Portanto, assim que acordares amanhã, leva-me a eles. O templo é escuro e triste.»

Ramiro Calle, Os melhores contos espirituais do oriente, p. 63, A esfera dos livros, Lisboa, 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

o futuro atrás das costas

atirámos o Futuro para trás das costas e afundámo-nos tranquilamente no Presente, disfarçando em sonhos o néscio mundo que nos rodeava.

Edgar Allan Poe (1842), O Mistério de Maria Roget, p. 10, Relógio d'Água, Lisboa, 1988

Frase original: "we gave the Future to the winds and slumbered tranquilly in the Present, weaving the dull world around us into dreams."

As pessoas dos Andes que falam a língua Aymara apontam para trás de si quando falam do futuro. A palavra futuro é "qhipa" que quer dizer atrás ou nas costas. Pelo contrário apontam para a frente quando falam do passado e a palavra é "nayra" que quer dizer olho, à vista ou à frente.

O futuro não se vê, mas o passado está à vista.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

homens e passarinhos

Fui ao café à hora de almoço e ouvi contar esta história que se passou cá:

Andava um homem no campo a montar uma rede para caçar passarinhos, veio a guarda, prendeu-o e levou-o ao tribunal.

Ele disse ao juiz:

-Aqui há uns anos obrigaram-me a ir para África matar pessoas que eu nem sequer conhecia! Agora estava a apanhar passarinhos para dar de comer aos meus filhos e prendem-me!?

O juiz libertou-o.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

a neve ladroa

Não era desta neve que doba mansa do céu e parece, bailando, o esflorar das pereiras na Primavera; era a neve ladroa - como para aí lhe chamam - a neve das moscas brancas que voltejam, giram, rodopiam, vêm de trás, de diante, de baixo, dos lados, metem-se por todas as fisgas e grelhas à busca de coiro vivo em que ferrar. Soprava-lhes o nordeste, o grande bufador, e era vê-las de asas ligeiras, enchendo o céu, a voar, a voar umas atrás das outras, ora muito juntas, ora desenrodilhadas, num vira sem fim.

Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas, p. 94, Bertrand Editora, 1985

terça-feira, 20 de outubro de 2009

a maior felicidade

Conversando a sós contigo,

Desfruto o prazer imenso

De não pensar no que digo

E de dizer o que penso.

.

E mais uma vez

Afirmo

Sem receio que seja desmentido:

- A maior felicidade

É ser-se compreendido.

.

António Botto, As canções de António Botto, p. 100, Edições Ática, Lisboa, 1975

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

mel de azinho

Comprei mel de azinho a um apicultor que me explicou que no Outono de 2007 choveu muito e houve tempestades que derrubaram ramos das Azinheiras. Onde os ramos se partiram escorreu a seiva, que é doce, e as abelhas fizeram com ela um mel muito escuro, quase preto, que foi o que eu comprei.

A fotografia fui buscá-la ao blog A Sombra Verde.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

o que te surpreende?

O Talmud conta a história de um imperador romano que condenou os judeus à morte. Ele interpelou um dos sábios, antes de o entregar ao carrasco, e perguntou-lhe:

-Não compreendo como os judeus podem acreditar na ressurreição dos mortos.

Foi a filha mais nova do sábio que respondeu em seu lugar. Ela disse ao romano:

-Tu não existias no passado e agora existes. Isso não te espanta, mas a mim intriga-me a cada instante. Hoje existes e espanta-te que um dia possas voltar a existir? Pois a mim não me surpreende.

Documentário "Talmud" escrito e realizado por Pierre-Henry Salfati, ARTE, 2006

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Formigas com asas

Todos os anos por esta altura aparecem formigas com asas e são muitas. Lembro-me de ter aprendido quando era criança que os homens e os rapazes as apanhavam e punham como isco nas armadilhas para caçar passarinhos. Julgo lembrar-me que lhes chamavam aguídas (leia-se também o "u"). Os passarinhos comiam-se.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

a idade do avô

-O teu avô é diferente dos teus pais?

-É.

-Em quê?

-No cabelo. O cabelo dele é cinzento.

-O teu avô é velho?

-É.

-Quantos anos tem?

-Não sei. (Grande pausa) Talvez 14.

