Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Lua Cheia e o Solstício



Esta noite é a Lua Cheia mais próxima do Solstício de Dezembro.

Nesta altura do ano, a Norte do Círculo Polar Árctico, o Sol não nasce, permanece sempre abaixo do horizonte, mas a Lua Cheia não se põe, mantém-se sempre acima do horizonte.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

a bola de escrever

A primeira máquina de escrever comercializada foi inventada pelo dinamarquês Malling-Hansen que a patenteou em 1870.

Friedrich Nietzsche comprou uma e escreveu com ela o poema:

"A bola de escrever é uma coisa como eu: feita de ferro
porém entorta facilmente nas viagens.
Requer-se paciência e tacto em abundância
assim como dedos finos para nos usar."

no site do "museu virtual da máquina de escrever" - The Virtual Typewriter Museum - pode ver-se uma imagem em movimento de como era usada, carregar aqui

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

experimentar livrar-me da experiência

  • ontem tive frio, hoje vesti mais roupa e pensei que, se me visto conforme a experiência do dia anterior, só acertarei por acaso
  • o que me fez pensar que talvez não seja bom regular-me pela experiência
  • além disso, se nascemos sem experiência nenhuma e acumulamos experiência até morrer, se calhar é melhor não acumular experiência e mantermo-nos o mais próximo possível do estado de recém-nascido 
  • em vez de experiência podia dizer conhecimento
  • também podia não tentar pôr em palavras o que me ocorre mas como é isso que faço quase sempre de vez em quando tento, para variar :)


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Goethe citou Sampayo

Em 1787 um português, Diogo de Carvalho e Sampayo, publicou o livro "Tratado das Cores" na ilha de Malta. Publicou depois em Lisboa e Madrid dois outros livros sobre o mesmo assunto e ainda um quarto "Memória".
Em 1810 Goethe publicou "Zur Farbenlehre" onde cita todos estes livros.
Ler aqui: "As cores, Sampayo e Goethe"

A imagem é a capa do livro de Rui Graça Feijó, "O Sistema das Cores de Diogo de Carvalho e Sampayo" publicado em 2008

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Gruta de Tétis em Versalhes, gravura de Jean Le Pautre. Ao centro "Apolo e as Ninfas", escultura em mármore de François Girardon (1628 - 1715). 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma mente que seja amiga

DEUS PERGUNTA

Deus convocou quatro almas prontas a reencarnar e dirigiu-se a elas para lhes perguntar:
-Muito bem, minhas amigas, o que desejam para a vossa próxima existência terrena?
Uma das almas apressou-se a dizer:
-Quero nascer numa família muito rica, e poder assim dispor, toda a minha vida, de uma enorme fortuna e entregar-me a toda a classe de prazeres.
Outra das almas solicitou:
-Desejo ter a possibilidade de viajar constantemente, conhecer os lugares mais belos da Terra, as suas gentes e os seus costumes.
A terceira alma declarou:
-Senhor, quero ser uma pessoa muito poderosa. Anseio ser reconhecida por todo o mundo. Quero ser famosa e influente e, sim, ter muito, muito poder.
Mas havia uma alma que ainda não se tinha pronunciado. Fez-se um silêncio cósmico, sem tempo, indefinido. Deus olhou nos olhos daquela alma que ainda não se tinha expressado. Finalmente esta disse:
-Senhor, não quero nada de especial. Nem desejo ser rica para viajar constantemente nem ter fama e influências. Nada disso eu quero.
As outras três almas, surpreendidas e maliciosamente sorridentes, olharam-se entre si.
-Só quero, Senhor, que me dê uma mente que possa desfrutar do pouco ou muito que tiver; ou seja, uma mente em paz e contente, só quero isso. Uma mente que seja amiga.

Ramiro Calle, Os melhores contos espirituais do oriente, p. 47 e 48, a esfera dos livros, Lisboa, 2009

domingo, 25 de novembro de 2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Mundo enganou-me

Aquela vil e lasciva
Marafona
- Mundo lhe chamam -
Enganou-me
Como a toda a gente.
Roubou-me a Fé,
Depois a Esperança,
Agora queria atirar-se-me
Ao Amor.
E eu fugi.
Para pôr a seguro para sempre
O tesouro salvo,
Reparti-o sàbiamente
Entre Zuleica e Zaqui.

À compita,
Qual dos dois quer
Pagar-me juros mais altos.
E estou mais rico que nunca:
A fé tenho-a outra vez !
A fé no amor dela:
Ele, na taça, propina-me
Sentimento magnífico do presente:
Que vem cá fazer a esperança ?!

ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRISENSIS
J. W. GOETHE (1749-1832) POEMAS
ANTOLOGIA, VERSÃO PORTUGUESA, NOTAS E COMENTÁRIOS DE PAULO QUINTELA
2ª EDIÇÃO, CORRIGIDA E AMPLIADA
POR ORDEM DA UNIVERSIDADE
1958
VIII. DO «DIVÃ OCIDENTAL-ORIENTAL», p.188 - 191

