Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 16 de abril de 2012

Herminia Silva - Lisboa antiga




Herminia Silva
Teatro de Revista "Lisboa Antiga" Teatro Apolo 1953
Letra: José Galhardo, Amadeu do Vale
Música: Raúl Portela

Lisboa velha cidade, cheia de encanto e beleza
Sempre a sorrir tão formosa e no vestir sempre airosa
O branco véu da saudade cobre o teu rosto, linda princesa

Olhai senhores esta Lisboa doutras eras
Dos cruzados, das esperas e das toiradas reais
Das festas, das seculares procissões
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais

Lisboa de oiro e de prata, outra mais linda não vejo
Eternamente a cantar e a dançar de contente
O teu semblante se retrata no azul cristalino do Tejo

domingo, 15 de abril de 2012

Pregões matinais

Passo às vezes na cama um dia inteiro
De papo para o ar, como um madraço...
Fumando qual filósofo ou palhaço,
-Sem mulher...sem cuidadoss....sem dinheiro!

É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir...como um boeiro...

De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs...

E ao escutar tais cantantes semifusas,
Eu creio que oiço ao longe as frescas musas,
- A vender uvas e a pregoar maçãs.

GOMES LEAL

quinta-feira, 12 de abril de 2012

arjamolho

Depois de tantos anos a ouvir chamar-lhe gaspacho já quase duvidava da minha memória! Não, no Algarve chama-se realmente "arjamolho".

A água trazia-se do poço em cântaros de barro que a conservavam fresquinha, como vinha da terra.

imagem aqui

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Canção da Donzela Finlandesa

Oh! se o meu Bem me volver,
Se quem dantes via, eu vejo,
Traga ele a boca a escorrer
De lobo em sangue lha beijo;
E a mão vou-lha apertar,
Cobras lha andem a enroscar.
Ah! se o vento alma tivera,
Língua o ar da Primavera,
Fora a sua voz bastante:
Novas levara e trouxera
Entre um e outro amante.
Desprezo finos guisados,
Deixo ao cura os seus assados;
Só quero amar, ser constante
A quem o Verão me deu
E o Inverno afez a ser meu.

Nota: O original é fénico ou finlandês.
Esta pequena Runa, canção em metro rúnico, é considerada no Norte como um desses raros exemplares de literatura primitiva dos povos, que a caracterizam. Como tal tem sido traduzida em muitas línguas com o auxílio de versões literais, que para isso se publicaram em Estocolmo.
Por este modo se fez a portuguesa: e creio ser a primeira que aparece nas línguas do Sul. Dou com ela as versões todas, poéticas e literais, que me chegaram à mão.
Muito aproveitaria ao estudo das línguas e literaturas da Europa se os nossos literatos se dessem com o mesmo empenho ao estudo das runas e sagas do Norte com que ali se dão ao das nossas xácaras e solaus.

EYTON RUNO SUOMALAISEN
Jos mun tuttuni tulisi,
Ennen nähtyni näkyisi,
Sillen suuta suikkajaisin;
Jos olis suu suden weressä;
Sillen kättä käppäjäisin,
Jaspa käärme kämmen - päässä.
Olisko tuuli mielellisnä,
Ahawainen kielellisnä:
Sanan toisi, sanan weisi,
Sanan liian liikuttaisi,
Kaliden kaunibin wälillä.
Ennen heitäu herkku-ruual,
Paistit pappilan unohdan,
Ennenkun heitän herttaseni,
Kesän kestyteltyäni,
Talwen taiwuteltuani.

(Almeida Garrett dá ainda uma versão em latim e outra em grego)

in: Obras Literárias de Almeida Garrett, Folhas Caídas, p. 142 e 143, Portugália Editora, Lisboa, 1969

imagem aqui

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Sr. José U

Era o Sr. José U homem bem apessoado, e de tal capacidade e rotundidade nas formas posteriores, que, por elegante e popular metonímia (nota 7), lhe chamaram a parte pelo todo, e foi apelidado José U, ou José outra coisa que a gravidade da minha história me não deixa pôr aqui mais clara.

nota 7: Metonímia - processo estilístico em que se emprega um termo por outro.


Almeida Garrett, O Arco de Sant'Ana, p. 7, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1987


pode ler-se todo o episódio aqui

terça-feira, 3 de abril de 2012

Que pena perder-se a Mérope!

Digo que tinha dezoito anos quando escrevi a Mérope. Mas tinha doze quando comecei a pensar nela. Estava eu na ilha Terceira, e cheio de presunções de helenista porque um santo velho que ali havia, o Sr. Joaquim Alves - excelente homem que usava do mais esquisito barrete e da melhor marmelada que ainda se fez - me tinha feito entender quatro versos de Homero. Tive a confiança de querer ler Eurípedes no original; e com o auxilio do Padre Brumoy, cheguei a conhecer sofrivelmente algumas das suas tragédias. Não cabia em mim de contentamento e de entusiasmo. Eurípides era o maior trágico do mundo - já se vê porquê.

- E mais falta o seu melhor drama que se perdeu - me dizia o bom do velho - a Mérope isso é que era tragédia!

«Que pena perder-se a Mérope!» cismava eu noite e dia.

Havia ali também naquela minha saudosa ilha Terceira outro velho que me ajudou a criar, e a quem devo quase tudo o que sei: era meu tio D. Alexandre que não gostava de Eurípides - bárbaro! -, nem acreditava na minha ciência helénica - incrédulo! -, e que, demais a mais, um dia me fez perder as minhas tão caras e doces ilusões, dizendo-me que no teatro inglês e no castelhano havia melhores coisas que nos clássicos de Atenas.

- Mas não há uma Mérope como aquela de Eurípides que se perdeu. - Não; mas há em italiano a de Maffei, que tem toda a simplicidade, elegância e regularidade antiga, sem aquelas declamações tão secantes do teu Eurípides. - Em italiano! Tomara eu lê-la!. - Pois também já tu sabes italiano? - Sei, sim, senhor, li um volume inteiro de Goldoni e alguns três de Metastásio.

Era verdade: não me lembra como achei, mas recordo-mo que devorei logo uns tomos truncados daqueles teatros, e fiquei-me tendo por tão bom toscano como um académico da Crusca.

Almeida Garrett, Obras Completas, Teatro 2, Mérope, Prefácio da Primeira Edição, escrito em Lisboa, 12 de Agosto de 1841, Parceria A. M. Pereira, Lda., Lisboa, 1973

fotografia aqui

segunda-feira, 2 de abril de 2012

as palavras ditas e tornadas a dizer

palavras cantadas à meia-noite por dois homens, um na torre da Igreja Matriz, outro no púlpito da capela do Calvário, todas as sextas feiras da Quaresma

embora a distância fosse grande ouviam-se no silêncio da noite

uma das tradições religiosas da Quaresma em Tortosendo, Beira-Baixa, ver aqui