Diálogo com uma menina de três anos no documentário "The grandparent diaries" de Jo Abel.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

arco-íris transformado em pedra

Arco-íris transformado em pedra (Nonnezoshe) é o nome que os índios Paiute e Navajo deram a esta ponte natural e sagrada. Os índios andam a tentar proteger a ponte do arco-íris e já conseguiram que o Serviço de Parques Nacionais dos EUA apele aos turistas para que se aproximem com respeito religioso.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

as leis do seu ser

Não cabe ao homem colocar-se em oposição à sociedade, mas manter-se em atitude compatível com as leis do seu ser, que não estarão em oposição às leis governamentais se ele tiver a sorte de se defrontar com um governo justo.

Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, p. 350, Antígona, Lisboa, 1999

Desenho a lápis de Henry David Thoreau feito por Samuel Worcester Rouse em 1854

terça-feira, 29 de setembro de 2009

sabemos dormir

Fomos educados para acreditar que a ciência explica tudo mas duvidamos, de modo que pocuramos aquilo que a ciência não explica com um misto de esperança e desespero. De facto o que a ciência não explica são coisas muito simples, por exemplo: porque é que queremos ou não queremos acreditar que a ciência explica tudo... :)

O assunto deste post não é esse, o assunto deste post é "dormir". Toda a gente dorme, os animais dormem, as plantas... nem sequer acordam? Que sabemos nós?

Sabemos dormir.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

banksia

Banksia pode ser desde um arbusto rasteiro e até meio enterrado, a uma árvore, as maiores das quais chegam a atingir 30 metros. As banksias vivem na Austrália e produzem flores muito grandes e coloridas cheias de néctar do qual se alimentam insectos, aves e mamíferos. Alguns insectos depositam os ovos nas Banksias e as larvas também são muito apreciadas pelas aves e mamíferos.

Foi chamada Banksia porque o botânico da primeira expedição de James Cook, em 1770, se chamava Sir Joseph Banks e foi o primeiro ocidental a estudá-la e descrevê-la.

Naturalmente os aborígenes australianos conhecem-na há milhares de anos por outros nomes. Com água e banksias produzem bebidas doces.

A árvore foi pintada por Margaret Preston em 1939: velha árvore banksia no final da floração na propriedade dos Preston em Berowra.

O desenho botânico não está identificado.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

o que as mulheres realmente querem

Um dia o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda foram à caça na floresta de Inglewood mas, com o entusiasmo da caçada, o Rei Artur afastou-se dos companheiros e acabou por se perder na floresta. De repente descobriu que o seu corpo estava completamente congelado e não conseguia mover um músculo. Um cavaleiro com uma armadura toda negra aproximou-se e disse:

"Artur, estás em meu poder. Deste injustamente as minhas terras a Sir Gawain e por isso vais morrer, a não ser que descubras a resposta a uma pergunta que te vou fazer."

Artur descobriu que podia falar e perguntou: "Quem és tu e que pergunta é essa?"

"Eu sou Gromer Somer Joure [O Homem do Meio Dia]. Se quiseres salvar a tua vida tens doze meses para me trazer a resposta a esta pergunta: O que é que as mulheres realmente querem?" Repentinamente, assim como tinha aparecido, desapareceu e o Rei Artur descobriu que já se podia mover.

Voltou para a sua corte com o coração pesado. A única pessoa que lhe perguntou porque estava perturbado foi Sir Gawain e o Rei Artur contou-lhe o que tinha acontecido na floresta. Sir Gawain propôs que perguntassem a todas as mulheres o que é que elas mais desejavam e que recolhessem as respostas num livro. Fizeram isso e as respostas encheram um livro enorme mas nenhuma lhes parecia a verdadeira resposta.

Pouco antes do dia em que o Rei Artur tinha que ir ter com Gromer Somer Joure, montou no seu cavalo e embrenhou-se na floresta de Inglewood onde encontrou uma mulher terrivelmente feia e que além de parecer terrível, com ranho a pingar do nariz, orelhas de burro, e uma boca aberta com dentes amarelos, também cheirava muito mal. Ela parou ao pé do Rei Artur e disse que sabia a resposta certa e que podia salvar-lhe a vida, se ele concordasse com as condições dela. Dalguma maneira ela sabia o que se passava. Ele perguntou-lhe quais eram as condições e ela respondeu:

"Eu sou a Dama Ragnell e quero casar com um dos teus cavaleiros: Sir Gawain." O Rei Artur ficou horrorizado. Disse-lhe que não podia prometer-lhe Gawain sem o seu consentimento e que voltaria depois de falar com ele.