Nota a este poema na pag. 379:
JENE GARSTIGE VETTEL... [AQUELA VIL E LASCIVA] (WÖD, 104; GW, III; HD, IV, 164-165; SA, VI, 214.)
-É datada de 25 de Outubro de 1815. Do Livro da Taberna. - O mundo, como informa Diez nas suas Denkwürdigkeiten von Asien, é para os poetas persas uma velha marafona que mata todos os seus amantes sem lhes conceder o menor favor (WÖD, 678-679). Recorde-se também a Frau Welt, a Dona Mundo dos poetas e dos escultores medievais. - Note-se o jogo com as três virtudes cardiais - a Fé, a Esperança, o Amor. Uma vez que por Zuleica recuperou o amor e a fé, e por Zaqui, o efebo copeiro - (o Banquete de Platão é indispensável à compreensão de todo o Schenkenbuch) - , o entusiasmo que dá o vinho e o «sentimento magnífico do presente», o Poeta já não precisa da esperança, pois lhe chega a actual realidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

uma pergunta embaraçosa

Um Padre Faz uma Pergunta Embaraçosa

«Fora das portas de Perúgia lá estava a igreja de S. Marcos, e aí num dia feriado Cícero, o padre da paróquia, fez o sermão do costume ao povo da cidade reunido, e concluindo disse:

"Queridos irmãos, gostaria que me esclarecessem uma dúvida grave. Quando, durante a Quaresma, ouvi as vossas esposas em confissão, não encontrei uma que não mantivesse que tinha guardado com zelo a fidelidade ao seu marido. Vocês homens, por outro lado, quase sem excepção confessaram que tinham pecado com as mulheres dos vossos vizinhos. Portanto, para esclarecer esta confusão na minha mente, peço-vos que me digam quem são essas mulheres e donde é que elas vêm."»

Poggio, Facetiae Erotica, part IV, (158) A Priest Asks an Awkard Question  

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Esperança


O Grupo Folclórico "Toive" (Esperança) foi criado em 1982 pelo Departamento de Língua e Literatura Finlandesa na Universidade Estatal de Petrozavodsk, República da Carélia, Rússia.
Este espectáculo realizou-se recentemente no Orfanato Petergof nº1 em S. Petersburgo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Leonardo da Vinci

A Biblioteca Nacional de Espanha acaba de disponibilizar a versão digital dos Codices I e II de Madrid de Leonardo da Vinci: aqui

domingo, 28 de outubro de 2012

és melhor

És melhor do que tu.
Não digas nada; sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Fernando Pessoa, 5/6-2-1931

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tradições Norueguesas

Ontem teve lugar a Sessão de Abertura do Parlamento Norueguês, uma cerimónia tradicional cujo protocolo é cumprido rigorosamente. Depois de o Rei ler o Discurso do Trono é a vez de o discurso do Estado da Nação ser lido pelo membro mais jovem do Governo. Este ano a mais jovem integrante do Governo é a Ministra da Cultura. Hadia Tajik tem 29 anos e é filha de imigrantes. No final da Sessão todos rogam a Deus que preserve o Rei e a Pátria e cantam o Hino Nacional a capella.

Notícia em inglês aqui.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

bacalhau para crianças

Livro para crianças sobre a cozinha portuguesa é publicado no Japão por uma editora especializada em literatura infantil.

Embaixada Portuguesa em Tóquio no Facebook

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

o dia em que a Princesa devia despertar

"Ora os cem anos tinham acabado de passar, e chegara o dia em que a Princesa Adormecida devia despertar. Quando o príncipe se aproximou da sebe de roseira, viu-a toda em flor, com enormes rosas muito lindas que lhe abriam passagem sem o ferir e se tornavam a fechar em sebe assim que ele passava.

Nos pátios, o príncipe viu os cavalos e os cães mergulhados no sono. No telhado, estavam as pombinhas com as cabeças debaixo da asa. E, quando entrou no castelo, viu as moscas adormecidas nas paredes... Junto ao trono, jaziam o rei e a rainha. Na cozinha, estava o cozinheiro com a mão levantada como se fosse bater no ajudante, e a cozinheira estava sentada tendo ao colo uma ave que estivera a depenar.

O príncipe continuou a avançar. Estava tudo tão quieto que podia ouvir a sua própria respiração. Chegou, por fim, à torre e abriu a porta do quartinho onde estava deitada a Princesa Adormecida. Era tão linda que o príncipe não podia desviar a vista para olhar em redor. Inclinou-se e deu-lhe um beijo.

Mal a tocou, a Princesa Adormecida abriu os olhos e olhou-o com ternura. Depois desceram juntos, o rei e a rainha acordaram, assim como todos os cortesãos que olhavam, muito admirados, uns para os outros. Os cavalos no estábulo sacudiram-se, os galgos começaram a pular, as pombas no telhado tiraram a cabeça de sob as asas e voaram para os campos. As moscas nas paredes puseram-se a andar, o fogo na cozinha cresceu e cozinhou a comida. A carne assada voltou a dar estalidos e o cozinheiro sacudiu com tanta força o ajudante que este gritou, enquanto a cozinheira acabava de depenar a ave que tinha ao colo.

Celebrou-se então, com todo o esplendor, o casamento do príncipe com a princesa, e viveram ambos muito felizes até morrerem."

