Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quinta-feira, 30 de junho de 2011

Anjo

"O artista não tem o direito de assentar os dois pés em terreno sólido - é uma pose inconveniente para voar. Uma posição muito melhor é estar no canto contra o mundo inteiro." Ruslan Vashkevich

esta pintura chama-se Anjo

quarta-feira, 29 de junho de 2011

uma corda de Inconsciente

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Fernando Pessoa (1917), Obra Poética, in Eduardo Lourenço, Pessoa Revisitado, p. 15, Editorial Inova, Porto, 1973

Na imagem: maternidade em Bali; placenta pronta para levar para casa para ser lavada e enterrada.

domingo, 26 de junho de 2011

não é necessário louvá-lo

O esquecimento realmente não tem necessidade de ser pregado aos homens, é inútil recomendá-lo; haverá sempre muitos banhistas nas águas do Létes; os homens têm já demasiada tendência a esquecer, de facto não pedem senão isso. Para quê exortá-los a seguir o caminho que eles já têm tanta vontade de seguir e que seguirão de qualquer modo?

Vladimir Jankélévitch, Le pardon, Paris, Aubier, 1967, p. 74 in Revue PHARES

sábado, 25 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Narzan

A uma hora em que parecia que já não chegavam as forças nem para respirar, quando o Sol, depois de ter abrasado Moscovo, se escondera no nevoeiro seco algures para lá da Sadovaia, não havia ninguém debaixo das tílias, ninguém sentado nos bancos. A alameda estava deserta.
-Dê-me uma água Narzan - pediu Berlioz.
-Não há Narzan - respondeu a mulher do quiosque parecendo ofendida.
-Tem cerveja? - perguntou «Bezdomni» com voz rouca.
-Cerveja só trazem à noite - respondeu a mulher.
-Que tem então? - quis saber Berlioz.
-Sumo de alperce mas está quente - disse a mulher.

Mikhail Bulgakov, Margarita e o Mestre, tradução do russo de António Pescada, p. 12, Contexto, Lisboa, 1991

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Aquilo que o silêncio era em 1084, quando São Bruno fundou a Ordem da Cartuxa, continua a ser, hoje, o silêncio." José Luís Peixoto

Fotografia: Tiago Miranda

sexta-feira, 17 de junho de 2011

os miseráveis

extractos de Porque é que as Sociedades Colapsam: Jared Diamond na Universidade de Princeton, Domingo, 27 de Outubro de 2002:


anais islandeses do ano 1379 dizem 'Neste ano os scralings (que é uma antiga palavra Nórdica que significa miseráveis, os Nórdicos não tinham uma boa atitude para com os Inuit), os miseráveis atacaram os Gronelandeses e mataram 18 homens e capturaram alguns jovens homens e mulheres como escravos.'
...
Os Nórdicos, por causa da sua má atitude para com os Inuit não adoptaram tecnologia Inuit útil, portanto os Nórdicos nunca adoptaram arpões, por isso não podiam comer baleias como os Inuit. Não pescavam, incrivelmente, enquanto os Inuit pescavam. Não tinham trenós puxados por cães, não tinham barcos feitos de peles, não aprenderam com os Inuit a matar focas nos buracos de respiração no inverno." 
...
Assim também houve factores culturais enquanto os Nórdicos recusaram aprender com os Inuit e recusaram modificar a sua própria economia de um modo que lhes tivesse permitido sobreviver. E então o resultado foi que depois de 1440 os Nórdicos estavam todos mortos (na Gronelândia), e os Inuit sobreviveram.


na imagem: achados arqueológicos, instrumentos encontrados em túmulos instrumentos Inuit muito semelhantes a instrumentos Nórdicos  (Inuit tools very Norse looking)

A fotografia está publicada sob o título "Pensamentos sobre Conexão" e a autora do blog pergunta: Conseguem dizer se estes instrumentos foram feitos pelo povo Inuit moderno ou pelo antigo povo Nórdico... ?

Can you tell if these tools were made by the modern Inuit people, or ancient Norse people... ?


