Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sirombo

Sirombo

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Havia um homem que tinha duas mulheres. Uma não tinha filhos, a outra tinha uma filhinha muito linda que se chamava Sirombo. A mulher que não tinha filhos, cheia de inveja, um dia que a outra foi buscar água, deitou-a ao rio para a matar. Ela, porém, não morreu, porque ao cair apanhou-a o rei dos peixes que a levou para o seu palácio e lhe deu muitas prendas; casaram-se e ficaram ambos a viver lá no fundo do rio.

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A mulher má quando chegou a casa fingiu-se toda aflita e disse ao marido que a outra se afogara. Dali em diante principiou a mal tratar a Sirombo quanto pôde; tirou-lhe os enfeites, cortou-lhe o cabelo e sujou-a toda para ela parecer feia; depois mandou-a buscar água. Sirombo foi, a chorar, mas logo que meteu a bilha na água ouviu a voz da mãe perguntando se era ela quem estava a fazer buin, buin, e respondeu-lhe ela que sim, saiu das ondas a mãe, toda enfeitada, como rainha dos peixes que era, e pôs-se a fazer-lhe muitos mimos e a perguntar por tudo quanto deixara em casa:

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És tu minha filha Sirombo que fazes buin, buin?

Sim, mãe, sou eu.

Teu pai está bom?

Sim, mãe, está bom.

Os bois de teu pai, estão bons?

Sim, mãe, estão bons.

Os porcos de teu pai, estão bons?

Sim, mãe, estão bons.

As galinhas de teu pai, estão boas?

Sim, mãe, estão boas.

O sol está a pôr-se, vai-te.

Ó mãe, quero mamar.

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A mãe deu-lhe de mamar; e começou a penteá-la, e, à medida que a ia penteando, ia-lhe crescendo o cabelo; depois, pôs-lhe muitas contas de todas as cores, e quando o sol acabou de se pôr, a mãe voltou para dentro da água.

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A madrasta, vendo Sirombo tão bonita, enfureceu-se, arrancou-lhe todos os enfeites, e tornou a sujá-la. No dia seguinte aconteceu o mesmo e no outro também. Por fim Sirombo contou ao pai o que era sucedido. À tarde foi o pai com muitos amigos esconder-se perto do sítio onde Sirombo costumava ir buscar água. Viram que era tudo verdade e, quando a mãe ia para retirar-se, os homens saíram do esconderijo e quiseram agarrá-la; mas ela fugiu-lhes e voltou para ao pé do seu novo marido, o rei dos peixes. Então foram buscar a mulher má e o marido arrancou-lhe o coração.

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Revista Lusitana, Vol. I, Livraria Portuense, 1888-1889, D. Cecília Schmidt Branco, Contos africanos (Benguela), p. 53

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A imagem é "Maman et Moi II" de Johanna, encontrada aqui

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