Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 31 de agosto de 2009

navegar num mar transparente

Júlio Verne escreveu muitíssimas Viagens Extraordinárias que foram todas ilustradas. Aqui encontra as mais de quatro mil gravuras de todos os seus livros.

Em "Aventuras do Capitão Hatteras" Verne descreve um mar transparente onde os heróis navegam vendo todos os seus habitantes e relevos até ao fundo do abismo. Navegar assim seria certamente uma experiência muito diferente da navegação habitual!

Esta é a gravura da viagem no mar transparente, que fica perto do Pólo Norte. Foi desenhada por Édouard Riou, um desenhador famoso, e Henri de Montaut fez a gravura em madeira. A assinatura de Riou é facilmente legível, uma outra mais pequena, à direita, será a de Montaut? Não parece, pois não?

sábado, 29 de agosto de 2009

o desfile da árvore dourada

O Gouden Boom stoet, (o desfile da Árvore Dourada) realiza-se em Bruges de cinco em cinco anos, desde 1958. Comemora e recria, se assim se pode dizer, o casamento de Carlos o Calvo, de Burgundy, e Margarida de York, em 1468. Participam no desfile cerca de duas mil pessoas com trajes inspirados nas gravuras e descrições que se conservaram desde o século XV. O último Gouden Boomstoet foi em Agosto de 2007. Vale a pena fazer uma pesquisa de imagens.

Esta fotografia é de um site só com fotografias de Bruges - Brugge, em flamengo - cujas legendas são em inglês, felizmente! ;)

Saudades da Bélgica...

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A beleza do Alhambra

Já não sei há quantos anos fui a Granada.

Lembro-me que fui no Verão e desejei poder voltar lá no Inverno.

Esta é a cúpula da Sala das Duas Irmãs, no Alhambra. Vista ao vivo é ainda mais extraordinária, vêmo-la e custa-nos a crer que possa existir.

Victor Hugo escreveu sobre o Alhambra: "é um sonho petrificado pela varinha de um feiticeiro".

Em bela caligrafia árabe e incrível trabalho decorativo há poemas nas paredes que fazem deste edifício um livro de poesia. Na Sala das Duas irmãs há também um poema, na intrincada decoração geométrica das paredes, no qual se lê:

"A clara abóbada brilha de uma forma única, com belezas patentes e escondidas."

Vi a abóboda iluminada pelo Sol através das janelas que a rodeiam, mais ou menos como está aqui. A sala não tem outras janelas e estava na penumbra e fresca. Tentei imaginar como será com a luz da Lua.

Encontrei esta imagem aqui.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Charles Morgan no Faial

"Após seis semanas de travessia, o Charles-Morgan fizera escala pelos Açores, ancorando no Faial. Embarcou laranjas, cebolas, batatas, frangos. Os homens foram a terra, beberam vinho generoso, que acharam extraordinariamente barato; alguns discutiram, brigaram com os Portugueses, enfim o usual. O respeitável capitão Sampson transformou-se, durante algumas horas, em contrabandista. Uma noite, o Charles-Morgan mudou discretamente de ancoradouro; uma barca silenciosa veio buscar a bordo vinte pacotes com cento e dez libras de tabaco americano cada um. Os Portugueses davam novecentos dólares por pacote; em Nova Bedford, pela mesma quantidade, pagavam-se duzentos e sessenta dólares."

Georges Blond, A Grande Aventura das Baleias, p. 97, Editorial Aster, Lisboa, s/ data. O Copyright do original francês é de 1965

A acção, que não é inteiramente histórica nem inteiramente fictícia, decorre em 1849. O Charles-Morgan é um barco à vela de três mastros, que partiu de New Bedford para caçar cachalotes à volta do mundo numa viagem de quatro anos, com 32 homens a bordo, dos quais metade nunca tinham visto o mar. Depois de sair do Faial dirigiu-se ao Sul, passou o Equador e só então encontrou e matou o seu primeiro cachalote.

Este livro tem fotografias tiradas nos Açores de cachalotes a serem desmanchados: as legendas indicam Graciosa e Faial (Porto Pim).