--------------------------------------------------------------------


Why Societies Collapse: Jared Diamond at Princeton University, Sunday 27 October 2002

Icelandic annals of the years 1379 say ‘In this year the scralings (which is an old Norse word meaning wretches, the Norse did not have a good attitude towards the Inuit), the wretches attacked the Greenlanders and killed 18 men and captured a couple of young men and women as slaves.’
...
The Norse, because of their bad attitude towards the Inuit did not adopt useful Inuit technology, so the Norse never adopted harpoons, hence they couldn’t eat whales like the Inuit. They didn’t fish, incredibly, while the Inuit were fishing. They didn’t have dog sleighs, they didn’t have skin boats, they didn’t learn from the Inuit how to kill seals at breeding holes in the winter.
...
So there were cultural factors also while the Norse refused to learn from the Inuit and refused to modify their own economy in a way that would have permitted them to survive. And the result then was that after 1440 the Norse were all dead, and the Inuit survived.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ponto de interrogação

Qui es-tu, point d'interrogation?
Je me pose souvent des questions.
Dans ton habit de gala
Tu ressembles à un magistrat.
Tu es le plus heureux des points
Car on te répond toi au moins.
(Quem és tu, ponto de interrogação?
Eu questiono-me muitas vezes.
No teu hábito de gala
Pareces um magistrado.
És o mais feliz dos sinais de pontuação
Porque pelo menos obténs respostas.)

Patricia Dunker, A Sombra de Foucault, p. 78, Tradução: Rui Pires Cabral, Gradiva, Lisboa, 1998

quarta-feira, 15 de junho de 2011

a filosofia e o jornalista

A FILOSOFIA E O JORNALISTA
ou o consenso medíocre de publicitar

Carlos H. do C. Silva (Docente da UCP)

Como estamos longe da atitude do artista renascente a esconder a sua descoberta, a fazer da sua verdade segredo e sempre esforço e prova para os que a desejarem aceder! Um tesouro que, como na parábola evangélica, alguém descobre num terreno, enterrando-o de seguida, para depois ir comprar esse terreno... (Mt 13, 44) ou aquela evidência de que, mesmo no mais patente, é o latente que se mostra (naquele sentido de verdade, em grego alétheia, como a-"não" + letho "oculto", donde "desocultação", revelação... cf. Heidegger). Afinal, a compreensão de que faz parte da situação, até do muito que se pretende comunicar, essa "natureza que ama esconder-se" (Heraclito), esse pudor também de alguém que assim pense.

Será a máscara da linguagem desculpada tantas vezes a partir de outra sua especular e narcísica imagem, quando se diz que o pensamento é íntimo e em nome de subjectivismos, solipsismos ou outros "autismos" se remete a prova de racionalidade e de comunicabilidade do que se diz para algum esconso de memória (St. Agostinho) ou de interioridade.

No entanto, sem esta batota de permutação de máscara (mudando de personalidade até em heteronímia...) ou de linguagem (em 'tentação' de sucessiva meta-linguagem...como se marcou desde a meta-lógica de Gödel...) fica-se na momentânea desnuda evidência semelhante ao que afirmou o monge trapista, Thomas Merton, quando reflecte sobre o simbólico 'sacramental' do que será 'a comunhão para além de todas as palavras', por contraste com o comunicar o já comum, 'de todos e de ninguém'. A tal via oculta ou do pudor que nada tem a ver com segredinhos de intimidade refere a própria significação 'que mostra assim o sentido, sem o poder declarar' (Wittgenstein), ou que esgota a sua condição semiótica, de sinal indicativo justamente levando à performance ou à realização disso que se apontou.

O culto da palavra (que 'nunca é a coisa', como repete Krishnamurti) deriva da postura retórica e lógica que se dogmatiza depois politicamente numa certa representação da realidade: menos o meta-físico ressalto para um ver e um ser diverso, do que a arquitectura mental a partir de uma gramática filosófica.

Fica mais e mais esquecido o aforismo heraclitiano de que "o oráculo de Delfos nem declara nem esconde, mas apenas indica", fazendo-se do sinal uma significação inteira, e da vida aludida, uma vida conversada até à exaustão taxinómica, legal, até literária..., tal a azáfama de se ter de falar (a Gerede, o "falatório"...; Heidegger), talvez como quem 'assobia no escuro'..., mas por certo naquela mínima e peculiar função rética ou "de contacto" que tem a linguagem (Jakobson). Já não um dizer prenhe de realidade, nem sequer a fábula da cidade dos entretenimentos culturais e morais, apenas a comunicação social no preventivo de uma estratégia pós-traumática (Philippe Breton), após a catástrofe de guerras apocalípticas e do por demais rasgado de uma retórica a desoras.