Sem hesitar, Gawain, o mais nobre dos cavaleiros, respondeu que casava com ela imediatamente, mesmo que ela fosse o diabo, se com isso salvava a vida de Artur. Artur voltou à floresta onde a Dama Ragnell estava à espera. Disse-lhe que Gawain concordava em se casar com ela, se a resposta dela fosse a certa, mas se fosse uma das outras que tinham recolhido não mantinha a promessa. Satisfeita com isto, ela deu a resposta a Artur.

No dia marcado, Artur montou para se encontrar com Gromer Somer Joure. Gromer apareceu de repente, como da primeira vez, exigindo a resposta à sua pergunta. Arthur deu-lhe o livro com as respostas que tinham recolhido. Gromer leu o livro, riu com um riso profundo, e disse a Artur que se preparasse para morrer.

Artur disse: "Espera, tenho mais uma resposta" e deu-lhe a resposta da Dama Ragnell. Gromer urrou de frustração! "Só a minha irmã é que te poderia ter dito isso! Que ela seja queimada no fogo do inferno pela sua traição! Vai-te embora Rei Artur, estás livre!"

Então, Arthur foi buscar a Dama Ragnell e levou-a para a corte. Quando a viu pela primeira vez Gawain pareceu atordoado, mas corajosamente consentiu casar-se com ela no dia seguinte. As damas da corte choraram ao saber que um cavaleiro tão valente e tão belo se ia casar com uma mulher tão hedionda e os cavaleiros estavam contentes por nenhum deles ter de se casar com ela.

Ragnell exigiu uma grande festa no castelo com todos os nobres presentes. Tinha o mais caro dos vestidos, mas as suas maneiras eram repelentes. Comeu grandes quantidades de alimentos com altos sorvos e arrotos e por vezes a comida escorria-lhe pelo queixo. Grande foi a pena que todos sentiram de Gawain naquele dia!

Quando a festa do casamento acabou o casal foi para a sua câmara. Lá, Gawain olhou para o fogo, relutante em tocar na sua noiva, até que ela lhe pediu um beijo. Corajosamente, ele deu-lho e encontrou uma mulher linda nos seus braços. Ficou atónito e estupefacto e, quando finalmente recuperou a fala, perguntou-lhe como podia isto ser. A dama disse a Gawain que o seu próprio irmão, o gigante Gromer Somer Jure, a tinha enfeitiçado e que o feitiço só poderia ser quebrado se o melhor cavaleiro do mundo tivesse a coragem de se casar com ela e dar-lhe um beijo.

"Tenho esperado com aquele aspecto até encontrar um homem suficientemente gentil para casar comigo. Agora podes escolher: eu posso ser bela de noite e feia de dia, ou feia de noite, e bela de dia. O que preferes?"

Gawain pensou um pouco, ponderando os acontecimentos que conduziram a este momento, e então ocorreu-lhe a resposta que devia dar.

"Eu não posso fazer essa escolha, decide tu."

Ela gritou de alegria, "Meu senhor, és tão sábio quanto és nobre e verdadeiro, já que me deste o que uma mulher realmente deseja: poder decidir à sua vontade. Nunca mais voltas a ver a velha bruxa horrenda, porque eu escolho ser sempre bela a partir deste momento. Descobriste a resposta para o enigma do meu irmão: o maior desejo de qualquer mulher é poder tomar as suas próprias decisões."

Assim, Gawain e a Dama Ragnell geraram Gyngolyn da Távola Redonda, um cavaleiro cheio de força e de bondade.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

um salgueiro jovem

Há um passeio que gosto de fazer: saio da vila por uma estrada e vou até onde se encontra com outra estrada que volta para a vila. Ambas são pequenas estradas secundárias quase sem trânsito. A mais pequena e menos frequentada está a ser atravessada por uma circunvalação que também vai destruir os restos de uma fortaleza de pedra cuja idade é calculada em cerca de 5.000 anos.

Hoje à hora de almoço fiz este passeio e reparei num salgueiro jovem muito bonito. O verde claro das folhas e dos ramos que caem era agitado pelo vento, fazia lembrar água. Uma videira trepa pelo tronco. As folhas da videira são maiores e mais escuras e fazem lembrar vinho.

É extraordinário: escolher palavras para dizer isto é um exercício difícil, o que fica dito é uma possibilidade entre muitas e nenhuma delas vos mostra o que eu vi.

Não tenho máquina fotográfica mas, se tivesse, nenhuma fotografia possível vos mostraria o movimento dos ramos e das folhas do salgueiro. Um filme poderia mostrar, mas em nenhum filme poderiam sentir o calor do Sol. Foi o calor do Sol que me chamou para este passeio.