Aqui encontra-se uma fotografia de um modelo do Charles Morgan no Museu de Angra do Heroísmo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

mais ou menos tudo o que pode acontecer a um homem

Ilustração do livro "Physicas" de Hildegard von Bingen (1098-1179). Esta ilustração é da primeira edição impressa: Argentorati, 1533. Encontra-se nas Colecções de História da Ciência da Biblioteca da Universidade de Oklahoma. Carregando aqui tem acesso à imagem, aqui tem acesso a todas as imagens digitalizadas deste livro e aqui tem acesso a todas as imagens digitalizadas das Colecções.

O livro "Physicas" está traduzido em inglês. É um livro sobre a Natureza (Physica): plantas, animais, pedras, e os seus usos medicinais. Hildegard escreveu-o em latim, embora alguns dos nomes das espécies a que ela se refere sejam de origem local e difíceis de identificar, conforme explica Priscilla Throop, a tradutora, na introdução.

O livro foi impresso na tipografia de Johann Schott, em França, mas não sei se é possível descobrir quem terá desenhado as ilustrações.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Como será Tomsk?


Será Tomsk, porém, uma cidade interessante? Convém notar que sobre este ponto não se mostram de acordo os viajantes. Madame de Bourboulon, que se demorou em Tomsk na sua viagem de Xangai para Moscovo, faz dela uma descrição pouco lisonjeira. A guiarmo-nos pelas suas impressões, Tomsk é uma cidade insignificante, orlada de velhas casas de tijolo e pedra, ruas estreitas, muito diferentes das que se observam nas grandes cidades siberianas, e bairros imundos, habitados particularmente por tártaros; finalmente, uma cidade na qual avultam os ébrios em estado de apatia, que é comum a todos os povos do Norte sob os efeitos da embriaguês.
O viajante Henrique Russel Killough, esse, pelo contrário, tece grandes elogios a tudo que observou em Tomsk. Dependerão estas diferentes apreciações de o segundo ter visto a cidade no Inverno envolta no seu lençol de neve, enquanto Madame de Bourboulon só lá esteve no Verão?
Júlio Verne, Miguel Strogoff, 2º vol., p.56, Livraria Bertrand, s/ data
Júlio Verne publicou Miguel Strogoff em 1876
Tchekov passou por Tomsk na viagem que fez à ilha de Shakalina, a norte do Japão. A 20 de Maio de 1890 escreveu numa carta à irmã: "Tomsk é uma cidade muito enfadonha. A julgar pelos bêbados que conheci, e pelos intelectuais que vieram ao hotel apresentar-me os seus cumprimentos, os habitantes também são enfadonhos."

Parece que, na Primavera, Tomsk já não estava no seu melhor...
Para se vingarem de Tchekov os habitantes de Tomsk fizeram uma colecta e erigiram-lhe um monumento em bronze, em 2004. Foi feito a partir da estátua em cedro do escultor Leonti Usov (1998) e a legenda diz: «Tchekov visto por um bêbado deitado na valeta que nunca leu "Kashtanka"». Para dar sorte os turistas esfregam a mão no nariz. Conhecendo o sentido de humor de Tchekov estou certa de que gosta.
Com a grafia "Katchanka" o conto de Tchekov (cuja heroína é uma cadela e não digo mais para não vos estragar o prazer de o ler) foi publicado em Portugal:
Contos e narrativas de Tchekov, (1887), vol. IV, p. 270, Estúdios Cor, s/ data

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

No estrangeiro nem sempre é preciso falar estrangeiro

No estrangeiro nem sempre é preciso falar estrangeiro. Quando não conhecemos nenhuma língua comum o melhor é cada pessoa utilizar a sua própria língua apenas como veículo de expressão - para lá do sentido das palavras. Quando há boa vontade funciona muito melhor do que se poderia pensar. Quando não há boa vontade não funciona pior do que quando se fala a mesma língua. Descobri isto na Hungria. Há uns anos, na Bélgica, lidei durante alguns dias com ciganos que não falavam francês e com quem eu falava em português apenas para dizer alguma coisa, porque o essêncial era comunicado pelas situações e gestos. Uma vez passei por um grupinho de crianças e, só para não passar calada, disse: "estão a brincar os meninos?" e um deles arremedou-me de tal modo que compreendi que me estava a imitar. Para surpresa deles isto deu-me vontade de rir.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O perfume da viagem

Te Pirongia Te Aroaro o Kahu (a presença perfumada de Kahu) é uma montanha na ilha do norte da Nova Zelândia. Em 2003 Mike Judge pintou este mural na escola primária. Vê-se a montanha e a cidade de Pirongia, o rio Waipa e ao longe a montanha Kakepuku.

