Entre as grandes felicidades e victorias do notauel anno de 1625, pode Hespanha com razão contar e cantar a alegre noua do nouo descobrimento do Gram Cathayo, e Reynos de Tibet, cousa tantos annos ha dos Portuguezes desejada, e com tantos trabalhos e perigos dos Prègadores Euangelicos em vão té agora intentada. Digo felicidades e victorias do anno de 1625, por ser o Santo, e nelle a Rainha S. Isabel, Padroeira e Senhora deste reino canonizada; a Bahya restaurada com tanta gloria nossa, quanta infamia dos imigos; Bredà rendida, depois de tão perfiado cerco; a armada dos Olandezes vencida pella Portugueza no Oriente; a de Inglaterra frustrada de seus intentos, e rebatida dos nossos com tanto valor no Occidente; a Frota e naos da India, liures quasi milagrosamente da dos imigos.
Felicidades são, que fazem notauel, e memorauel o anno de 1625, e a nós notauel obrigação a ser dellas sempre lembrados, pera dar a sua diuina Magestade as deuidas graças. E com muito mòr rezão deue o mundo todo festejar a redução do grande imperio de Ethiopia á obediencia da Sancta Igreja Catholica Romana: imperio tão grande, que elle só he igual, ou mayor que toda nossa Europa, pois tem de largo quinhentas legoas e de comprido setecentas.
Padre António de Andrade, O Descobrimento do Tibet, (publicado em Lisboa, por Matheus Pinheiro, em 1626) Coimbra, Imprensa da Universidade, 1921, Edição Fac-Simile, Alcalá, Lisboa, 2005
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