Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

árvore de Natal

Inge Löök, ilustradora finlandesa que quando era criança teve umas vizinhas nas quais se inspirou para criar uma série de ilustrações de senhoras de idade. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

VITAS - Feito na China - (Made in China) 2016

Herder



Da praia longínqua, na areia doirada,
O Cisne pensava, fitando a Alvorada:

– «Que imensa ventura, na minha mudez,
Se dado me fosse cantar uma vez!

Meu canto seria, na luz do arrebol,
Dos hinos mais altos à glória do Sol...

Não é das gaivotas e gansos do lago
O canto que em sonhos ardentes afago;

É quando nos bosques as aves escuto
Que a inveja confrange minha alma de luto.

Se a Aurora se lança do cume dos montes,
Até de alegria murmuram as fontes;

Só eu, passeando o meu tédio supremo,
Nem rio, nem choro, nem canto, nem gemo.

O Sol, que já vejo surgindo do Mar,
Tem dó de quem, mudo, não pode cantar!» –

E o Cisne, em silêncio, chorava, escutando
A orquestra das aves que passam em bando.

Das águas rompia a quadriga de Apolo,
E o pobre a cabeça escondia no colo...

Mas Febo detém-se nas nuvens ao vê-lo,
Com feixes de raios no fulvo cabelo,

E diz-lhe, sorrindo, num halo de fogo:
– «No Olimpo sagrado ouviu-se o teu rogo...» –

E nesse momento a Lira Sem Par
Da mão luminosa deixou resvalar...

O Cisne, orgulhoso da graça divina,
Da Lira de Apolo as cordas afina,

E rompe cantando... Calaram-se as fontes,
Calaram-se as aves... As urzes dos montes

Tremiam de gozo a ouvi-lo cantar...
E o vento sonhava na espuma do Mar.

O Cisne cantava, tirando da Lira
Um hino que nunca na terra se ouvira;

Não pára, nem sente, na sua emoção,
Que a vida lhe foge naquela canção.

Mas quando, entre nuvens, a tarde caía
no enlevo do canto que a essa hora gemia,

E Apolo no seio de Tétis desceu,
O pobre do Cisne, cantando, morreu...

Gemeram as aves; choraram as fontes;
Torceu-se nas hastes a giesta dos montes,

E o mar soluçava na tarde sombria,
Que o manto de luto com astros tecia.

Solícita espera-o, das águas à beira,
Do Cisne, já morto, fiel companheira;

Espera que o Esposo de pronto regresse,
Mas treme e suspira, que a Noite já desce...

As águas luzentes parecem-lhe, ao vê-las,
Um pano de enterro picado de estrelas.

Então, no seu luto, sentindo que morre,
Oceanos e praias distantes percorre;

Mergulha nas águas, coleia nas ondas,
Espreita as galeras de velas redondas,

Que ao longe parece que vão a voar...
E o Cisne não volta, não pode voltar!

Chorosa viúva, nas águas desliza,
Levada na fresca salsugem da brisa...

No seu abandono nem sente canseira;
Caminha, caminha, fiel companheira,

Chorando o perdido, desfeito casal...
Tão funda era a mágoa, tão grande o seu mal,

Que o peito sentindo de dor estalar,
– De dor e de angústia começa a cantar!

E canta com tanta ternura e paixão,
Que a Vida lhe foge naquela canção.

As aves despertam; calaram-se as fontes
Nas hastes tremiam as urzes dos montes;

A Lua escutava; detinha-se a Aurora,
E as vagas gemiam no vento que chora...

Na terra, no espaço, nos astros, no céu,
Mais alta harmonia ninguém concebeu;

E os Deuses recebem, ouvindo-a, a chorar,
A alma do Cisne que expira a cantar...

Desde esse momento, no Olimpo onde entraram,
Em honra dos Cisnes que tanto se amaram,

Das almas que foram leais e sinceras,
se Vénus se mostra, surgindo da bruma,
São eles que tiram, nas altas esferas,
A concha de nácar, cercada de espuma...