A montanha de Pirongia é a viagem de Kahu quando chora a morte do seu marido Uenga.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vos compriendeis?

"Inclinou suavemente a cabeça e pronunciou algumas palavras que nem o major nem o seu amigo conseguiram compreender.

Então, o patagónio, depois de ter observado atentamente os estranhos, mudou de linguagem; mas, fizesse ele o que fizesse, este novo idioma não foi melhor compreendido que o primeiro. Contudo, algumas expressões de que o indígena se serviu impressionaram Glenarvan. Pareceram-lhe pertencer à língua espanhola, de que conhecia algumas palavras usuais.

-Español? - disse.

O Patagónio abanou a cabeça de cima para baixo, movimento alternado que tem o mesmo significado afirmativo em todos os povos.

-Bom - disse o major - este assunto é para o nosso amigo Paganel. Está feliz por ter tido a ideia de aprender espanhol!

Chamaram Paganel. Acorreu imediatamente e cumprimentou o patagónio com uma delicadeza muito francesa, da qual este provavelmente nada entendeu. O sábio geógrafo foi posto ao corrente da situação.

-Perfeito - disse.

E, abrindo muito a boca a fim de melhor articular, disse:

-Vos sois um homem de bem.

O indígena escutou e nada respondeu.

-Não compreende - disse o geógrafo.

-Talvez não acentue bem! - respondeu o major.

-Tem razão. Que diabo de sotaque!

E de novo Paganel recomeçou o seu cumprimento. Obteve o mesmo resultado.

-Mudemos de frase - disse e, pronunciando com uma lentidão magistral, deu a ouvir estas palavras:

-Sem duvida, um patagão?

O outro continuou mudo com antes.

-Dizeime! - acrescentou Paganel.

O patagónio continuou a não responder.

-Vós compriendeis? - gritou Paganel tão violentamente que quase despedaçava as cordas vocais.

Era evidente que o índio não compreendia, porque respondeu, mas em espanhol:

-No comprendo.

Foi a vez de Paganel ficar aturdido, e tirou depressa os óculos da testa para os olhos, como um homem irritado.

-Que eu seja enforcado - disse - se percebo uma palavra deste dialecto infernal! É araucaniano, sem dúvida!

-Não, não - respondeu Glenarvan - este homem respondeu certamente em espanhol.

E voltando-se para o patagónio:

-Español? - repetiu.

-Si, si! - respondeu o indígena.

A surpresa de Paganel transformou-se em estupefacção. O major e Glenarvan olhavam um para o outro pelo canto do olho.

-Ora esta!, meu sábio amigo - disse o major, enquanto um meio sorriso se lhe desenhava nos lábios - não terá cometido uma dessas distracções de que me parece ter o monopólio?

-Quê! - disse o geógrafo, prestando ouvidos.

-Sim! É evidente que este patagónio fala espanhol...

-Ele!

-Ele! Será que, por acaso, aprendeu uma outra língua, julgando estudar...

Mac Nabbs não terminou. Um «Oh!» vigoroso do sábio, acompanhado de um erguer de ombros, interrompeu-o.

-Major, está a ir longe de mais - disse Paganel com um tom bastante seco.

-Enfim, como não compreende! - respondeu Mac Nabbs

-Não compreendo porque este indígena fala mal! - replicou o geógrafo que começava a perder a paciência.

-Quer dizer que ele fala mal porque você não compreende - respondeu tranquilamente o major.

-Mac Nabbs - disse, então, Glenarvan - essa é uma suposição inadmissível. Por muito distraído que seja o nosso amigo Paganel, não podemos supor que as suas distracções tenham chegado ao ponto de aprender uma língua em vez de outra!

