Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




terça-feira, 30 de agosto de 2011

ultrapassagens

- Todos sofremos - disse o Dr. Fernando. - Os espanhóis, e não apenas os sevilhanos, ultrapassam os problemas através de... la fiesta. Falamos, cantamos, dançamos, bebemos, rimos e fazemos a festa noite após noite. É a nossa maneira de lidar com a dor. Os nossos vizinhos, os portugueses, são muito diferentes.

- O seu estado natural é estarem deprimidos - comentou Falcón. - Cederam à condição humana.

- Não acho. São melancólicos por natureza, como os nossos galegos. Afinal de contas, têm de se confrontar quotidianamente com o Atlântico. Mas são muito sensuais, também. É um país que cometeria suicídio se acabassem com o almoço. Adoram comer e beber e gozam a beleza das coisas.

Robert Wilson, O Cego de Sevilha, p.193, Publicações D. Quixote, Lisboa, 2004

Robert Wilson é inglês mas vive e escreve em Portugal, no Alentejo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Maria Sybilla Merian


Metamorfoses dos Insectos do Suriname

Maria Sybilla Merian representou todas as fases da vida do insecto juntamente com a planta de que se alimenta

"Metamorphosis Insectorum Surinamensium" Amsterdam, 1705

em:
Ingekleurde gravure van lelie met insecten uit Merian

no
Museum Boerhaave




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Porque é que a chuva pára?

Os Rabbi, mestres do Talmud, não estão todos de acordo sobre as razões.

Para o Rabbi Chimon Ben Pazi, é a calúnia que provoca a paragem da chuva.

Para o Rabbi Sala, é por causa das pessoas desavergonhadas e arrogantes que as chuvas deixam de cair.

Para o Rabbi Ami, é por causa dos brigões que não chove.

Contos da Água e da Chuva, Seis Lendas Judias

Les plus belles légendes juives, Victor Malka – Collection Points

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

no céu

As nuvens são pinturas
de uma criança
que não se cansa

As estrelas são pintas
de alguém
que se foi embora

terça-feira, 23 de agosto de 2011

um rouxinol que não estava lá

   Foi só quase uma hora mais tarde que Ivor e Mary apareceram.
   - Ficámos para ver aparecer a Lua - disse Ivor.
   - Estava toda curva, percebem - explicou Mary, muito técnica e científica.
   - Estava tão bonito lá em baixo no jardim! As árvores, o perfume das flores, as estrelas ... - Ivor ondulava os braços. - E quando a Lua surgiu, foi realmente mais forte que tudo. Produziu em mim um tal efeito que rompi a chorar.
   Sentou-se ao piano e levantou a tampa.
   - Havia muitos meteoritos - disse Mary, para que a ouvissem. - A Terra deve ter chegado à altura da chuva estival de meteoritos. Em Julho e em Agosto...
   Mas Ivor começara já a tocar. Interpretava o jardim, as estrelas, o perfume das flores, a Lua. Chegou até a meter um rouxinol que não estava lá. Mary, extasiada, ouvia, de lábios entreabertos. Os outros continuavam entregues às suas ocupações, não parecendo seriamente incomodados. Precisamente num mesmo dia de Julho, exactamente trezentos e cinquenta anos atrás, Sir Ferdinando tinha comido sete dúzias de ostras. A descoberta deste facto deu a Henry Winbush um prazer muito especial. Tinha uma natural propensão em deliciar-se com a celebração de datas importantes. O tricentésimo quinquagésimo aniversário das sete dúzias de ostras... Se tivesse sabido aquilo antes do jantar, teria mandado vir champanhe.

Aldous Huxley, Férias em Crome (Crome Yellow, 1921), Capítulo 17, p. 150, Livros do Brasil, Lisboa, s/ data

domingo, 21 de agosto de 2011

amanhã é Agosto

há uns anos ensinaram-me uma coisa de que nunca mais me esqueci, é uma espécie de jogo e faz-se no mês de Agosto: o primeiro dia tira-se para nós, o segundo é Janeiro, o terceiro Fevereiro, etc. até ao décimo terceiro dia que é Dezembro

volta a tirar-se um dia e recomeça-se: o décimo quinto dia é Janeiro e por aí fora 

portanto hoje é Julho e amanhã Agosto, depois de amanhã Setembro e assim por diante até ao dia 26 que é Dezembro

isto é uma forma de prever o tempo do ano que vem e chama-se-lhe "canículas"

diz-se que as segundas ainda são mais certas que as primeiras

sábado, 20 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Salvador das Maçãs

A Igreja Ortodoxa Russa celebra hoje, 19 de Agosto, a Transfiguração de Cristo que é descrita nos Evangelhos de Mateus (17:1-8), Marcos (9:2-8) e Lucas (9:28-36).

Neste dia, conhecido popularmente na Rússia como dia do Salvador das Maçãs (Яблочный Спас), as pessoas levam as primeiras maçãs à Igreja para serem abençoadas. É o início das colheitas.

Tradicionalmente a Transfiguração de Cristo aconteceu no Monte Tabor que, por isso, também se chama Monte da Transfiguração.




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

dinheiro bem gasto

- Ora, Mãe, o dinheiro que se gasta cam prazer é sempre um dinheiro bem gasto!
E o médico sentenciou:
- O dinheiro não deve servir senão para ajudar as pessoas a serem felizes.