Irmãos Grimm, A Princesa Adormecida, p. 10 a 15, Electroliber Limitada, Lisboa-Porto-Faro-Funchal-Lourenço Marques, s/data

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

imperfeito de cortesia

o pretérito imperfeito diz-se imperfeito no sentido de "inacabado", considera-se que "fez" é uma acção perfeita porque foi terminada e "fazia" é imperfeita
o pretérito imperfeito também pode ser usado em vez do presente para suavizar um pedido, neste caso chama-se imperfeito de cortesia: "queria um pão de quilo" em vez de "quero um pão de quilo"
também a gramática é imperfeita no sentido em que está sujeita a alterações, não está acabada... toda a ciência supostamente aceita sempre que o conhecimento não é definitivo e que novas pesquisas podem alterar o que se julgava saber - nem sempre porém cientistas e leigos têm em conta a fundamental incerteza científica nem a cortesia, não se costuma no entanto dizer que o dogmatismo é imperfeito, pelo contrário, parece definitivamente acabado ;)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

a razão pela qual não se vê maldade em Amã


Era uma vez uma velha mulher que se dirigia do campo à cidade de Amã para visitar o seu neto. Era verão, e no encalorado e poeirento caminho encontrou-se com um homem de semblante cansado e ao mesmo tempo sinistro, que se cobria com um capote negro.
"Bom dia", disse a mulher, porque não tinha nada melhor para dizer e as pessoas do campo sempre se cumprimentam entre si.
"E um mau dia para a senhora!", respondeu o homem.
"Que modo bem educado de se falar com as pessoas!" Disse a velha senhora. "Que tipo de homem é você para falar assim aos filhos de Adão?".
"Eu sou Lúcifer! E odeio os descendentes de Adão".
A velha mulher não ficou nem um pouco assustada.
"E por que você está a caminho da cidade grande?" - perguntou a velha.
"Oh, tem muitas coisas que posso fazer num lugar assim". Disse o diabo.
"Você não parece tão diabo assim e creio que posso igualar qualquer coisa que você faça, a qualquer hora".
"Muito bem, eu lhe darei três dias em Amã e se você puder fazer coisas piores do que eu, ai então deixarei a cidade tranqüila pelo resto dos meus dias".
Assim fecharam o trato e os dois chegaram juntos à cidade.
"Quando vai começar"? Perguntou o diabo, porque estava ansioso para ver umas maldades.
"Começarei logo, e você pode me observar, supondo que possa ficar invisível".
"Assim"? Perguntou o diabo.
E a velha se deu conta que o diabo tinha desaparecido de sua vista, ainda que pudesse sentir seu hálito quente no pescoço.
"Agora, mãos a obra", disse ele asperamente.
A velha dirigiu-se à tenda de um dos maiores comerciantes de tecidos finos da cidade e sentou-se na entrada, pedindo ao comerciante que lhe mostrasse alguma peça de seda realmente boa.
"Tem que ser algo verdadeiramente insólito. Meu neto está enamorado de uma certa mulher casada e quer fazer-lhe um presente de que ela nunca se esqueça, de forma a abrandar o seu coração. Ela disse que só se entregará a ele se tiver uma peça da mais formosa seda que se possa encontrar".
"Para que a queres não é assunto meu, de modo que, por favor, não me contes os detalhe sórdidos", replicou o homem. "Mas acontece que tenho aqui uma peça do mais fino tecido do mundo. Até outro dia havia duas peças. Então vendi uma para o Palácio Real, de forma que podes imaginar a qualidade e formosura do tecido".
Enquanto examinava o corte de seda a velha disse:
"É um tecido muito caro e é bem possível que o compre. Mas, como é que não me estás tratando com o respeito que é devido a um cliente valioso?"
"Que queres dizer?", perguntou o comerciante.
"Ao menos deverias pedir um narguilé para mim, de maneira que eu possa fumar enquanto me decido"...
O mercador mandou buscar imediatamente um narguilé com carvão ardente no recipiente. Também colocou próximo à velha um prato de pastéis de mel, 'baklavas'.
Murmurando para si a velha manuseou o tecido, comeu os pastéis e, entre uma coisa e outra, deu umas tragadas no narguilé. De repente o comerciante percebeu consternado que ela havia passado um pouco de mel de seus dedos para o valioso tecido e, pior ainda, inclinado o cachimbo permitindo que uma brasa caísse na seda, fazendo um buraco na mesma.
"Ai, estúpida mulher!", exclamou o mercador. "Estás arruinando o tecido"!
"De modo algum. Tudo o que tenho a fazer é cortá-lo de modo certo e assim eliminar a mancha e o buraco, porque vou comprá-lo de qualquer maneira. Quanto disseste que valia"?
"Cem dinares", disse ele, esperando fechar negócio em cinqüenta, mas a velha aceitou imediatamente sem regatear, pagou-lhe em dinheiro e se foi da tenda.
Quando descia a rua o diabo sussurrou ao seu lado:
"Eu não chamaria a isso um truque. É verdade que você lhe deu um pequeno susto, mas lhe pagou muito e, ele pensa que você é uma tola. Ele é mais diabo que você"!
"Silêncio!", ciciou a velha, "e tenha um pouco de paciência, por favor. Veja o que vou fazer agora."
Dizendo isso, a velha começou a perguntar as pessoas em um café até conseguir o endereço da casa do mercador de tecidos.
Era uma casa grande e de aparência opulenta. A velha se deteve ali, salmodiando orações, e logo chamou à porta.
A mulher do comerciante veio atender e perguntou:
"Quem está ai e o que deseja?"
"Que a paz esteja contigo, generosa dama", disse a velha dirigindo-se à janela, "sou apenas uma pobre mulher do campo que veio visitar o seu filho. Encontro-me aqui na rua bem na hora das minhas orações especiais e não posso achar um lugar tranqüilo e limpo para recitá-las".
A esposa do comerciante, convidou a piedosa mulher a entrar, conduzindo-a até uma espaçosa sala no andar térreo.
"Generosa mulher, como último favor, te peço um tapete de oração em que possa me ajoelhar".
A esposa do comerciante procurou ao redor, voltou com o 'sajjadah' de seu esposo e o entregou à velha.
A velha fingia dizer as orações enquanto a mulher do comerciante se retirava da sala. Então, a velha enrolou o tapete junto com o tecido que havia comprado e o devolveu com mil palavras e gestos de agradecimento e humildade.
Ao sair da casa o diabo novamente lhe perguntou, irritado, "que tipo de jogo é esse?", a velha respondeu do mesmo modo que antes.