-Então, meu caro Edward, ou antes o senhor, meu bom Paganel, explique-me o que se passa aqui.

-Não explico - respondeu Paganel - constato. Tenho aqui o livro onde me treino diariamente nas dificuldades da língua espanhola! Examine-o, major, e verá se o estou a enganar!

Dito isto, Paganel, revistou os seus enormes bolsos; após alguns minutos de buscas, tirou um volume em muito mau estado e apresentou-o com um ar seguro. O major pegou no livro e observou-o:

-Pois bem, que obra é esta? - perguntou.

Os Lusíadas - respondeu Paganel - uma admirável epopeia que...

-Os Lusíadas! - exclamou Glenarvan.

-Sim, meu amigo, Os Lusíadas do grande Camões, nem mais nem menos!

-Camões - repetiu Glenarvan - mas, infeliz amigo, Camões é português! É português que aprende há seis semanas!

-Camões! Lusíadas! Português!

Paganel não conseguiu dizer mais nada."

Júlio Verne, Os filhos do Capitão Grant, vol. 1, pp. 106 a 108, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1987

O mais engraçado é que as frases em português têm notas de rodapé onde estão traduzidas como se segue:

-Vós sois um homem de bem. (É um homem de bem.)

-Sem dúvida, um patagão? (Um Patagónio, sem dúvida.)

-Dizei-me! (Responda!)

-Vos compriendeis? (Compreende?)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

um mar de gente

Encontrei esta fotografia aqui. No tempo do "Grande Calor" (Dashu) os pescadores de Taizhou, na província chinesa de Zhejiang, levam para o mar um barco feito de papel e cheio de ofertas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Onde está o meu suor?

Num daqueles dias muito quentes, um gordo muito gordo, e não menos rico, não parava de transpirar; por isso decidiu chamar um dos seus criados para o refrescar com um enorme leque que jazia na varanda aos pés duma cadeira de descanso.

O empregado obedeceu e o homem, que nadava em banhas e em dinheiro, recostou-se na cadeira de baloiço e deixou os pensamentos voar para bem longe. Não muito depois, o senhor verificou, com grande espanto, que toda a sua transpiração desaparecera; por isso apressou-se a perguntar:

-Onde está o meu suor?

O criado, enxugando as grossas gotas que lhe escorriam pela testa, respondeu muito calmo:

-Senhor, o seu suor está todo comigo!

Contos da Terra do Dragão, p. 14, selecção, adaptação e tradução de WANG SUOYING e ANA CRISTINA ALVES, Caminho, Lisboa, 2000

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cantar o calor do verão

Habitualmente durmo no meu quarto e na minha cama, mas no verão as noites podem ser tão quentes que vou dormir ou para o andar de baixo, que é mais fresco, ou para a varanda, quando até em baixo faz demasiado calor. Há verões em que não é necessário ir dormir para a varanda, a última vez que lá dormi já foi há uns anos. Há verões em que não preciso de sair do quarto, parece-me que no ano passado e no anterior não mudei, mas já não tenho a certeza.

Este ano ainda não dormi fora da minha cama, mas a noite passada comecei a pensar seriamente em ir para o rés-do-chão.

Quer isto dizer que o verão está no seu auge, que a casa já está a acumular calor para o inverno. Toda esta energia me enche de espanto.

Estiveram uns amigos a passar uns dias em minha casa e a filha deles disse-me que gosto muito de dizer: "É fantástico, não é!?" Nunca tinha dado por isso e achei graça. Pois é isso mesmo que me apetece dizer do calor do verão: é fantástico!

Não há calor tão bom como o do verão! Este é o meu cântico de louvor às noites quentes! Porque o verão também é breve e é preciso cantá-lo enquanto está.

Talvez esta noite ainda fique na minha cama. Se não conseguir dormir vai ser bom descer e dormir no velho colchão de campismo, no chão. Se a noite estiver mesmo muito, muito quente, monto a rede na varanda. Em qualquer caso tenho motivos para dar graças!

