Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nas Alturas da Alegria

Com os pés no chão e tropeçando muitas vezes nas duras e irregulares pedras das calçadas deu cabo dos joelhos, das mãos, dos braços, da cabeça. Cada vez que se elevava um pouco mais servia também de alvo às pedradas. Que dura é a vida para quem tem coração de balão e deseja elevar-se... Quantas vezes rebentou em lágrimas que foi preciso esconder em lugares solitários ou engolir antes que brotassem intempestivas onde a lei era seca. Contusa e dorida apresentava-se como se nada fosse e também tivesse coração de pedra para magoar e suportar a força bruta.

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A certa altura foi à Grécia e todos aqueles corpos de pedra belos e mutilados, alados e mutilados, prenderam-na dentro dos sonhos, da imobilidade, da impossibilidade de acordar e movimentar-se. Oh, quantas formas de desespero é preciso conhecer para encontrar a saída? Eis que a Vitória desce dos céus e mal aflora com a ponta do pé o mais alto templo. Sustêm-na impossivelmente as asas de pedra... como é possível? Além da gravidade a alegria. Cantam as aves cobertas de penas.

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O sonho dela era alto como as estrelas. De criança a adulta e através de mares e continentes, interdições e privilégios, cumpriu o seu destino e chegou lá acima onde as máquinas se aproximam o mais que podem da distância imaginária. Mas o céu está mesmo aqui, é nele que nos movemos, respiramos, sorrimos... Queridas, queridas crianças e descuidadas esperanças que brincam, deixem-na partilhar a vossa inocência. Deixem-na estar na vossa companhia e não vos incomodeis quando ela gritar alto ou chorar silenciosamente. Se lhe sorrirem ela sorri também, é uma alma enxovalhada, permiti que se desfaça das memórias retidas e dos esquecimentos acumulados.

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Calma, calma, a fruta amadurece para uma fome que ainda não existe... Da terra profunda as raízes trazem rios doces, delgados como cabelos. Suspensa a fruta contempla a madeira que a eleva e muda de cor, de forma, de aroma e de sabor, sem nada saber. O Sol e a Lua parecem elevar-se e descer mas apenas a luz e não o corpo nos alcança descendo até nós que elevamos o olhar e os alcançamos assim, não com o corpo. Distancias comunicantes, amantes, quentes. Nas alturas da alegria cantamos ou escutamos os cantos santos e incorpóreos das fontes brilhantes. Os nossos corpos resplandecem de saúde e os lábios de beijos. Se não fosse na felicidade onde houveras de agitar-te?

4 comentários:

Nivaldete disse...

"...a fruta amadurece para uma fome que ainda não existe."
Lindo... epifânico...
abraços.

almariada disse...

obrigada Nivaldete sempre gentil! :)
beijinhos

Aurora disse...

We live in succession, in division, in parts, in particles. Meantime within man is the soul of the whole; the wise silence; the universal beauty, to which every part and particle is equally related, the eternal ONE.

And this deep power in which we exist and whose beatitude is all accessible to us, is not only self-sufficing and perfect in every hour, but the act of seeing and the thing seen, the seer and the spectacle, the subject and the object, are one. We see the world piece by piece, as the sun, the moon, the animal, the tree; but the whole, of which these are shining parts, is the soul. Ralph Waldo Emerson

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almariada disse...

sim, gosto, obrigada Aurora