Não sei a quem pertence o salgueiro, há-de pertencer a alguém, estava dentro de uma propriedade com muros.

A beleza do salgueiro, que se me revelou quando passei, ainda não tinha visto. Sim, eu passei e parei um pouco mais à frente à sombra de uma oliveira, que o Sol estava forte, para olhar um pouco mais para o salgueiro. Não era preciso. Revelou-me toda a sua beleza quando passei.

Estive a ver na net e creio que é salix babylonica, muito jovem. Talvez com o dobro da minha altura.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

um cavalo de várias cores

Reinaldo Ferreira foi a vibração excessiva e intensa de quem tinha pouco tempo para fazer o seu «voo cego a nada».

«Quero um cavalo de várias cores,

Quero-o depressa, que vou partir.

Esperam-me prados com tantas flores,

Que só cavalos de várias cores

Podem servir.

......

Deixem que eu parta, agora, já,

Antes que murchem todas as flores.

Tenho a loucura, sei o caminho,

Mas como posso partir sozinho

Sem um cavalo de várias cores?»

E foi ao mesmo tempo a contenção e o rigor seco, sem enfeites. Noutro dos seus poemas diz-nos:

«Se nunca disse que os teus dentes

São pérolas,

É porque são dentes.»

Esta juventude de fogo e este rigor colheu-os o vento cedo. A sua vida, meteórica, balizou-se entre 1922, quando nasceu em Barcelona e 1959, data da sua morte em Moçambique, com 37 anos! Sem tempo de rever e de publicar a sua obra, reunida e dada a lume por alguns amigos.

Luísa Dacosta, De mãos dadas, estrada fora... 3, pp. 115 e 116, Figueirinhas, Porto, 1980

terça-feira, 22 de setembro de 2009

entre o Sol e o Oceano

A andorinha-do-mar-árctica (Sterna paradisaea) é uma ave com uma esperança de vida de cerca de 30 anos. Viaja do verão do Pólo Norte, onde nasce, para o verão do Pólo Sul todos os anos. Demora cerca de três meses a fazer a viagem e nesta altura, com alguma sorte, pode ser avistada das costas portuguesas. No final do verão antárctico as andorinhas do mar regressam ao árctico. Percorrem assim cerca de 35.000 km por ano e são os seres que vivem mais tempo ao Sol. Vivem quase sempre no mar, excepto para fazer o ninho e criar os filhotes. Conhecem e são conhecidas em todos os oceanos da Terra.

No site Sila há uma enciclopédia sobre o Árctico, onde também se encontra informação sobre a andorinha-do-mar. Este site sobre o ambiente e a cultura Inuit é produzido pelos Inuit.

Sila é uma palavra intraduzível. Quer dizer, ao mesmo tempo, atmosfera, tempo e ambiente mas como unidade viva que integra, é dinâmica e interactiva. Esta tentativa de explicação está provavelmente ainda longe do que o povo Inuit entende por Sila...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

dons divinos

Hoje é dia de São Mateus. Estamos na época das colheitas e começam as feiras e mercados do outono. Perto do equinócio os dias e as noites duram sensivelmente o mesmo. No sábado comprámos à beira da estrada figos, castanhas, laranjas, vagens de feijões já não verdes e ainda não secos, tomates maduros. Esta é a época da cornucópia, da abundância.

São Mateus antes de ser discípulo de Jesus era cobrador de impostos: publicano. Abandonou o seu emprego bem remunerado para seguir o Mestre. Escreveu depois o evangelho que tem o seu nome. Mateus significa "dom de Deus".

A imagem é do Livro de Horas de Ana de Bretanha, pintado por Jehan Bourdichon e Jehan Poyet, em Tours no início do séc. XVI. Os Livros de Horas eram, ao mesmo tempo, calendários e livros de orações. Mais imagens deste livro aqui.

Lá de fora vem um cheirinho a marmelada...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

as regiões dos DVDs

Aprendi à minha custa que os DVDs estão regionalizados. Se comprarmos um DVD numa região que não seja a nossa o mais provável é que o leitor de DVDs não o consiga ler. Digo que aprendi à minha custa porque comprei dois DVDs da região 1, dos quais ainda tive que pagar direitos alfandegários, mais uma taxa à transportadora que foi mais que os direitos alfandegários e os direitos e a taxa foram muito mais que o preço dos DVDs, e agora o meu leitor de DVDs não os lê porque só lê DVDs da região 2. Aqui fica o mapa das regiões dos DVDs.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

arte agrícola

Em Inakadate, no Japão, plantam-se diferentes variedades de arroz de modo a criar desenhos que se vão tornando visíveis à medida que o arroz cresce e amadurece. No final do verão faz-se a colheita.

