O mundo invisível que nos surge em sonhos quando dormimos e na consciência quando acordamos: aqui, contentes, também sentimos espanto e nos desgarramos. Entramos e saímos do que estamos a fazer.
*
A história começa num beco sem saída. Numa cidade. No verão. A criança tinha-se perdido ao tentar voltar para casa por caminhos diferentes dos habituais e agora tinha que voltar para trás mas não tinha vontade nenhuma de fazer isso. Sentou-se num degrau. À volta havia portas e janelas nas casas, duas ou três árvores, umas quantas flores em vasos e uma torneira.
*
(continua... está em construção) *
*
SABE-SE LÁ
*
Esta expressão de cepticismo português é muito eloquente. Ao 'lá' devem seguir-se reticências que o indeterminem. Este 'lá' é um óptimo equivalente para o Tao chinês.
*
As certezas têm de ser continuamente reforçadas. O homem auto-condiciona-se numa identidade, auto-define-se. O paradoxo do actor é a plasticidade com que assume e se descarta das identidades. Os ritos ditos primitivos ou pagãos usam e abusam desta possibilidade. Revelando inúmeras identificações com visíveis ou invisíveis presenças o rito é sagrado e profano. A orgia e o ordálio, alegria, ofertório, a dádiva, a graça dos encontros, a participação e aprendizagem, tudo é claro e natural. Segredos e mentiras descaem-se inesperadamente, limpam-se as consciências, revelam-se os mal entendidos. As afirmações são fáceis e ninguém se incomoda a negá-las. Desejo e necessidade de estar de acordo.
*
Saltem a fogueira, moças, arregacem as saias. Sabe-se lá de onde nascem os filhos do fogo. O mistério agita as folhas soltas. Sabe-se lá... Lá... onde? Onde se sabe. Onde não se está. Ou não se está totalmente. Ou não se está ainda. Emergimos do mistério. Coágulos de nada. A extrema diversidade com que nos relacionamos com a beleza e o significado, o sentido e confusão que são partes do nexo, como nós! A integração no nexo pressupõe uma certa desadequação social, na medida em que os limites da sociedade são demasiado estreitos para o conhecimento do todo.
*
Sempre que se estabelecem limites abre-se um espaço de jogo. Mas, por mais viciante, nenhum jogo é permanente. Para lá dos jogos o jogo improvisado dos acontecimentos tem outra qualidade. É um jogo sem regras, nem espaço, nem tempo definidos. Sem objectivo aprendemos mais. Não nos ilude nenhuma aparência pintada, por mais nova ou restaurada, por mais nítida, por mais ousada. Sabemos que, para lá dela, está tudo o que vai entrar e saír do palco. Não falta nenhuma peça do jogo. Não há explicações só acções, raramente comentários. Apenas quando acontecem as grandes raridades. A presença dos jogadores é reconfortante para quem não joga. Fazem companhia e não chateiam.
*
Mas, sabe-se lá... :)
Sem comentários:
Enviar um comentário