Benditas sejam as cigarras e as perseíades que cantam o verão!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Lua cheia ao Sol da meia-noite

79º N, menos de uma hora antes da meia-noite, a parte superior do glaciar estava banhada pela luz cor de rosa do Sol enquanto a Lua cheia surge do gelo. Tudo - mar, montanhas, glaciar, céu e Lua, todos tinham a sua nuance rosa dourada. A distância da máquina fotográfica ao primeiro dos bancos de gelo do glaciar à esquerda da Lua é quase exactamente 40 km.

(O topo do glaciar sai horizontalmente dos bancos, mal se reconhece)

A imagem é digitalizada de um slide, sem nenhum tratamento.

Texto e imagem de jan.of.norway no Flickr

Sol feminino e Lua masculina

No Ártico, Sol e Lua não sobem muito acima do horizonte. Andam à volta. No verão há Sol durante 24 h ou quase, no inverno não se vê ou talvez se veja só durante 1h... A importância do luar no inverno é, portanto, muita. É bom ter isto em conta para compreender melhor esta história inuit:

Sol e Lua

Sol e Lua eram irmã e irmão. Participavam sempre nos jogos de cópula da casa dos jovens. Mas uma noite, quando Lua estava a tentar decidir qual das jovens ia tentar encontrar quando a luz enfraquecesse, os seus olhos caíram sobre a irmã, e ele pensou que ela era a mais bonita de todas.

Tomou atenção a como a sua roupa estava feita e quando a luz se apagou encontrou-a pelo tacto. Fez isto muitas vezes. Por fim Sol ficou desconfiada e tirou um pouco de fuligem da candeia com os dedos. Durante a cópula ela pressionou os dedos contra a testa do homem com quem estava e quando a lâmpada foi novamente acesa ela viu o seu irmão Lua com fuligem na cara.

Sol ficou vermelha e quente de vergonha. Tirou um pouco de turfa do monte ao pé da candeia, mergulhou-o no óleo de baleia, acendeu-o e fugiu.

Lua quis ir atrás dela, mas estava com tanta pressa que a sua turfa não ficou muito bem acesa.

"Temos de correr para muito longe e nunca mais nos vermos", disse Sol. Nesse momento tornaram-se espíritos e subiram ao céu, onde continuaram a sua fuga. Mas Sol tem uma luz mais forte e mais quente porque o seu pedaço de turfa arde claramente. O seu irmão Lua, que a persegue mas nunca a consegue apanhar, tem a luz mais fraca e fria.

Peter Freuchen's Book of the Eskimos

A fotografia da mulher inuit, é a fotografia nº 75 deste site; a fotografia Sol da meia-noite, daqui.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Quem me dera a selva!

Este post tem a ver com o de ontem mas vou tentar escrevê-lo de maneira a não ser necessário ler o outro.

Teria 14 anos quando vi o documentário "Woodstock" e até então cinema era sinónimo de história com princípio, meio e fim. "Woodstock" não é nada disso. Esperava um filme com jovens e afinal eram todos adultos e alguns até tinham filhos - ou seja: eram velhos! Uma porção de acontecimentos desgarrados e pessoas que não se sabia quem eram, nem de onde tinham vindo nem o que é que lhes acontecia depois. Era um filme que se parecia com o telejornal que também era coisa de adultos.

Quando tinha 7 anos não compreendi porque é que nunca tinham ido à Lua e resolveram ir nesse dia, mas gostei muito da ideia de ficar acordada pela noite fora. O programa, no entanto, não prestava. Os astronautas pareciam bonecos com um espelho em vez de cara. Estavam vestidos de branco e saltavam em câmara lenta num fundo também branco. Via-se mal, a imagem falhava. Ouvia-se uma língua incompreensível e em vez de porem legendas falavam em português ao mesmo tempo. Além disso tinha sono!

A minha primeira ida ao cinema, porém, foi um deslumbramento. Teria uns 6 anos e fui ver "O Livro da Selva". Acho que nunca tinha visto desenhos animados, ainda não tínhamos televisão. Passado o primeiro assombro era como se tudo aquilo fosse real e eu estivesse lá. A selva era linda e vivi a história toda como se fosse o Mogli, excepto no final. Como é que o Mogli podia ir atrás daquela menina parvinha e trocar a selva pela aldeia? Via-se bem que não sabia o que era viver com pessoas!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Do quintal dele ao Jardim do Campo Grande

A 20 de Julho de 1969 estava de férias em Portimão e só me fui deitar depois de ver os astronautas andarem na Lua...