Começaram a fazer isto em 2002. A ideia pegou e agora há mais campos de arroz desenhados no Japão.

Mais fotografias aqui.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

o lago e o poço

É bom ter um pouco de água na vizinhança, a dar sustentação à terra e a fazê-la flutuar. O menor poço, quando olhamos para dentro dele, mostra-nos que a terra não é continente, mas insular.

Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, p. 104, Antígona, Lisboa, 1999

A tradução é da poetisa brasileira Astrid Cabral, adaptada ao português de Portugal por Júlio Henriques

Uma tradução alternativa da segunda frase seria: Dá-se muito valor mesmo ao mais pequeno poço porque quando olhamos para dentro dele vemos que a terra não é continente mas insular.

Walden é o nome do lago que inspirou esta reflexão.

O original (1854): It is well to have some water in your neighbourhood, to give buoyancy to and float the earth. One value even of the smallest well is that when you look into it you see that earth is not continent but insular.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

carbono camponês

As florestas, agrosilviculturas e agricultura de subsistência são sumidouros de carbono, de modo que as indústrias que poluem a atmosfera, como forma de compensação, subsidiam estas actividades. Esta imagem veio do blog de Douglas Sibbiondo e faço minhas as suas palavras: gosto da ideia mas, sobretudo, da imagem!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Revista "Fagulha"

No final dos anos 60 a minha mãe foi trabalhar para o Ministério da Educação. Eu passava o dia numa instituição para crianças ali ao lado mas a minha mãe levava o almoço e eu almoçava todos os dias na secretária dela. Àquela hora não estava lá mais ninguém.

No mesmo corredor, mais ao fundo, havia uma sala com prateleiras cheias de números atrasados da revista "Fagulha" para onde eu gostava de ir. Lembro-me que havia tantas revistas diferentes que nunca acabaria de as ler.

Quando a minha mãe voltou a dar aulas tornei-me assinante e recebia a revista pelo correio. A chegada da "Fagulha" era um grande acontecimento.

Aqui há tempos lembrei-me disto e procurei a "Fagulha" na net mas não encontrei nada.

Encontrei hoje. Fiquei a saber que era publicada pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa Feminina (julgava que era publicada pelo Ministério da Educação mas, claro, faz todo o sentido), que a Directora e Editora era Maria Alice Andrade Santos e que, naturalmente, deixou de ser publicada a seguir ao 25 de Abril. Dois anos antes tínhamos ido viver para Macau e nessa altura a minha mãe deve ter cancelado a assinatura.

Fiquei também a saber que era uma revista de Banda Desenhada. É claro que me lembro que tinha muitos desenhos mas a esta distância diria que era uma revista que tinha muitas histórias... :) Algumas eram em verso.

Deixo aqui esta capa desenhada por Guida Ottolini. É o nº 183, de 15-08-1965.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

uma enseada que se chama Portugal

Há uma enseada na Terra Nova, Canadá, que se chama Portugal.

No verão de 1857 William Grey fez uma viagem e uma série de esboços, entre os quais este, de Portugal Cove, onde ele já tinha estado, em 1850, a construir a casa paroquial.

Mais para Sul há outra enseada que também se chama Portugal: Portugal Cove South onde Gaspar Corte-Real terá deixado um padrão (?) em 1501.

Seja como for esta aldeia de pescadores (253 habitantes em 2001) parece ser muito interessante: foi aqui que chegou o apelo de socorro do Titanic e existem nas proximidades fósseis com mais de 500 milhões de anos. Além disso continuam a pescar e secar bacalhau. Lembro-me muito bem de quando o bacalhau vinha da Terra Nova e era pescado por portugueses.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Leviatã

Detalhe de um mapa ilustrado e manuscrito para a relação da viagem de Sir Francis Drake às Índias Ocidentais em 1589. A viagem foi realizada por uma frota de 23 navios. Neste mapa o Norte está à direita. Para ver o mapa completo carregue aqui (Biblioteca Digital Mundial). Para mais informações carregue aqui (American Memory, Biblioteca do Congresso, EUA)