António Feijó, Sol de Inverno, 1922


Mais poemas de António Feijó na página do Projecto Vercial, carregar aqui

domingo, 2 de outubro de 2016

terça-feira, 13 de setembro de 2016

amizade perpétua

Gazeta de Lisboa occidental, num. 29, 337, quinta-feira, 21 de Julho de 1740,

Italia, Napoles, 14 de Junho
Com a chegada de um correio extraordinário de Constantinopla se recebeu aviso que Monsenhor Finochetti, ministro desta Corte, tem acabado de ajustar entre este Reino e o Império Otomano, um tratado de amizade, comércio e navegação, pelo qual se comprometem ambas as partes de observarem uma paz e amizade perpétua entre as duas nações, as quais poderão comerciar livremente (...) link: carregar aqui

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Nenetes

Península de Yamal no noroeste da Sibéria.
Acampamento de tendas de pele de renas.
Nenetes, pastores de renas.

Fotografia no site Noor

terça-feira, 26 de julho de 2016

o tigre riscadinho

o meu livro favorito quando era pequenina :)

mencionava tâmaras - eu não sabia o que era e nessa altura não se vendiam ou, pelo menos, não era fácil encontrá-las

desde que as tâmaras se tornaram acessíveis que gosto delas 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

vocação, sonho, realidade

Esta imagem é de uma colecção de cromos (do início do séc. XX) que está provisoriamente em leilão na internet. Deixo o link aqui, embora provavelmente desapareça em breve. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

o dinossauro mais famoso do mundo

Lorenz Valentino, actor e modelo, descreve-se a si mesmo como «o dinossauro mais famoso do mundo» quando cria fotografias de si próprio vestido de dinossauro e, no photoshop, as junta com fotografias de celebridades, neste caso, Victoria Beckham.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Panfleto contra a pena de morte, 1916

Arquivo fotográfico do Museu da Polícia Judiciária.

Na Internet aqui. (Há mais coisas interessantes para ver seguindo este link.)  

quarta-feira, 16 de março de 2016

25 de Abril, sempre

Os leitores, quase de certeza, associam o lema «25 de Abril, sempre», ao Partido Comunista! Porém, na verdade, fui eu que o inventei, embora nunca tenha reclamado direitos de autor nem tencione fazê-lo!

Jorge Sampaio, O Meu Livro de Política, p. 45, Editora Texto, Lisboa, Setembro de 2009

sábado, 5 de março de 2016

Ligação aérea Vila Nova de Milfontes - Macau. 1924

«A 7 de Abril de 1924 Brito Paes, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, partiram para a ligação aérea Portugal / Macau. A iniciativa arrancou de Vila Nova de Milfontes, a bordo de um avião designado por Pátria

quarta-feira, 2 de março de 2016

cinco de bolotas (cinco de paus)

De "As cartas de jogar de Peter Flötner“ (The Playing Cards of Peter Flötner) publicadas por Hans Christoph Zell (Nuremberga, 1540), xilogravura sobre papel, pintura a aguarela, tinta opaca e ouro, 10,47 cm x 6,03 cm (4 1/8 x 2 3/8 polegadas)

(© Germanisches Nationalmuseum, Nuremberg, fotografia de Georg Janssen)

Imagem encontrada aqui

As cartas de jogar parecem ter uma ou muitas histórias embrulhadas umas nas outras. A história das cartas de jogar em Portugal até merece uma rubrica à parte no artigo da Wikipedia em inglês. Enquanto pesquiso e não pesquiso mais sobre isto deixo esta imagem porque as bolotas e as imagens das bolotas também me intrigam.


 


sábado, 13 de fevereiro de 2016

Vitas - Nevoeiro Azul (escuro) 13.02.2016



Пришел туман постучал в дома
Шалью синею обнял сад
Так уж было раз в предрассветный час
Было несколько лет назад
Пришел туман, свел меня с ума
Отогнать его нету сил - он растаял сам
И на небесах точку синюю погасил

Синий туман похож на обман
Похож на обман синий туман, синий туман
Синий туман похож на обман
Похож на обман синий туман, синий туман

Пришел туман он когда в дурман
Ох, как кружится голова

Так уж было раз у двоих у нас
Все слова, одни все слова
Пришел туман, постучал в дома
Уходи туман, уходи, все давно прошло
На душе светло и печали все позади

