Na hora mais fria
Ao amanhecer
Brota a luz do chão
Que se encosta ao céu
Generalizar
é singularizar a pluralidade.
Cor singulariza todas as cores.
Uma escada reúne degraus.
Precisamos de palavras para nos entendermos mas o efeito colateral é criarem mal entendidos, por isso precisamos de aprender sempre com quem não fala: pessoas, animais, plantas, pedras, nuvens e estrelas.
Generalizar é uma uma propriedade da linguagem muito problemática. Pretende condensar conhecimento mas muitas vezes é o principal obstáculo à compreensão. O paradoxo é que "não generalizar" é também uma generalização. Não é, Zenão de Eleia? O que é, é e não pode não ser. A deusa de Parmênides ensinou-lhe que também precisava de aprender o que não é. Precisamos de aprender o que não é porque as palavras o criam. Do que se pode falar ainda não é do que é. E temos que falar. Sorri. Enquanto há sorriso.
Todas as madrugadas podia vê-la da janela do quarto, usava um casacão cinzento muito confortável e passeava sempre sozinha.
Foi passear ao luar. Não encontrou ninguém. Saiu das ruas para os caminhos e chegou ao campo onde os vizinhos são animais tímidos que não se deixam ver. Tinha calçado meias castanhas porque podia haver poças de lama onde lhe apetecesse mergulhar os pés. Encontrou-as e foi o que fez. No céu sem nuvens as estrelas debruçaram-se quando ouviram chapinhar e as unhas saudaram-nas, sem falar. Somos dez e vós milhares, oh astros! E eu, só uma, passou a lua. Quando calçou os sapatos e voltou para casa ainda faltava muito para amanhecer. Acenou ao céu e foi-se deitar.
fora das palavras inventadas
espreita através das estrelas
a iluminação negada
E passava debaixo das árvores
Caíam-lhe mulheres nuas no colo
E tinha que as levar a casa delas