Quando o comerciante voltou para casa à noite e pegou seu tapete para fazer as suas orações, a peça de tecido caiu. Tinha a mesma marca e o mesmo buraco daquela que tinha sido vendida à velha mulher. A peça, ele lembrava, era um presente para uma mulher casada que, em troca, se entregaria ao seu neto...
Sua própria esposa! O comerciante arde em fúria, enquanto o diabo o contemplava, invisível, ele expulsou sua mulher de casa, recusando-se a escutar qualquer coisa que ela dissesse.
"Isto está melhor!", ria para si o diabo.
A velha seguia a perplexa esposa para ver aonde ela ia e, viu que corria para casa de sua prima, onde se jogou sobre uma cama soluçando amargamente e recusando-se a dar qualquer explicação a quem quer que fosse.
Na manhã seguinte a velha foi ver seu neto, um robusto jovem luxurioso, que não era melhor do que parecia ser.
"Vem, meu querido e formoso jovem", vou te apresentar uma dama bela e inteligente que está solitária e perplexa..."
Ela levou o jovem até a casa onde a esposa do comerciante estava descansando e aproveitando-se da ansiedade e confusão da dama, insistiu para que os dois permanecessem juntos. Tal era a perplexidade de ambos que simplesmente se sentaram no aposento olhando um para o outro, como se houvessem sido hipnotizados pela velha.
A velha bruxa correu então à tenda do comerciante. Logo que a avistou ele começou a soluçar e golpear o peito, gritando:
"Oh, mensageira da má sorte! Por que me escolheste para ser o instrumento de sedução da minha própria esposa, por meio do teu neto infernal e mal-nascido? Por que regressaste para me atormentar? Vá embora antes que eu te mate! E ainda disse muito mais no mesmo estilo.
A velha mulher se manteve firme até que o comerciante ficou sem fôlego e, então disse:
"Oh rei dos comerciantes! Realmente não tenho ideia do motivo de tuas palavras. A única coisa que posso dizer é que estou aqui para te pedir a devolução da minha seda, que parece deixei cair por um descuido em tua casa. Mas, não há ninguém lá".
O diabo começou resfolegar na orelha da velha, quando escutou isso, sufocando de riso.
"Que?! Queres dizer que não era minha esposa que tinha de ser seduzida por meio da seda?".
"Claro que não ! O que aconteceu é que, por casualidade, encontrei tua casa quando estava procurando um lugar para rezar e, por negligência, deixei o tecido ali..."
Quase fora de si com o que ainda lhe restava de sua fúria, com pesar e angustia pela injustiça que havia cometido contra sua esposa, o mercador exclamou:
"Oh, se eu pudesse fazer regressar a minha amada esposa!"
"Bem, pode ser que eu seja capaz de te ajudar nisto."
"Se pudesses fazê-la regressar, amável mulher, eu te daria mil dinares de ouro!
"Feito!", exclamou a velha bruxa e saiu precipitadamente da tenda.
"Não me diga que vai fazer um favor a alguém sua velha doida", sussurrou o diabo no seu ouvido.
"Afaste-se de mim, estúpido, deixa que uma verdadeira especialista possa fazer o seu trabalho!", guinchou a bruxa, enquanto um ar de total astúcia se espalhou sobre o seu rosto.
O diabo a seguiu furtivamente quando ela se dirigiu à prisão onde seu neto e a esposa do comerciante estavam detidos.
Assim que avistou o carcereiro na porta da prisão, a velha começou um jogo de astúcia e discussão.
"Oh vós, o mais nobre dos guardiães da justiça do rei! E pensar que na minha idade fui levada a isto... Mas, quem sabe, bom senhor, amável e ilustre cavalheiro, vós sejais capaz de me ajudar..."
A velha mostrou um dinar de ouro e, o carcereiro começou a olhá-la com maior atenção.
"O que queres?", perguntou asperamente.
"Somente que me seja permitida a entrada por alguns momentos para ver o meu neto, que foi, com certeza, justamente preso e entregue a vosso cargo, bravo defensor da justiça!".
"Bem, se tiveres outra moeda igual a esta quem sabe se posso arranjar alguma coisa"
Rápido como um raio, a velha lhe passou duas peças de ouro e o carcereiro a deixou entrar.
Assim que chegou ao calabouço onde o par de acusados estavam presos em celas contíguas, a velha se dirigiu ao lugar onde se encontrava a esposa do comerciante e destrancou a porta.
"Apressa-te, pega o meu manto e o meu véu e dá-me os teus, sai da prisão fingindo que sou eu e reúne-te ao teu esposo, isto é, se estás disposta a me recompensar por te haver salvo e fazer com que ele te perdoe".
"Tenho mil peças de ouro em casa. Isto será bastante?".
"Muito bem , isto será bastante, mas te advirto de que não voltes atrás na tua palavra, ou terei de dizer ao mercador que no fim de tudo eras realmente culpada", ameaçou a velha.
Desse modo a mulher do comerciante colocou as roupas da velha bruxa, que se vestiu como a jovem mulher. Então ela e seu neto ficaram no calabouço enquanto a mulher se apressava a regressar para casa, onde encontrou seu esposo, que se encheu de alegria.
Nessa mesma tarde, de acordo com a lei, o magistrado examinador visitou o cárcere, averiguando se havia motivo verdadeiro para a prisão dos detidos. Quando chegou em frente à cela onde se encontrava a velha, perguntou:
"Por que prenderam estas pessoas?"
"Foram presas sob acusação imoralidade, senhor juiz."
A velha retirou o véu e choramingou:
"Nobre juiz, sou uma mulher de 90 anos de idade e este é o meu neto, que não tem mais do que 16 anos. Aqui estão os papéis para prová-lo. Estávamos sentados juntos, conversando inocentemente, quando algum infiel nos denunciou à polícia com esta acusação absurda. por favor, nobre senhor, ordene nossa libertação agora mesmo, porque já sofremos bastante."
O magistrado, furioso, voltou-se para o carcereiro e o policial encarregado do caso e gritou:
"É este o modo pelo qual a justiça é feita em nosso país? Libertem está anciã e o seu jovem neto imediatamente! E em seguida, disse à sua escolta: "Dêem dez chibatadas no carcereiro e no policial!"
Quando a velha mulher e o seu neto estavam se afastando da prisão, encontraram o diabo.
"Estou indo, porque depois de ver tal actuação sei que não posso competir com você!"
O diabo abriu suas asas e voou de volta a jehennúm, a morada infernal.
Esta é a razão pela qual não se vê maldade em Amã, já que a velha mulher não se dispôs a tentar novamente.