Se o jornalista derivado do escritor, ou seu parente, cumpria desde a ideologia das Luzes o ritmo do progresso não só pela informação agora mais generalizada, mas também o ideal pedagogista de uma função de educação democrática cada vez mais alargada, tanto a complexidade e alteração técnica dos meios de comunicar, como a nova voragem política de influenciar as massas humanas fez dos media um modelo de poder (hoje dito o 4º poder). E o que está em causa nem sequer é uma filosofia social, como psicologia de massas, como um aproveitar a ingénua curiosidade ou a perversa coscuvilhice para semear a diária necessidade de saber novidades, de estar mais informado, de capitalizar proveitos excluindo, em nome desta publicidade, outra inteligência da vida que não passe pela «opinião pública». Trata-se antes de reflectir sobre o modo acrítico e progressivamente passivo com que o gigantismo da influência, do jornalismo e hoje dos media, em especial dos áudio-visuais, vai constituindo o 'filme' da realidade (a "sociedade espectáculo" como reconheceu Guy Debord...). Obrigando-se todos a 'verem' o mesmo, ou quase, e afirmando-se retoricamente como «opinião pública» aquilo que, afinal, deriva em grande parte dos opinion makers e dos interesses, hoje sobretudo económicos, que pretendem 'vender', seja produtos publicitados, seja uma política, uma religião, afinal uma moral (seja da telenovela ou do futebol obrigatório...)

A denúncia desta alienação, até desta compulsividade de estabelecer consensos, de garantir um nível médio de informação que se crê comunicável só porque replicada em termos das mesmas fórmulas, de uma estatística de resultados assim convincentes..., já por demais foi feita sobretudo em termos humanísticos ou de valores a defender (vejam-se as 'deontologias' as legislações do jornalismo, as 'éticas' da comunicação social, etc.). No entanto, não tem sido essa reserva moral, nem uma filosofia sequer da linguagem, a mais ter êxito no policiamento desse alastramento da máscara do comunicador social a toda a sociedade.

Aliás, as transformações tecnológicas dos meios de comunicação (desde o ritmo da rádio e da televisão, ao vídeo e ao telemóvel, à internet e à 'realidade virtual' ...) trouxe ressaltos de avanço ou de mutação que tornaram obsoletas muitas das referências quer da moral da notícia escrita, quer da lógica da análise dos argumentos na racionalidade linear do texto. A possibilidade de cada um com a sua câmara de vídeo do telemóvel (ou de outros artefactos que aí venham...) poder também a seu modo ser 'jornalista' fazendo a notícia; ou a grande liberdade e globalização de uma memória tão extensa quanto a da net, permitindo compor os menus da própria informação, já longe das tutelas dos opinion makers encartados... - trazem consigo a oportunidade para diversa inteligência filosófica.

Trata-se de interrogar não a partir de um parti pris do humano ("demasiado humano"), mas de equacionar até por essa nova linguagem sobretudo icónica, de imagens (um outro cinema pensante...) e gestos em que a "realidade" se reinventa. Filosofia que não se fique pela teoria do consenso ou outra função sucedânea do que nas linguagens fica por dizer, mas ouse aprofundar a moderna instrumentação dos sentidos além da obsessiva tutela do lógos, também como palavra, para perceber que nesse 'comunicar tudo em toda a parte e a todo o momento' não é só a utopia (Ph. Breton) de uma escala em que tal 'sistema nervoso' do planeta nada tem a ver "comigo", mas há um intersticial desenho, uma poética para se preservar outro criativo uso dos media.

Uma espécie de 'dar a César o que é de César...', ou seja, devolver para a ordem computatorial ou do pensar mecânico o que cada vez mais nos liberte dessa tarefa havendo quem assim "pense por nós", que a inteligência advém num não-pensar, mas num ver, uma directa evidência. E se de futuro advier, como cada vez é mais provável, uma forma de "psicografar" o pensamento e o transmitir de 'cérebro' a 'cérebro', como hoje de 'computador' a 'computador'..., o emprego dos jornalistas e de toda esta indústria de jogo de máscaras pós-babélico terá os seus dias contados...