Odette de Saint-Maurice, Quinta de S. Boaventura, p. 260, Distri Editora, Lisboa, 1983

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

a rua

« (...) a rua é o grande salão onde se expõem modelos de ambos os sexos e de todas as classes e até raças. É a expressão máxima e mais completa da sociedade, em todas as suas modalidades.

É também a grande igualitária, e onde a verdadeira Democracia conseguiu ter até hoje realização plena.

Tudo passa na rua, desde o velho fidalgo apergaminhado, ao oficial de galões dourados, ao soldado raso. O patrão e o operário, o sábio e o ignorante, o rico e o pobre, o janota e o farroupilha, o nobre e o plebeu, o trabalhador e o vadio, a mulher espalhafatosa e a mulher simples, a elegante e a desataviada, a que é modelo de virtudes e a pedra de escândalo, a bonita e a feia.»

Não é bonito - arquitectura da delicadeza, colectânea de Raul de Caldevilla, Edição do Autor, Barcelos, 1946

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Como chegar a Ussuriysk

O meio mais provável de chegar a Ussuriysk é de comboio vindo de Vladivostok ou de Khabarovsk. A oportunidade mais impossível é uma viagem desde a Coreia do Norte na locomotiva soviética a vapor que atravessa a fronteira russa em Khasan. Há autocarros para e de Khabarovsk e Vladivostok duas vezes por dia. Quase de hora a hora há um autocarro para Vladivostok e Nakhodka. No entanto não têm sistema de ar condicionado interior o que é vital no verão. Os autocarros diários para a China estão equipados com este "must". Getting to Ussuriysk
Fotografia de Helmut

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

a necessidade de tirar vida para poder viver

"há semelhanças espantosas. que não são fáceis de explicar, entre ideias e práticas xamanicas tão afastadas como as do Ártico, Amazónia e Bornéu, ainda que essas sociedades provavelmente nunca tenham tido contactos umas com as outras. Muitas interpretações correntes dão ênfase ao aspecto terapêutico do xamanismo, mas este é apenas um aspecto do trabalho do xamã. Entre outras coisas, o xamanismo é uma religião de caçadores, preocupada com a necessidade de tirar vida para poder viver a sua. A visão xamãnica do equilíbrio cósmico fundava-se largamente na ideia de pagar pelas almas dos animais que é preciso comer, e nas sociedades o xamã voa para o dono dos animais para negociar o preço."


Vitebsky, P. 1995. The Shaman. London: MacMillan, Duncan Baird Publishers

tradução da citação em: Scott Polar Research Institute, (Yakutia) por Tatiana Argounova

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

o que é que anda à roda?

tradução de parte do artigo da Wikipedia, em inglês, sobre Giordano Bruno:

George Abbot, que mais tarde se tornou Arcebispo de Canterbury, fez troça de Bruno por apoiar "a opinião de Copérnico de que a terra andava à roda, e os céus estavam quietos e parados; quando na verdade era a cabeça dele que andava à roda, e o cérebro dele que não parava quieto."

a citação de George Abbot foi publicada por Andrew D. Weiner, "Expelling the Beast: Bruno's Adventures in England", in Modern Philology, Vol. 78, No. 1 (Aug., 1980), pp. 1–13

"The Expulsion of the Triumphant Beast" (Spacio Della Bestia Trionfante) é o nome de um livro que Giordano Bruno escreveu e publicou em Inglaterra em 1584.
Parte deste livro foi traduzida para francês, em 1750, sob o título "Le Ciel Réformé, Essai de Traduction de Partie du Livre, Italien: Spaccio Della Bestia Trionfante: La Déroute ou L'Expulsion de la Beste Triomphante" e pode ser lido aqui (a partir da pág. 63)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

é fácil regressar à vida selvagem

"O facto de os cavalos terem sido domesticados antes de serem reintroduzidos importa pouco do ponto de vista biológico. Na verdade, a domesticação pouco os alterou, como podemos ver pela rapidez com que os cavalos regressam aos antigos padrões de comportamento na natureza.

Consideremos este exemplo. Para todos efeitos e objectivos o cavalo selvagem Mongol (E. przewalskii, ou E. caballus przewalskii) desapareceu do seu habitat na Mongólia e China do Norte há cem anos. Sobreviveu apenas em Jardins Zoológicos e Reservas. Isso não é domesticação no sentido clássico, mas é cativeiro, com tratadores a fornecer comida e veterinários a prestar cuidados de saúde. Depois animais excedentes foram libertados durante os anos 90 do séc. XX e agora voltaram a ocupar uma parte do seu território nativo na Mongólia e na China."

tradução de parte do artigo "A História Surpreendente dos Cavalos Selvagens Americanos" (The Surprising History of America's Wild Horses) de Jay F. Kirkpatrick e Patricia M. Fazio, 24 July 2008

fotografia aqui

terça-feira, 2 de agosto de 2011

linha dobrada

O rouxinol diz ao botão de rosa,
"Diz-me, quem está no teu coração?
Não há aqui ninguém, estamos sós."

"Não estamos sós aqui," responde a rosa,
"Enquanto estiveres contigo.
Não esperes nada de mim,
Livra-te primeiro de ti."

Fica a saber:
O buraco da agulha da ausência é muito pequeno,
Não permite a passagem de linha dobrada.

Rumi