No mês seguinte, a 15, 16 e 17 de Agosto, reuniram-se em Woodstock milhares de jovens para ouvir a música da época e fazer amor e não guerra (mas disto não soube nada). Na véspera cerca de 80 pessoas prepararam-se para gravar imagens e sons do acontecimento. No ano seguinte "Woodstock" ganhou o Óscar de Melhor Documentário.

Lembro-me de o ter visto no cinema Caleidoscópio no Jardim do Campo Grande em Lisboa, depois do 25 de Abril. Seria 1975, poderia ser 76 ou um pouco mais tarde... Não me lembro. Lembro-me sim que fui com colegas do Liceu - provavelmente faltámos às aulas ou aproveitámos faltas de professores, ambas as coisas eram frequentes nessa altura - e logo que o filme começou fomos sentar-nos em monte no chão, lá à frente, atitude que achámos muito mais adequada do que conformar-nos às cadeiras...

O que é engraçado é que quando fomos ver o filme, embora com grande entusiasmo, para não dizer quase fanatismo, achávamos que o Woodstock já tinha acontecido há imenso tempo... (!?)

Foi provavelmente o primeiro documentário que vi(mos) no cinema o que acrescentou estranheza à estranheza com que já contávamos...

O Woodstock e o 25 de Abril são célebres por serem grandes acontecimentos pacíficos. As erupções de liberdade não têm regras e suportam mal comemorações e homenagens. Em 1984 foi colocada uma placa comemorativa no local do Woodstock que se assemelha bastante a uma pedra tumular... O próprio guia do museu (Bethel Woods Center for the Arts), um dos que estiveram lá e lá ficaram, lhe chama o "túmulo do hippie desconhecido"...

Este ano o realizador Ang Lee pegou no livro "Recebendo Woodstock" (Taking Woodstock) de Elliot Tiber e Tom Monte e fez um filme com o mesmo nome cuja frase guia é "No quintal dele começou uma geração". Passou em Cannes sem prémios* e estreia em Portugal a 3 de Setembro deste ano.

*(No primeiro ano em que Portugal ganhou uma Palma de Ouro, o que não tem nada a ver, claro.)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

a elegância das camponesas de Shimla

Na estrada para Dharamsala, parámos perto de um lugar onde uma mãe e as suas duas jovens filhas estavam a limpar um alqueive; possivelmente são as camponesas mais elegantemente vestidas que já vi em qualquer sítio do mundo.

On the road to Dharamsala, we stopped near the place where a mother and her two young daughters were clearing a fallow field; they are possibly the most elegantly dressed farmers I have ever seen anywhere in the world.

No site das viagens de Michael Palin, fotografia e texto de Basil Pao

terça-feira, 4 de agosto de 2009

4 de Agosto de 1578

Dois anos antes desta data El Motaouakil, Rei de Marrocos, foi destronado pelo seu tio Abd el-Malik que se tornou Rei. El Motaouakil pediu auxílio a D. Sebastião para reconquistar o trono. A batalha de Alcácer Quibir (Ksar el Kebir, que significa Grande Castelo) que também ficou conhecida como a "Batalha dos Três Reis" teve lugar de ambos os lados do Oued al Makhazin (que significa Rio da Podridão). A vitória coube ao exército de Abd el-Malik mas todos os Reis morreram na Batalha. Muitos combatentes, derrotados e vitoriosos, se afogaram no rio. A Batalha terá durado cerca de 4 horas.

escola estéril

Se a criatividade fosse realmente acolhida, assumida e praticada numa instituição de ensino, em breve esta se veria obrigada a rever os seus estatutos e regulamentos internos... Porque a criatividade põe em causa o imobilismo dos conceitos dominantes, a resistência à mudança, a passividade dos estereotipos, enfim, um conformismo resignado à rotina colectiva.

Teresa Vergani, Educação Matemática, p. 61, Universidade Aberta, Lisboa, 1993