E, já agora: "dar... a Deus o que é de Deus", que é como quem diz, não deixar de atender ao que no agora (o Jetztzeit, o "tempo de já" ou "emergência temporal" de Walter Benjamin) não é mera oportunidade (e menos sensacionalismo inactual), ao que no vero comungar da vida se faz sinal do sempre irredutível ao ritmo pretérito do já sabido (Krishnamurti: «Freedom from the Known»), libertando-nos da autómata "sociedade do conhecimento" e do seu escravizante jornalismo de médios conformismos (replicada aurea mediocritas...), para escutar o que na própria informação é in-forme e demanda uma filosofia de vida. Assim, face a este sagrado do novo, se o que assim é contemplativo se juntar "á triunfante multidão mentecapta dos publicitários e dos engenheiros de opinião, então nada mais nos restará senão a loucura total." (Th. Merton).

Revista CAIS, #120, Junho 2007, pp. 20 e 21
http://www.cais.pt/

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Primavera do Amor

Дорогой длинною (Dorogoi dlinnoyu) "Num Caminho Longo" é uma canção russa com uma longa história. Terá sido criada pelo famoso ano de 1917. A música é de Boris Fomin e a letra de Konstantin Podrevskii. Foi primeiro muito popular, depois foi considerada imprópria e banida, depois voltou a ser popular e mais tarde silenciada, etc.
Nos anos 60 chegou ao ocidente. Em 1968 uma versão em inglês chamada "Those Were the Days" tornou-se famosa em Inglaterra, nos EUA e depois um pouco por todo o mundo. Foram gravadas versões em muitas línguas e países diferentes.
Em Portugal foi cantada por Natércia Barreto com o título "A Primavera do Amor". É a segunda canção do vídeo, começa a 2.42 (carregar aqui).
A primeira canção "Óculos de Sol", no entanto, foi muito mais famosa. Quando tinha 9 ou 10 anos aprendi-a com uma amiga que a sabia de cor :)
A canção russa existe em muitas versões no Youtube, nalgumas descrições é simplesmente dita canção popular russa ou canção cigana.
A minha versão favorita é cantada por Vitas (carregar aqui). Quando há uns meses a ouvi pela primeira vez fez-me realmente lembrar ... o quê ... ??? não consegui saber ... de modo que ao descobri-la agora no Youtube fiquei encantada !!! :)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

tudo o que me importa é saciar a tua sede de liberdade

Sei como podes ficar
Quando não tiveste a bebida do Amor:

A tua face endurece
Os teus doces músculos têm caimbras.
As crianças preocupam-se
Com um estranho olhar que aparece nos teus olhos
Que até começa a preocupar o teu próprio espelho
E nariz.

Os esquilos e as aves sentem a tua tristeza
E convocam uma conferência importante numa árvore alta.
Decidem que código secreto cantar
Para ajudar a tua mente e alma.

Até os anjos temem
Essa marca da loucura
Que se dispõe a si mesma contra o mundo
E atira pedras e lanças afiadas ao
Inocente
E ao seu próprio ser.

Oh eu sei como podes ficar
Se não tens andado a beber Amor:
Podes rasgar
Cada frase que os teus amigos e professores dizem,
À procura de sentidos escondidos.

Podes pesar numa balança cada palavra
Como um peixe morto.

Podes arranjar uma régua para medir
De todos os ângulos da tua escuridão
As belas dimensões de um coração em que uma vez
Confiaste.
Sei como podes ficar
Se não tiveste uma bebida das mãos
do Amor.
É por isso que os Grandes falam da
Necessidade vital
De continuar a lembrar Deus,
Para que possas conhecer e ver como Ele
É Brincalhão
E Quer
Apenas Quer ajudar.

É por isso que Hafiz diz:
Traz o teu copo perto de mim.
Porque tudo o que me importa
É saciar a tua sede de liberdade!

Tudo o que importa a um homem sensato
É dar Amor!

HAFIZ

segunda-feira, 6 de junho de 2011

rodeado de sardinhas

há quase um mês que ando a viajar no estrangeiro e amanhã apanho o avião de regresso a Portugal,
mas em imaginação já estou a regressar desde ... antes de ontem ... !? :)
a coisa mais engraçada que me disseram sobre Portugal:
é um país rodeado de sardinhas ;)