Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




terça-feira, 30 de setembro de 2008

O que é o dinheiro?

O valor do dinheiro não é material, é convencional. Agora os escudos não valem nada e com euros compra-se o que está à venda. Agora não vale nada o que se comprou ontem com um empréstimo que vai demorar anos a pagar. Quem não tem dinheiro julga que seria mais feliz se tivesse muito, quem tem dinheiro e não se sente feliz não sabe o que lhe falta. Há quem tenha dinheiro e se julgue pobre porque só repara em quem tem mais e quem não tenha dinheiro e se julgue rico porque só vê os que têm menos. Há finalmente mil e um outros assuntos que fazem esquecer este. Num mundo obcecado pelo dinheiro, no entanto, este não está nos currículos escolares. O que é o dinheiro? De quem é o dinheiro? Quem faz o dinheiro? Onde é feito? Onde são feitas as máquinas de fazer dinheiro? Quem trabalha nessas fábricas? Ninguém nas escolas sabe nada sobre isto. Porquê?

Esta é apenas uma das inúmeras coisas que não se aprendem na escola, onde, no entanto, se ensinam e aprendem tantas coisas desejadas e indesejadas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

rios de poesia

Antes de haver internet e blogs era muito complicado publicar. Agora há rios de poesia a correr para o oceano da net...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Como saber se o inverno vai ser frio

No outono os índios Blackfeet perguntaram ao Chefe se o inverno ia ser frio ou não. O Chefe não sabia realmente mas respondeu que sim, que o inverno ia ser frio, e que todos deviam ir apanhar e cortar lenha.

Como ele era um bom Chefe foi de seguida à cabine telefónica mais próxima, ligou para o Serviço Meteorológico Nacional e perguntou: “Este inverno vai ser frio?” O homem ao telefone respondeu, “Sim, com certeza que este inverno vai ser frio.”

Portanto o Chefe voltou para o seu povo e disse-lhes que se despachassem a apanhar ainda mais lenha.

Uma semana onde mais tarde ligou novamente para o Serviço Meteorológico Nacional “O inverno vai ser muito frio?”

“Sim,” respondeu o homem, “vai ser um inverno muito frio.”

Assim o Chefe voltou para o seu povo e disse-lhes que apanhassem cada bocadinho de madeira que conseguissem encontrar.

Duas semanas mais tarde telefonou outra vez para o Serviço Meteorológico Nacional e perguntou: “Tem a certeza absoluta de que o inverno vai ser muito frio?”

“Absoluta” respondeu o homem, “os Blackfeet andam a apanhar lenha que nem doidos!”

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"O gosto de escrever que vou perdendo"

Hoje encontrei um site onde está todo o texto de Os Lusíadas e que permite pesquisar palavras no texto, o que pode ser um passatempo interessante. Foi assim que descobri esta frase de Luís de Camões:

“O gosto de escrever, que vou perdendo.” Canto X, estrofe 8, linha 8

E veio-me à memória uma frase batida: acontece aos melhores.

Obrigada também ao Sérgio Godinho porque não me ocorreu melhor que citá-lo :)

Que seria de nós sem os nossos poetas?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Silêncio

Não basta não dizer nada, ou não escrever nada, para transmitir silêncio.

O silêncio não se transmite, está sempre aqui para nós - podemos ocultá-lo com barulho, ou brincar com ele com música, mas não podemos criá-lo nem destruí-lo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Um acordeão faz-se por três fases

José Domingos Horta, construtor de acordeões, Tavira

«Um acordeão faz-se por três fases: é a caixa, o fole e a mecânica. Isto antes de tocar, porque depois vem a música e os cepos. Faço tudo, está a ver? As peças, essas também as faço aqui. Cada cunho daqueles faz uma peça…».

«Aqui só se compram os botões, os fechos e os grampos. De resto, tudo é feito por mim».

«Ainda no outro dia deu uma reportagem, na televisão, a dizer que a única fábrica de acordeões estava em Ferreira do Zêzere. Mas só eu é que os faço do princípio ao fim! As outras pessoas montam peças ou reparam-nos.»

«Ainda quis ensinar a alguns jovens as técnicas, mas a verdade é que foi mais o tempo que demorei a preparar o material, do que o que eles estiveram na oficina. É preciso vagar para aprender e as pessoas não estão para isso»

sábado, 20 de setembro de 2008

Faz hoje cem anos

Esta história de Little Nemo in Slumberland foi publicada num jornal americano há cem anos. Era domingo. O seu autor foi Winsor McCay.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Acordar

Acordar é uma experiência quotidiana que nunca acontece da mesma maneira.

Quando acontece de manhã dá início áquilo a que chamamos um dia. Quando acontece a meio do dia dá início a um período de vigília. Quando acontece a meio da noite dá início a um período de insónia.

