Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




terça-feira, 28 de outubro de 2008

A fonte do esperado e do inesperado

O que aparece na televisão é mais real. O argumento "mostraram na televisão" termina definitivamente qualquer dúvida. Por outro lado o que não aparece na televisão é quase como se não existisse, pelo menos não tem a importância do que a televisão mostra. Aparecer na televisão é também sinal indiscutível de sucesso.

O que aparece na televisão constitui o grosso dos assuntos de conversa quotidianos. O resto é bisbilhotice. As pessoas cultas acompanham diariamente as notícias da televisão e são capazes de reproduzir as teses e os argumentos mais actuais e correctos.

A televisão e as pessoas que lá aparecem fazem companhia, são conhecidas e amigas. Que seria das instituições onde se acolhem idosos, jovens, crianças, doentes e outras pessoas carenciadas, sem a televisão para as entreter? O que seria de todas as pessoas que vivem sós sem a televisão para lhes fazer companhia? O que seria das famílias sem a televisão para lhes dizer o que hão-de comprar, pensar e fazer?

Além da televisão, também há a rádio e os jornais para ajudar: estão todos de acordo sobre o que é verdade e importante. As notícias e a publicidade repetem-se e reproduzem-se por todos os meios. A liberdade de expressão manifesta-se aí: aparecem as teses, as antíteses e as sínteses. E o que não aparece não tem importância, é como se não existisse.

Felizmente o que não aparece na televisão é quase tudo. Quem não vê televisão conhece o mundo alma a alma e corpo a corpo e alma a corpo. Contempla e desfruta a paisagem, o tempo e a solidão. Funde-se com a fonte dos dias sem mediação: imediatamente.

Os "mass media" são a mediação que cria, reproduz e mantém as "massas". Os "mass media" põem as pessoas a saber o que é preciso saber e ignorar o que é correcto ignorar.

A oportunidade de aparecer na televisão está democraticamente ao alcance de todos. Há concursos e outros programas para que cada espectadora ou espectador possa gozar os minutos de fama a que tem direito.

Claro que a televisão não é perfeita e se pode dizer mal dela, não lhe prestar atenção, desligá-la e tudo. O que ainda a torna melhor. Por outro lado, é claro, a verdade manifesta-se em todo o lado, até na televisão. Pode aprender-se com tudo, até com a televisão. Pode fazer-se muita coisa e também televisão.

Omnipresente, omnipotente e omnisciente é que ela não é, ainda que o pareça. A internet, sua séria concorrente, também não. Nem a literatura ou os outros livros. Nem nenhum Estado, organização, lei, técnica, método ou estratégia. Tudo isto surge da fonte do esperado e do inesperado.

5 comentários:

Aurora disse...

se bem o pensaste, melhor o escreveste!!!!!

gostei MUITO.

QZ disse...

O conceito de verdade, efeito também da democracia, baseia-se na quantidade. Se a TV é o veículo dos mass media que a mais pessoas chega, logo deverá ser aquele que veicula a verdade.
O mesmo critério pode ser utilizado na comparação da mesma otícia, por dois jornais diferentes. O que torna um jornal credível, senão a sua tiragem ou pertença a um grande grupo económico?

almariada disse...

Obrigada Aurora.

Olá Luce! :) Acreditar ou não acreditar, eis a questão! ;)

Anónimo disse...

Adorei tudo que pensaste. Traduz tudo.
Parabéns!

almariada disse...

Obrigada Manuela! Volta sempre! :)