Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




domingo, 16 de novembro de 2008

Quando negro valia ouro

"Fazia alguns anos, desde a lei de 1850 que proibira no Brasil o ingresso de novos escravos, negro valia ouro. Com a suspensão do tráfico e a crescente necessidade de braços para as lavouras do Sul, muitos senhores de engenho do Norte faziam fortuna exportando seus negros para as províncias meridionais. Os senhores do Engenho do Meio, não. Respeitando uma tradição que remontava a várias gerações passadas, até muito recentemente os Ribeiro jamais haviam transacionado com escravos. Não compravam nem vendiam. Os que ali estavam eram todos descendentes dos trazidos pelo bisavô de Ioiô Gonçalo, aquando da instalação do engenho, anos e anos atrás. Negros vez por outra enxertados com sangue novo de branco, de mestiço ou mesmo de escravos de outras propriedades, porém, em crcunstância alguma comercializados. Era uma espécie de acordo tácito, vantajoso para ambas as partes. Bem tratados e sem o fantasma da dilaceração familiar a lhes atormentar, os escravos do Engenho do Meio procriavam mais. Com isso, aumentavam a riqueza dos senhores, e os resguardavam dos prejuízos provocados por fugas, motins e sabotagens. Um arranjo simplista em sua concepção, mas que funcionara perfeitamente bem por muito mais tempo do que qualquer um ali podia se lembrar. Contudo, com a morte do Dr. Deocleciano, a pretexto de saldar débitos inadiáveis contraídos pelo finado, os novos senhores haviam quebrado a tradição. Violando a lei consuetudinária, venderam dois jovens escravos."

Aydano Roriz, Diamantes não são eternos, p. 60 e 61, Eurobest, Funchal, 2008

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