Lá, de onde acordamos, tivemos ou não tivemos sonhos de que nos recordamos ou não nos recordamos e nos fazem sentir o que sentimos ao acordar.

Cá, onde acordamos, há que estabelecer a relação com o onde, o quando e o como estávamos quando nos deixámos dormir - o que nem sempre é fácil - e ainda com o onde, o quando e o como estamos ao acordar - o que também pode ser difícil.

Ao acordar podemos sentir a realidade a reconstituir-se para nós.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O santo que voava

Hoje é dia de São José de Cupertino, o santo que voava. Nasceu e morreu no séc. XVII, em Itália. Pobre e incapaz de aprender a ler e a escrever foi desprezado, ridicularizado como Frei Burro, e afastado dos conventos. Acabou por se tornar padre franciscano devido a uma série de acontecimentos inesperados. Na igreja acontecia-lhe levitar e andar pelo ar, no jardim levitava e pousava nas árvores onde ficava ajoelhado. É o padroeiro dos estudantes, dos pára-quedistas e dos aviadores.

Engolir o peixe com espinha e tudo

"Para mim e para meu povo, ler e escrever é uma técnica, da mesma maneira que alguém pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma máquina. Então a gente opera essas coisas, mas nós damos a elas a exacta dimensão que têm. Escrever e ler para mim não é uma virtude maior do que andar, nadar, subir em árvores, correr, caçar, fazer um balaio, um arco, uma flecha ou uma canoa. Acredito que quando uma cultura elege essas actividades como coisas que têm valor em si mesmas está excluindo da cidadania milhares de pessoas para as quais a actividade de escrever e ler não tem nada a ver. Como elas não escrevem e não lêem, também nunca serão parte das pessoas que decidem, que resolvem. E quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetização como quem compra um peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria. Acho que a maioria das crianças que vão hoje para a escola e que são alfabetizadas é obrigada a engolir o peixe com espinha e tudo. É uma formação que não atende à expectativa delas como seres humanos e que violenta sua memória. Na nossa tradição, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas práticas de convivência."

Ailton Krenak, do povo Krenak, Brasil

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pensamento cheio de esquecimento

Os espíritos xapiripë dançam para os pajés desde o primeiro tempo e assim continuam até hoje. Eles parecem seres humanos mas são tão minúsculos quanto partículas de poeira cintilantes. Para poder vê-los deve-se inalar o pó da árvore yãkõanahi muitas e muitas vezes. Leva tanto tempo quanto para os brancos aprender o desenho de suas palavras. O pó do yãkõanahi é a comida dos espíritos. Quem não o "bebe" assim fica com olhos de fantasma e não vê nada.

Os xapiripë dançam juntos sobre grandes espelhos que descem do céu. Nunca são cinzentos como os humanos. São sempre magníficos: o corpo pintado de urucum e percorrido de desenhos pretos, suas cabeças cobertas de plumas brancas de urubu rei, suas braçadeiras de miçangas repletas de plumas de papagaios, de cujubim e de arara vermelha, a cintura envolta de rabos de tucanos.

Milhares deles chegam para dançar juntos, agitando folhas de palmeiras novas, soltando gritos de alegria e cantando sem parar. Seus caminhos parecem fios de aranhas brilhando como a luz do luar e seus ornamentos de plumas mexem lentamente ao ritmo de seus passos. Da alegria de ver quanto são bonitos!

Os espíritos são tão numerosos porque eles são as imagens dos animais da floresta. Todos na floresta têm uma imagem utupë: quem anda no chão, quem anda nas árvores, quem tem asas, quem mora na água. São estas imagens que os pajés chamam e fazem descer para virar espíritos xapiripë. Esta imagens são o verdadeiro centro, o verdeiro interior dos seres da floresta. As pessoas comuns não podem vê-los, só os pajés. Mas não são imagens dos animais que conhecemos agora. São imagens dos pais destes animais, são imagens dos nossos antepassados.

No primeiro tempo, quando a floresta estava ainda jovem, nossos antepassados eram humanos com nomes de animais e acabaram virando caça. São eles que flechamos e comemos hoje. Mas suas imagens não desapareceram e são elas que agora dançam para nós como espíritos xapiripë. Estes antepassados são verdadeiros antigos. Viraram caça há muito tempo mas seus fantasmas permanecem aqui. Têm nomes de animais mas são seres invisíveis que nunca morrem. A epidemia dos brancos pode tentar queimá-los e devorá-los, nunca desaparecerão. Seus espelhos brotam sempre de novo.

