Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




terça-feira, 26 de julho de 2011

Lenda histórica de Sun Bu-er

Este excerto lendário é retirado de "Sete Mestres Taoistas: Uma Novela Popular da China" (Seven Taoist Masters: A Folk Novel of China), escrita anonimamente no séc. XVI e traduzida por Eva Wong (Shambala 1990).

A Irmã Imortal Sun Bu-er (Sun Pu-erh) foi uma figura histórica do séc. XII assim como a heroína de muitas lendas chinesas. Casou e teve três filhos antes de se dedicar completamente às práticas Taoistas com a idade de 51 anos.

1
Sun Bu-er viveu doze anos na cidade de Loyang. Alcançou o Tao e adquiriu capacidades mágicas muito poderosas. Um dia disse para si mesma, "Vivi muito tempo em Loyang. Agora alcancei o Tao, devo demonstrar os poderes do Tao às pessoas." Sun Bu-er apanhou dois ramos secos e soprou-os suavemente. Instantaneamente os dois ramos foram transformados num homem e numa mulher. A mulher parecia-se com Sun Bu-er, e o homem parecia um belo homem dos seus trinta anos. O casal foi para as ruas mais movimentadas da cidade e começaram a rir-se, a abraçar-se e a arreliar-se um ao outro. Loyang era o centro de altos estudos e cultura nesse tempo, e um comportamento tão vergonhoso em público entre um homem e uma mulher não era tolerado. No entanto apesar das repreensões das autoridades e dos professores da comunidade, o casal continuou os seus jogos e brincadeiras dia após dia. Mesmo depois de os guardas os terem levado para fora da cidade foram de novo encontrados nas ruas mais movimentadas no dia seguinte.

2
Quando os membros proeminentes da comunidade viram que os seus esforços para banir o casal para fora da cidade eram em vão reuniram-se em conselho e foram ter com o presidente dizendo, "Há muitos anos uma mulher louca refugiou-se numa casa abandonada à beira da cidade. Tivemos pena dela e demos-lhe comida quando pedia. Agora não só está a esquecer a nossa bondade para com ela mas tornou-se uma
perturbação da paz pública e da decência. Gostaríamos de pedir-lhe que prendesse este casal sem vergonha e os queimasse em público. Chegámos a este último recurso porque eles ignoraram os nossos pedidos e as nossas ameaças." Um dos chefes mais poderosos da comunidade acrescentou: "Senhor, como presidente da nossa cidade é responsável pelo comportamento dos nossos cidadãos. Tem que fazer alguma coisa acerca deste casal desavergonhado." Não querendo ofender os cidadãos poderosos da comunidade, o presidente fez um decreto e mandou afixá-lo por toda a cidade. Dizia:

"Loucura é o resultado de perder a razão. Sem razão todas as acções se tornam irracionais. Que um homem e uma mulher se abracem e brinquem em público é quebrar as regras do que é próprio. Se exibem um tal comportamento durante o dia não há nada que não possam fazer à noite. As ruas da cidade não são lugares para brincadeiras. Ter um tal comportamento em público é abominável. Pedimos-lhes que se fossem embora, mas recusaram. Levámo-los para fora da cidade mas voltaram. Só nos resta fazer uma coisa. Vamos prendê-los e queimá-los em público. Assim podemos livrar-nos destas más personagens."

3
Com os guardas da cidade, chefes da comunidade e uma grande multidão, o presidente dirigiu-se à casa abandonada à beira da cidade onde fora relatado que estavam o homem e a mulher. Quando se aproximavam da casa o presidente disse, "Que todos tragam alguma lenha seca e galhos. Faremos um pilha com eles em torno da casa e queimamos este lugar abominável, assim como a mulher louca e o homem sem vergonha." A multidão fez a pilha de ramos secos em torno da casa e pegou-lhes fogo. Chamas e fumo engoliram o edifício.

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Subitamente o fumo cinzento transformou-se em névoa de muitas cores e a mulher louca foi vista sentada na abóbada de nuvens, rodeada pelo homem e pela mulher que as pessoas tinham visto a brincar nas ruas. Sun Bu-er disse à multidão lá em baixo: "Procurei o Tao. A minha casa é na Provincia de Shantung e o meu nome é Sun Bu-er. Há doze anos cheguei a Loyang. Disfarcei-me de mulher louca para que pudesse prosseguir em paz no caminho do Tao. Finalmente atingi-o e hoje serei levada para os céus pelo fogo e pelo fumo. Transformei dois paus num homem e numa mulher para que as circunstâncias vos trouxessem aqui e conhecessem o mistério e poderes do Tao. Em troca da vossa bondade e hospitalidade para comigo através dos anos vou dar-vos este casal. Eles serão os vossos guardiães, e eu zelarei para que as vossas colheitas sejam abundantes e a vossa cidade protegida de pragas e desastres naturais." Sun Bu-er empurrou o homem e a mulher e eles caíram sobre a multidão lá em baixo. Instantaneamente o casal se transformou novamente na sua forma original.


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A multidão apanhou os dois paus, mas quando voltaram a olhar para o céu tudo o que viram foi uma pequena figura negra a ficar cada vez mais pequena à medida que voava mais e mais alto. A figura tornou-se um ponto, e finalmente o ponto desapareceu. A multidão inclinou o pescoço em respeito e dispersou. Nos cinco anos seguintes, Loyang gozou de uma prosperidade nunca igualada em nenhuma cidade da China. Os seus campos produziram colheitas fartas e o gado era saudável e abundante. As chuvas chegaram no tempo próprio e a cidade e os terrenos à volta pareciam imunes aos desastres naturais. Gratos a Sun Bu-er os cidadãos construíram-lhe um santuário. Nele estava uma estátua como ela, e com ela estavam estátuas do homem e da mulher que ela tinha criado de dois paus. O santuário foi chamado Santuário dos Três Imortais. Foi dito que aqueles que apresentavam ofertas com sinceridade receberam bênçãos dos três imortais.

tradução do texto inglês publicado aqui e imagem aqui

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