Retirado do livro “Histórias da Tradição Sufi” - Edições Dervish – 1993 – Instituto Tarika

O Diabo e a Velha (ligeiramente alterado, sobretudo a grafia do nome da cidade, que foi alterada para Amã)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

pingentes de gelo

Na Finlândia:  

«Chegou o domingo. Um daqueles húmidos domingos de Abril em que já não podia andar-se sem perigo por cima do gelo. Aqui e além tinham-se formado fendas na crosta do lago e até já pequenos blocos se iam desagregando. Passara o inverno. Das goteiras dos telhados escorria a água, fazendo no gelo pequenas covas. A temperatura baixava com a aproximação do crepúsculo e começavam imperceptivelmente a formar-se delicadas estalactites nos cantos das goteiras. De manhã o Sol brilhava nos pingentes de gelo, nas folhas dos álamos e nas frontarias das casas.»

Frans Eemil Sillanpää, Silja, Editorial Inquérito, 1969, p. 140

fotografia de Lavonardo, aqui

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

fora de ideias

"Fora de ideias de agir bem e agir mal,
há um campo. Vou lá ter contigo."
RUMI

Tradução da tradução de Coleman Barks para inglês:
"Out beyond ideas of wrongdoing and rightdoing,
there is a field. I will meet you there."

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

alecrim

o alecrim terá sido a primeira canção que me tocou, gostava da música, da letra e de imaginar o monte
não sabia como era o alecrim nem a sua flor mas cantava na imaginação e imaginava comovidamente uma paisagem - sem incomodar ninguém

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

prisioneiro

Louis Dodier em prisioneiro (Louis Dodier en prisonnier), 1847

fotografia de Louis Adolphe Humbert de Molard

informações, em francês, no site do Museu d'Orsay, carregar aqui

terça-feira, 11 de setembro de 2012

não alimenta mas brilha

Pollia condensata

Fotografia de David Gwynne-Evans, de 21 de Maio de 2010, em Monte Mabu, Moçambique.

Investigadores do Jardim Botânico de Kew descobriram em 2009, através do Google Earth, que o Monte Mabu nunca tinha sido explorado por cientistas.

Considerada a matéria viva mais brilhante de todas, o fruto da Pollia condensata atraiu recentemente a atenção dos cientistas. Mais informações, em inglês, aqui.

sábado, 8 de setembro de 2012

sem dar por isso

«Dinis - Era uma vez um homem chamado Papin. Era francês e médico. Mas não tinha jeito nem gosto para tratar os doentes. Estava sempre a cismar noutras coisas muito diferentes. E tanto tempo cismou cismou que acabou por inventar um aparelho de que ninguém ainda se tinha lembrado até então.

João - Aposto que era uma máquina para fazer andar os navios.

O Sr. Novais, rindo - O tal Papin era muito esperto. Mas olha que era preciso uma esperteza muito grande para ele inventar assim, sem mais nem menos, uma coisa tão complicada.

Dinis - O que ele inventou foi uma panela de cozer carne.

Os pequenos olharam uns para os outros e desataram a rir.

João, rindo - Olha que grande habilidade! Então ninguém sabia cozer carne ainda naquele tempo?

Dinis - Mas era uma panela especial. Imagina tu duas panelas, uma dentro da outra; na de fora deitava-se água, na de dentro punha-se a carne; depois atarraxava-se uma tampa por cima e punha-se ao lume. A água fervia, fervia. E a carne na panela de dentro ia-se cozendo... tanto e tanto até se derreter; e até os ossos se derretiam, o que nunca podia suceder se a carne estivesse dentro de água...

Rodrigo - Há uma coisa que eu não percebo. O pai diz que o tal Sr. Papin atarraxava uma tampa muito bem atarraxada na panela e que a água lá dentro fervia, fervia... Então como é que não ia tudo pelo ar?

João - Porque é que havia de ir pelo ar se não havia pólvora nem dinamite?

Rodrigo - Então eu não tenho visto lá na cozinha! Quando as panelas estão ao lume a ferver e começam a deitar fumo, principia logo a tampa aos saltinhos empurrada pela força do vapor de água e, se a cozinheira não deixa uma gretinha para o vapor se escapar, a tampa salta por aí fora.

