Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 15 de março de 2010

adivinha-me

A oscilar

a oscilar

entre o desejo e a frustração

querer e temer

sim ou talvez não

a oscilar

a oscilar

oh, dá-me a mão...

leva-me daqui...

diz-me que tomarás conta de mim...

que não me hás-de censurar

nem exigir

diz-me que posso confiar

que me posso abrir

diz-me que não serás como toda a gente

e que seja tudo verdade, tudo verdade

o que me disseres

que não me mintas

não me enganes

nem por medo, nem por piedade...

mas oh, quem

quem poderás tu ser?

Quem?

Se não sou digna

se não mereço

que ninguém me ame assim...

oh, diz-me, diz-me...

que não importa que seja parva, estúpida, feia, velha...

diz-me que não importa que me engane, que me esqueça...

que me cale, que emudeça...

que chore...

diz-me, diz-me

quando te aprouver...

não porque te peça.

Adivinha-me, adivinha-me

e não me esqueças...

deixa-me ser teimosa e muda

deixa que nunca te diga o que realmente quero.

Nunca, nunca te diga: diz-me que me amas.

6 comentários:

WOLKENGEDANKEN disse...

CORAGEM :))

gin-tonic disse...

E o que há-de dizer também não sabe...
Mas os passos dirigiram-se para aqui, para o “Johnny Guitar”. Tantas as vezes que ele se engana nos caminhos…
O avô a dizer-lhe, há muito tempo, que onde não houver uma saída terá necessariamente de haver uma saída...

“Vienna – É uma história triste.
Johnny – Sou bom ouvinte de histórias tristes.
Vienna – Há cinco anos amei um homem. Não era bom nem mau, mas amava-o. Queria casar com ele, trabalhar com ele, construir algo para o futuro.
Johnny – Deviam ter vivido felizes para sempre.
Vienna – Mas não viveram. Acabaram tudo. Ele não se via preso a uma família.
Johnny – Parece que a rapariga foi esperta em livrar-se dele.
Vienna – Lá isso foi. Aprendeu a nunca mais amar ninguém.
Johnny – Cinco anos é muito tempo. Deve ter havido bastantes homens...
Vienna – Os suficientes.
Johhny – Que aconteceria se esse homem voltasse?
Vienna – Quando um fogo se extingue só restam cinzas.
Johnny – Quantos homens já esqueceste?
Vienna – Tantos quantas as mulheres de que te lembras.
Johnny – Não te vás embora.
Vienna – Nâo me mexi.
Johnny – Diz-me uma coisa bonita.
Vienna – Que queres ouvir?
Johnny – Mente-me. Diz-me que esperaste todos estes anos.
Vienna – Esperei todos estes anos.
Johnny – Que morrerias se eu não voltasse.
Vienna – Morreria se tu não voltasses.
Johnny – Diz-me que ainda me amas como eu te amo.
Vienna – Ainda te amo como tu me amas.
Johnny – Obrigado. Muito obrigado.”

“Play the guitar play it again my johnny
Maybe you're cold, but you're so warm inside

I was always a fool for my johnny
For the one they call johnny guitar
Play it again, johnny guitar”

almariada disse...

bem... Wolkengedanken, é preciso não esquecer que "O poeta é um fingidor." ;)

gin-tonic, obrigada pelo "Johnny Guitar", nunca vi mas há-de chegar o dia... e muito, muito obrigada, pela frase do avô! Memorável, sem dúvida!

WOLKENGEDANKEN disse...

Ah Almariada, neste caso é dificil dizer se "felizmente" ou "infelizmente" o Poeta é um fingidor :)

almariada disse...

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

WOLKENGEDANKEN disse...

Obrigada !!