Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.
Fernando Pessoa (1917), Obra Poética, in Eduardo Lourenço, Pessoa Revisitado, p. 15, Editorial Inova, Porto, 1973
Na imagem: maternidade em Bali; placenta pronta para levar para casa para ser lavada e enterrada.
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