João - Eu nunca vi nada disso. É uma invenção tua.

Rodrigo, muito corado - Não é, não, senhor. Eu vou contar uma coisa que nunca disse, mas que vou dizer agora, já que não me acreditas. Uma vez estava uma chaleira ao lume com água a ferver, a ferver. Estava muito bem tapada, mas o fumo da água saía com muita força pelo bico da chaleira. Eu fiz uma rolhinha com miolo de pão e meti-a pelo bico da chaleira e fui metendo, metendo, apertando quanto pude... por sinal que me escaldei. De repente... zás! quando eu menos esperava, saltou por aí fora a tampa da chaleira com um grande estrondo e caiu por cima do fogão, tudo isto no meio de uma fumaceira!... Larguei a fugir e nunca mais disse nada. Apanhei um susto!

Maria, rindo - Eu bem me lembro agora de a cozinheira me vir contar que tinha encontrado o bico da chaleira atafulhado de miolo de pão... Nunca soubemos quem tinha sido.

Rodrigo, corando - Se me tivessem perguntado, eu tinha dito. Ninguém me perguntou nada!

Dinis - O Rodrigo tem razão, mas o que eu não disse é que na tampa da tal panela havia uma válvula... Sabem o que é uma válvula?

Rita - É uma tampinha que entra e sai com muita facilidade, sem se fazer força nem ser preciso dar-se jeito nenhum, não é?

Dinis, rindo - Pouco mais ou menos, é. Quando o vapor de água ganhava muita força, empurrava a válvula e escapava-se. E então o Papin prendeu a essa válvula um braço de ferro com um certo peso na ponta calculado para que o vapor só pudesse empurrar a válvula quando tivesse muita força e que portanto a carne já estivesse bem cozida.

O Sr. Novais - Com a história da carne ninguém se importou muito mas aquele negócio do vapor da água e da válvula é que foi o primeiro passo para se chegar à máquina a vapor.

Rodrigo, triunfante - Então eu não disse que a máquina que vimos lá em baixo havia de ser uma coisa de lume e de água a ferver?

João - Essa é a primeira história. Agora a segunda.

Dinis - Passaram-se muitos anos. O Papin morreu e foram aparecendo vários homens curiosos e muito inteligentes, que desenvolveram a ideia do Papin e a aplicaram para usos de verdadeira utilidade. Eram já máquinas a vapor; bombas para tirar água mas muito imperfeitas. Era preciso estar ali sempre uma pessoa a abrir ora uma torneira ora outra para a máquina funcionar regularmente. Ora um dia, há dezenas de anos, estava um rapazito lá em Inglaterra chamado Potter encarregado de abrir as tais torneiras. O garoto estava maçadíssimo; ouvia lá na rua os seus companheiros a rir e a brincar, fazendo brincadeiras e jogos, e ele sem se poder tirar dali! Que havia de imaginar? Arranjou uma corda e lá atou conforme pôde uma ponta numa torneira, outra ponta na outra e prendeu a corda lá em cima numa outra peça da máquina que pelo seu próprio movimento, puxando ora um lado da corda, ora o outro ia abrindo e fechando só por si as duas torneiras. O rapaz ficou contentíssimo. Atirou com o boné ao ar em sinal de alegria deu quatro pinotes e foi ter com os seus companheiros, divertindo-se com eles todo o dia sem se lembrar mais da máquina.

O Sr. Novais - Este Potter, este garoto, sem dar por isso fez mais pela máquina a vapor do que muitos homens que se tinham morto de trabalho.

Rodrigo - Sim, eu faço ideia que depois os sábios haviam de aproveitar a descoberta da corda para evitar a maçada do empregado ali a abrir e fechar torneiras.»

Virgínia de Castro e Almeida, Céu Aberto, p. 102 a 105, Clássica Editora, Lisboa, 1988, 12ª Edição

a primeira edição foi publicada em 1907

terça-feira, 4 de setembro de 2012

um modesto jardineiro

"No local onde actualmente se encontra o complexo da Estufa Fria existia, na viragem do séc. XIX, uma pedreira de onde se extraía basalto. Devido à existência de uma nascente de água que comprometia a extracção da pedra, a pedreira deixou de laborar. A cova da pedreira foi então aproveitada por um modesto jardineiro para albergar espécies vegetais oriundas do mundo inteiro, que iriam servir no plano de arborização da Avenida da Liberdade. A 1.ª Guerra Mundial atrasa este plano e as plantas vão criando raízes no pequeno local abrigado. Em 1926, o arquitecto e pintor Raul Carapinha, tendo ali encontrado um agradável espaço verde, idealiza um projecto para o transformar na Estufa, a qual é concluído em 1930 e inaugurado oficialmente três anos depois."