Os brancos desenham suas palavras porque seu pensamento é cheio de esquecimento. Nós guardamos as palavras dos nossos antepassados dentro de nós há muito tempo e continuamos passando-as para os nossos filhos. As crianças, que não sabem nada dos espíritos, escutam os cantos do pajés e depois querem ver os espíritos por sua vez. É assim que, apesar de muito antigas, as palavras dos xapiripë sempre voltam a ser novas. São elas que aumentam nossos pensamentos. São elas que nos fazem ver e conhecer as coisas de longe, as coisas dos antigos. É o nosso estudo, o que nos ensina a sonhar. Deste modo, quem não bebe o sopro dos espíritos tem o pensamento curto e enfumaçado; quem não é olhado pelos xapiripë não sonha, só dorme como um machado no chão.

Davi Kopenawa Yanomami

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

COMO DIRIGIR-NOS AOS GATOS

Vós já haveis lido acerca de muitas espécies de gato

E agora a minha opinião é a de que

Não precisais de intérprete

Para compreender o seu carácter.

Haveis aprendido o suficiente para verem

Que os gatos são muito parecidos convosco e comigo

E com outras pessoas que encontramos

Possuídas por várias espécies de espírito.

Pois algumas são sãs e outras são loucas

E algumas são boas e outras são más

E algumas são melhores, outras são piores –

Mas todas podem ser descritas em verso.

Haveis visto os gatos tanto no trabalho como em jogos,

E haveis aprendido os seus correctos nomes,

Os seus hábitos e o seu habitat:

Mas

********Como nos devemos dirigir a um gato?

(...)

Para ler o resto:

T. S. Eliot, Antologia Poética, p. 104, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1988

domingo, 14 de setembro de 2008

Sabor pensado

É vulgar acreditar que os pensamentos são palavras. Hoje de manhã, antes de me levantar da cama, pus-me a pensar no sabor da salada de alface que comi ontem ao jantar - só hoje de manhã, depois de sentir o seu sabor no pensamento, é que pensei, com palavras, que estava óptima. Ontem apenas a comi e senti.

É neste tempo, entre o acordar e o levantar-me da cama, que me acontecem os pensamentos mais inesperados. Depois já não sei se me acontecem se sou eu que quero pensá-los...

sábado, 13 de setembro de 2008

Internet

Ninguém a previu até aparecer, excepto, talvez, os profetas da era de aquário que previam uma nova era em que o mais importante seria a comunicação.

Até quando haverá internet?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Era uma vez um leão

“Enquanto os leões não tiverem historiadores, as histórias de caça glorificam o caçador.” Provérbio do Chade

Era uma vez um leão. Os leões não se preocupam com o tempo nem com o lugar, por isso não se sabe quando nem onde aconteceu esta história nem isso é importante. O leão nasceu numa família de três leoas, um leão e quatro leõezinhos. No início mamava e aprendia a ver e compreender e logo começou a brincar e a aprender a caçar. Lá em cima estava o céu e cá em baixo a terra. O leão gostava de tudo, mas do que ele gostava mais era da mãe. A mãe dele era muito carinhosa e também uma excelente caçadora por isso a vida era boa e o leãozinho crescia feliz e contente no seio da sua família.

*

Quando a juba lhe começou a crescer também algo nele cresceu que o fez alargar as suas explorações e o território a percorrer era imenso. Descobriu então outras famílias de leões e também mais animais do que aqueles que caçava e comia. Descobriu paisagens diferentes e passeava. O leão passeava. *

Quando estava cansado dormia. Os seus sonhos e as suas aventuras misturavam-se e não se misturavam. O leão vivia o que sentia e sentia o que vivia. Tornou-se um grande leão e conheceu leoas de quem gostou e com quem constituiu família. Teve filhos. Brincou com eles. Lutou com outros leões. Conheceu fome e fartura, doença e saúde. Conheceu as cores, os cheiros, os ventos, a música do mundo. Conheceu o seu próprio rugido e as vozes de inúmeros animais assim como a textura de muitos silêncios diurnos e nocturnos. Conheceu o entusiasmo e o cansaço. O leão corria, o leão bocejava. O leão fechava os olhos e não dormia. O leão pensava. O leão perdia o contacto com a realidade.

*

O estar do ser é música. Um eterno agora que se repete e não se repete, como os espectáculos ensaiados. Também lhes podemos chamar estados de espírito. E há tantos que não há nomes que cheguem, são como as cores que vemos e como as cores que já não vemos mas podemos acreditar que existam. Os estados de espírito são como os cheiros do ar de que só nos apercebemos quando se alteram e que, se nos acostumamos a eles, deixamos de sentir.