Синий туман похож на обман
Похож на обман синий туман, синий туман
Синий туман похож на обман
Похож на обман синий туман, синий туман

Синий туман похож на обман
Похож на обман синий туман, синий туман
Синий туман

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

bruxelenses

Levantei-me então. Os viajantes queixam-se dos hotéis estrangeiros, da nudez dos quartos que se encontram e da falta de conforto; o meu pareceu-me soberbo e muito alegre. Tinha magnificas janelas, com grandes vidros, tão limpos e tão claros! Havia um lindo espelho sobre um toucador, outro, enorme, sobre a chaminé! O chão era tão brilhante! Saí do quarto logo que me vesti; os degraus da escada, todos de mármore, quase me inspiravam respeito. No primeiro andar encontrei uma criada; calçava tamancos, vestia um saiote vermelho muito curto, uma camisa de chita, possuía cara chata e um ar estúpido; falei-lhe em francês, respondeu-me em flamengo num tom rude mas correcto. Mas achei-a encantadora; não era, por certo, nem amável nem bonita, era pitoresca; lembrava-me certas figuras dos quadros holandeses que vira, outrora, em casa do meu tio Seacombe.

Entrei numa grande sala que me pareceu majestosa; o ladrilho era preto, assim como o fogão e quase todos os móveis; nunca me sentira tão disposto para a alegria como quando me sentei diante daquela mesa preta, coberta até meio com uma toalha, branca como uma mortalha, servindo-me do café que me trouxeram numa pequena cafeteira também preta. O fogão entristecer outros olhos que não fossem os meus, pela sua cor, mas espalhava um calor reconfortante. Dois cavalheiros estavam sentados perto dele e conversavam; impossível compreendê-los, de tal modo falavam com rapidez: no entanto, o francês, na sua boca, tinha, aos meus ouvidos, sons cheios de harmonia (não sentia ainda tudo o que tem de pavoroso a horrível pronúncia belga). Um daqueles senhores reconheceu imediatamente a que nação eu pertencia, provavelmente pelas palavras que disse ao criado, pois, ainda que inutilmente, eu persistia em falar francês com a execrável pronúncia do sul da Inglaterra. O senhor em questão, depois de me ter fixado uma ou duas vezes, chegou-se polidamente e dirigiu-me a palavra em inglês. Eu daria bastante para me exprimir em francês com a mesma facilidade. A sua frase correcta e fácil, a sua excelente pronúncia, fizeram nascer no meu espírito uma ideia bastante justa do carácter cosmopolita da capital da Bélgica, e, pela primeira vez, tive a evidência da aptidão para as línguas que reconheci, mais tarde, em quase todos os bruxelenses.

Charlotte Brontë, O Professor, p.75 e 76, Inquérito, Lisboa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

caso as mulheres dedicassem sonetos às sobrancelhas dos homens amados

(...) as sobrancelhas finamente desenhadas e excessivamente arqueadas - sobrancelhas que poderiam ter dado um soneto, caso as mulheres dedicassem sonetos às sobrancelhas dos homens amados (...)

Henry James, Os Europeus, p. 13, Contexto, Lisboa, 1990

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Soneto de Shakespeare CXXX

Os olhos como o sol o meu amor não tem
e é mais rubro o coral que a sua rubra boca,
e então se a neve é alva, seu peito é 'scuro e bem,
se os cabelos são fios, só fio negro a touca.
Vi rosas-de-damasco, brancas e encarnadas,
mas tais rosas nas faces não vejo ao contemplá-la,
e têm alguns perfumes essências delicadas
mais que as do meu amor no hálito que exala.
De ouvi-la falar gosto, contudo, bem no sei,
na música ressoa mais doce afinação:
uma deusa a passar, confesso, nunca olhei,
a minha dama, andando, põe os seus pés no chão.
     E eu penso o meu amor tão raro todavia
     como os mais que de enganos gera a falsa poesia.


Tradução de Vasco Graça Moura in "50 Sonetos de Shakespeare", p. 102, Editorial Inova, Porto, Abril, 1978
http://www.alfarrabista.eu/livros.php?artg=1043418