Excerto da História da Estufa Fria no site da Câmara Municipal de Lisboa - Lisboa Verde

Na página "Lisboa Cultura" no facebook esta fotografia foi publicada como sendo de 1930.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

tão humilde o voo ergueu

   Quando voava uma garça,
abateu-se o nebri do céu,
e pra apanhá-la desceu,
preso ficou numa sarça.
   Pelas mais altas montanhas
o nebri Deus descia
a fechar-se nas entranhas
da santa Virgem Maria.
Tão alto gritou a garça
que «ecce ancilla» chegou ao céu
e o nebri logo desceu,
preso ficou numa sarça.
   Eram longas as correntes
que o nebri bem prenderam,
feitas dos panos potentes
que Adão e Eva teceram;
mas essa bravia garça
tão humilde o voo ergueu,
que Deus, ao descer do céu,
ficou preso numa sarça.

lírica espanhola de tipo tradicional, cancioneiro anónimo, selecção, tradução e notas José Bento, poema 59, p. 67, Assírio & Alvim, Lisboa, 1995

fotografia: aqui

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

nem pobre nem rico

há coisas que nos ficam na memória; há muito tempo, talvez há mais de trinta anos, li algures a história de um homem (tenho uma vaga ideia de que ele era da América Latina, mas talvez não do Brasil) que dizia que quando era criança não era tão pobre que pudesse ir para uma colónia de férias com os outros, nem tão rico que a família pudesse ir de férias, de modo que nunca foi de férias

porque é que nunca me esqueci disto e volta e meia me lembro é um mistério...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

vagabundos no ar

O AMOR E A MORTE

FANTASIA ERÓTICA

A mulher que eu amo, que impressão me faz !
De cabelos rasos, parece um rapaz.
Mas os olhos dela, sem ela o querer,
É que dizem coisas que só de mulher.
As suas narinas vibram, a chamar
Os turvos eflúvios vagabundos no ar;
E os seus dentes, frios no sorriso moço,
Sinto-os, só de vê-los, contra o meu pescoço,
A mulher que eu amo, que impressão me faz !
Seu sorriso é triste, seu perfil minaz.
Os seus seios hirtos, pequeninos, túmidos,
Bastam a que os olhos se me façam húmidos.
Suas mãos felinas, logo que me tocam,
Meus nervos agudos todos se deslocam.
Suas ancas - taças do prazer - transbordam
De ópios que adormentam... mas que logo acordam.
Suas pernas magras de desenho fino
São como suspensos arcos de violino.
Quando as beijo, cego-me ! e esse beijo, corre
Como a onda solta que só longe morre.
Com o seu riso aéreo nos lábios vermelhos,
Ela, então, recebe-me, entre os nus joelhos,
Sobre o longo corpo inteiramente franco...
E os seus olhos mortos boiam só em branco.

José Régio, Filho do Homem, p. 10 e 11, Portugália Editora, Lisboa, 1970
Capa de João da Câmara Leme

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

azul ultramarino

desde criança que gosto de azul ultramarino, nem sei se gosto mais da cor se gosto mais do nome

hoje encontrei na internet um texto sobre a história do azul ultramarino, tanto da cor como do nome, aqui

na fotografia lápis-lazuli em mármore, da mina de Sar-e-Sang, Jurm, Afeganistão

sábado, 25 de agosto de 2012

fotografia de 1909


"Pinkus Karlinskii. Oitenta e quatro anos. Sessenta e seis anos de serviço. Supervisor da comporta de Chernigov." Rússia Europeia.

Fotografia e informação de Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii (1863-1944)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

camponeses e soldados

Selo russo criado a partir de um cartaz de 1939.

советские вооруженные силы (sovetskiye vooruzhennyye sily) = forças armadas soviéticas

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nureyev em "Os Marretas"



Esta é uma parte do Episódio 37 da Segunda Série de "Os Marretas".
Foi gravado na semana de 18 de Outubro de 1977 e está descrito (em inglês) no site Muppet Central.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

a festa do caminho de ferro

Em 1906, em Tiflis (Tbilisi), começou a ser publicada uma revista chamada "Molla Nasreddin", esta é a capa do número 12.

(tradução da tradução para inglês:)
O Otomano dá uma "festa de caminho de ferro" à Alemanha e Áustria. A legenda na panela diz: "Império Otomano". O Otomano diz: "Sede pacientes por enquanto: também vos darei um pouco" à Itália, Bulgária e Sérvia que esperam ao fundo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Iduna

Guardiã das maçãs da eterna juventude e imortalidade, Iduna dá uma por dia a cada deus (nórdico) para que não envelheçam nem morram.

Na imagem "Brita é Iduna", litografia de Carl Larsson, 1901

sábado, 11 de agosto de 2012

Passamaquoddy



Passamaquoddy, 1920

O Rio Santa Cruz (antes conhecido  como rio Passamaquoddy) serve de fronteira internacional entre os EUA e o Canadá. A fronteira corta ao meio a terra nativa das tribos Passamaquoddy. Os Passamaquoddy têm ocupado os vales húmidos desta região no mínimo desde há + de 600 gerações  (+ de 12.000 anos). Esta nova linha de fronteira EUA / Canadá foi criada há cerca de 200 anos e imposta aos Passamaquoddy pelo tratado de Jay de 1794.

Tribo Passamaquoddy

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Passe pague

Quando chovia as ruas de Paris tornavam-se lamaçais. No início do séc. XIX havia homens que ganhavam a vida cobrando a passagem sobre as suas tábuas ou levando pessoas às costas. O seu pregão era "Passe pague" (Passez payez). Nesta pintura vêem-se ambos os casos, à direita há um homem que leva uma mulher às costas.

Pintura de Louis Léopold Boilly (1803-1804) intitulada "O Aguaceiro" (L'Averse) ou "Passe pague" (Passez payez), na mesma página há outra imagem com o mesmo tema: Passez payez

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A morte da galinha

Em certa ocasião, Galinha e Galito foram ao nogueiral e combinaram que aquele que achasse uma noz a repartiria entre si. Nisto a Galinha encontrou uma noz enorme, mas não disse nada, pois a queria comer toda. A noz, porém, era tão grande que, ao engoli-la, ela lhe ficou atravessada nas goelas. Viu-se em tamanhos apuros que, temendo morrer asfixiada, começou a gritar:

-Galito, por favor, corre quanto possas, vai até à fonte e traz-me água, pois me sinto morrer.