*

As metamorfoses dos estados de espírito, espontâneas e calculadas, são tão espantosas quanto as das plantas e dos animais e acompanham-nas, estão-lhes afectas. De todas as metamorfoses são as das nuvens as mais rápidas e radicais. Acompanhá-las abre o espírito aos sinais. Os modos como a luz do sol lhes toca, as atravessa, se reflecte nelas e os modos como elas o ocultam, o descobrem, correm ao seu encontro, ou dele se afastam, os modos como descem em nevoeiro e sobem encostas de montanhas como se fossem animais grandes, esfarrapados, em transformação, assim os estados de espírito se desmancham ou tomam forma.

*

E então já não é o leão que pensa com os olhos fechados, mas toda a família pensa agitando as caudas para afastar as moscas. Nós não voamos como as aves mas também nós, como elas, andamos atrás das metamorfoses da nossa alimentação. Levantamo-nos e vamos e, enquanto vamos, existimos em bando, reconhecemo-nos, chamamo-nos, esperamos uns pelos outros e os nossos estados de espírito comungam o Sol que se põe, o Sol que nasce, a Lua que se torna fina e desaparece e regressa e arredonda. Nós, leoas e leões, conhecemos as aves que pousam ao pé de nós e em cima de nós nos desparasitam, uma por uma, com os olhos fechados.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Inteligência?

O significado das palavras é um tema interessante e a crença nos dicionários também mas não será esse o tema principal deste post. Vamos admitir o significado habitual de inteligência para colocar estas questões:

Porque é que as máquinas são inteligentes e os animais têm instintos?

Porque é que o universo e a origem da vida são atribuídos ao acaso e não à inteligência?

Se perguntarmos para quê, em vez de porquê, compreendemos melhor?

sábado, 6 de setembro de 2008

A PLANTA E AS SILVAS

"A planta lamenta-se do pau seco e velho que lhe puseram ao lado, e das silvas secas que a rodeiam: ora, um mantém-na direita, e as outras guardam-na das más companhias."

*

Leonardo da Vinci

Bestiário, fábulas e outros escritos, p. 52, Assírio e Alvim, Lisboa, 2007

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Humor

"A vida está cheia de infelicidade, solidão e sofrimento - e acaba demasiado cedo." * e * "Podes viver até aos cem anos se desistires de tudo o que te faz desejar viver até aos cem anos." * Woody Allen

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

"Supõe que tu e eu discutimos"

"Supõe que tu e eu discutimos. Se tu ganhas e eu perco, quer dizer que, na verdade, tu estás certo e eu errado? E se eu ganho e tu perdes, quer dizer que eu estou certo e tu errado? Estamos em parte certos e em parte errados? Estamos ambos completamente certos e completamente errados? Se tu e eu não conseguimos ver a verdade, muito menos os outros a conseguirão ver."
*
Chuang Tse, Capítulos Interiores, p. 36, Estampa, Lisboa, 1992
*
Chuang Tse terá vivido entre o séc. III e IV a. C. Um dos seus textos mais famosos é "A felicidade dos peixes".

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poesia para crianças

"Um parvo houve por bem
Ir correr a Rússia a fundo
Para ver se via o mundo
E dar nas vistas também
*
Pelo caminho encontrou
Duas isbas isoladas
E nem vivalma lá dentro.
Foi ver à cave e que viu?
Uns diabos mafarricos
De bigodes eriçados,
Olhos grandes esbogalhados,
A cabeça muito em bico,
Dedos compridos em garra,
Ali a jogar às cartas,
A chocalharem os dados,
A contarem o dinheiro.
Diz-lhes o Parvo, lampeiro:
«Ora Deus seja convosco!
Convosco, gente de bem!»
*
Isto não lhes caiu bem
Aos diabos, não gostaram
E ao Parvo se agarraram.
Desataram a bater-lhe,
Por pouco que o não esganaram;
Ficou mais morto que vivo,
Só então eles o largaram.
*
Então o Parvo lá voltou
Lavado em pranto pra casa,
E grandes gritos soltava.
Logo a mãe barafustou,
A mulher o insultou
E a irmã acrescentava:
-Que grande burro és, Babine!
És mesmo um parvo chapado!
Não lhes soubeste dizer
O que era mais indicado;
Devias ter dito assim:
«Oh! Deus Nosso Senhor,
Sê maldito, ó inimigo!»
Logo os verias pelas costas,
Nada mais queriam contigo
E era pra ti, grande parvo,
O dinheiro das apostas!
*
-Está entendido, mulheres!
Fica assente, mulher minha,
Lukéria, minha mãezinha
E Tchernava, minha irmã...
Hoje fui parvo, pois fui;
Não o serei amanhã!
(...)"
*
Leão Tolstoi, Babine o Parvo, ilustrado por Claude Lapointe, tradução de Luíza Neto Jorge, Contexto, Lisboa, 1985

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Descoberta inglesa

"Descobri que o chá levado à cama em silêncio nem sempre chega para acordar uma pessoa." Agatha Christie