Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




domingo, 29 de junho de 2014

a chorar

sonhei que estava numa estação do Metropolitano com uma amiga que me disse: «julgas que ela gosta de ti mas sabes o que disse?»  e eu, antes que ela continuasse, caí de joelhos a chorar, pus a testa no chão, e sempre a chorar, disse: «se Deus quisesse que soubéssemos o que os outros pensam tinha feito isso (e imaginei os pensamentos a passar escritos na testa das pessoas), mas nós, como se ainda não fossemos suficientemente maus, queremos melhorar o mundo»

domingo, 22 de junho de 2014

tentativa de ensaio

cheguei à conclusão provisória de que a História é escrita pelos escritores - os vencedores analfabetos não passam à História e os vencidos que escrevem não se dão por vencidos - se mudar de ideias digo :)

terça-feira, 17 de junho de 2014

Virgem do paraíso

Na Idade Média foram feitas "Virgens Abrideiras" estátuas da Virgem com o Menino ao colo que se abriam e continham no interior o Pai, o Filho e o Espírito Santo, assim como outras representações da vida de Cristo e Maria. A pesquisa mais frutuosa é por "Vierge Ouvrante" (em francês) porque a origem das esculturas é francesa. A palavra "Schreinmadonna" (em alemão) permite encontrar outras.

Esta está no Tesouro da Sé de Évora. A fotografia está no Inventário Artístico da Aquidiocese de Évora - ver aqui

sábado, 7 de junho de 2014

as palavras

«As palavras são coisas tão vagas e indefinidas, é tão frequente soarem bem, mas significarem exactamente o oposto daquilo que pensamos que elas significam.»

Agatha Christie, A Filha do Pastor, in "Unidos pelo Crime" p. 237, Edições Asa, Alfragide, 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

CANTATA DO MAU MARINHEIRO

Em Calicut, uma vez,
o grande Vasco da Gama
pôs-me a ferros no porão.
Não por pena de traição,
mas por eu passar na cama
trinta dias cada mês.

Se retroava a bombarda
para acossar a moirisma
— a cambulhada casmurra —,
eu dedilhava a bandurra,
recantando a minha cisma
ao anjo da minha guarda.

Quando o Santelmo chispava
nos topes de popa e proa,
agoiros de calmaria,
eu ao bailique pedia
os caminhos de Lisboa
e o corpo da minha escrava.

Quando a água escasseou,
a bolacha criou bicho
e o vinho já ia azedo,
eu nunca tremi de medo:
fiquei-me em santo de nicho
que a si mesmo se salvou.

Mas se o mar fazia espuma,
o vento cuspia pragas
e a nau parecia um trambolho,
já, do sono abria um olho,
piscava-o de manso às vagas
— que, enfim, a vida é só uma!

(Sei que a morte não me quer
enquanto andar embarcado,
só pecando em pensamento.
Porém sou primo do vento
e, no seu corpo salgado,
o mar é minha mulher...)

Não fui herói como os mais,
mas o almirante do rei
acabou por perdoar.
É que eu tinha de ficar
só nos trabalhos que sei
pra lhe dar estes sinais!

(A nau voltou a Belém,
e eu, felizmente, estou bem!).

ANTÓNIO DE SOUSA
in "Poesia Portuguesa Contemporânea"
Secretaria de Estado da Cultura, 1977 (esgotado)
74 páginas