O Galito deitou a correr tão rapidamente quanto podia e, ao chegar à fonte, pediu-lhe:

-Fonte, dá-me água; a Galinha está no nogueiral, tem uma enorme noz atravessada nas goelas e vai morrer asfixiada.

E a fonte respondeu-lhe:

-Vai ter com a noiva e pede-lhe um fio de seda de cor.

Logo o Galito se meteu a correr para a casa da noiva a pedir-lhe:

-Noiva, dá-me um fio de seda de cor, que levarei à fonte para ela me dar água, para eu levar à Galinha que está no nogueiral, com uma noz atravessada nas goelas, quase a asfixiar.

Respondeu-lhe a noiva:

-Corre, primeiro, a buscar-me uma grinalda que me ficou presa num ramo de salgueiro.

E Galito correu até ao salgueiro e, desprendendo a grinalda do ramo, levou-a à noiva. E a noiva deu-lhe o fio de seda de cor que ele foi levar à fonte. Galito levou então a água à Galinha, mas já era tarde; quando chegou, a Galinha, asfixiada, estava estendida no solo, imóvel. Ficou o Galito tão triste, que rompeu em amargo pranto e, ao ouvi-lo, todos os animais acorreram a compartilhar a sua dor. Seis ratos construíram o coche para conduzir a Galinha à sua última morada e, quando o cochezinho estava pronto, atrelaram-se a ele. Galito fez de cocheiro. Porém, a meio do caminho, apareceu a raposa:

-Aonde vais Galito?

-A enterrar a Galinha.

-Deixas que te acompanhe no coche?

-Sim, porém atrás terás de sentar-te,
Senão meus cavalinhos não poderão levar-te.

Sentou-se a raposa na parte de trás e, sucessivamente, foram para lá subindo o lobo, o urso, o veado, o leão e todos os animais do bosque, e assim continuou a comitiva até chegar perto de um riacho.

-Como passaremos para o outro lado? - perguntou o Galito.

Ora estava ali uma palha que lhe respondeu:

-Atravesso-me no rio e podereis passar por cima de mim.

Porém, ainda os seis ratos não tinham chegado ao meio da ponte improvisada, quando a palha se afundou e com ela os ratos que morreram afogados. Ante tais apuros, aproximou-se uma brasa que disse:

-Sou bastante comprida e chego duma margem à outra. Passareis por cima de mim.

E atravessou-se por cima da água; mas, mal esta lhe tocou, ouviu-se chiar e a brasa ficou morta.

Ao dar por isto, veio uma pedra compassiva que quis ajudar o Galito e se pôs, por sua vez, sobre a água. Atrelou-se o próprio Galito ao coche e, quando já estava quase a depor a Galinha em terra firme, dispôs-se a puxar os que iam da parte de trás. Como o peso era excessivo desconjuntou-se o coche e todos se afogaram. Galito ficou só com a Galinha; cavou-lhe a sepultura, erigiu-lhe um túmulo e ficou-se a chorar em cima dele, até que se finou.

E assim morreram todos. Estas desgraças aconteceram, afinal, porque uma galinha glutona quis comer, sozinha, uma noz grande.

"Outros Contos de Grimm", p. 9 a 11, Tradução livre de Salomé de Almeida, Colecção Azul, Casa do Livro Editora, Lda., Lisboa, Setembro de 1979

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Capa de Livro (?) com Figuras em Marfim

The Metropolitan Museum of Art - Book Cover (?) with Ivory Figures

Tradução do texto:
«Os marfins bizantinos eram muito apreciados na Europa ocidental, onde sobreviveram nos tesouros das igrejas ou foram incorporados em capas de livros. O marfim do painel à esquerda formava originalmente o centro de um ícone bizantino triptico (com três painéis). Pode ter sido uma das muitas ofertas ao Mosteiro de Santa Cruz de la Serós, fundado pela Rainha Felicia (m. 1085), casada com Sancho V Ramirez (r. 1076-94), rei de Aragão e Navarra. A sumptuosa capa também contém um selo de safira, localizado à direita de S. João. A outra capa tem uma inscrição com o nome de Felicia, abaixo do crucifixo de marfim, inscrito em árabe com quatro dos noventa e nove "Belos Nomes" de Alá.»

O texto da outra capa é exactamente igual excepto "A outra capa tem uma inscrição com o nome de Felicia, abaixo do crucifixo de marfim"
Lê-se então: «A sumptuosa capa também contém um selo de safira, localizado à direita de S. João, inscrito em árabe com quatro dos noventa e nove "Belos Nomes" de Alá.»

A inscrição com o nome de Felicia está nesta capa. Procurei em ambas a inscrição árabe mas não a encontro... fiquei almariada :)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

flor do verão

«Hibaku é uma palavra japonesa que significa "o que teve experiência de uma bomba nuclear". Tipicamente é usada na forma hibakusha que significa "pessoa que sobreviveu a uma bomba nuclear".»

«A flor do aloendro foi designada a flor oficial da cidade de Hiroshima pelo seu notável poder de regeneração. Kiyoshi Hashimoto, director do Jardim Botânico de Hiroshima, explica que depois do desastre, parecia que nada poderia crescer durante pelo menos três décadas. Mas nerium indicum floresceu no ano seguinte! As suas flores encorajaram os cidadãos, e desde então, a cada verão tem consolado as vítimas no seu infortúnio.»

texto em inglês aqui, fotografia e mais informações, também em inglês, aqui

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012