O AMOR E A MORTE
FANTASIA ERÓTICA
A mulher que eu amo, que impressão me faz !
De cabelos rasos, parece um rapaz.
Mas os olhos dela, sem ela o querer,
É que dizem coisas que só de mulher.
As suas narinas vibram, a chamar
Os turvos eflúvios vagabundos no ar;
E os seus dentes, frios no sorriso moço,
Sinto-os, só de vê-los, contra o meu pescoço,
A mulher que eu amo, que impressão me faz !
Seu sorriso é triste, seu perfil minaz.
Os seus seios hirtos, pequeninos, túmidos,
Bastam a que os olhos se me façam húmidos.
Suas mãos felinas, logo que me tocam,
Meus nervos agudos todos se deslocam.
Suas ancas - taças do prazer - transbordam
De ópios que adormentam... mas que logo acordam.
Suas pernas magras de desenho fino
São como suspensos arcos de violino.
Quando as beijo, cego-me ! e esse beijo, corre
Como a onda solta que só longe morre.
Com o seu riso aéreo nos lábios vermelhos,
Ela, então, recebe-me, entre os nus joelhos,
Sobre o longo corpo inteiramente franco...
E os seus olhos mortos boiam só em branco.
José Régio, Filho do Homem, p. 10 e 11, Portugália Editora, Lisboa, 1970
Capa de João da Câmara Leme
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