Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 25 de março de 2024

Cantiga das férias

Férias alegres 

Férias brinquedos 


Correm as férias 

P'ra fora da escola 

Pulam e saltam

Jogam à bola


Férias brinquedos 

Férias alegres 


Oh férias lindas

Campos floridos

Dançam amigas

Cantam amigos


Férias alegres 

Férias brinquedos 


Voam as férias 

No céu azul 

As ondas molham

Ventos do Sul


Férias brinquedos 

Férias alegres 


Venham as férias

Com seus segredos 

Pintar nas nuvens 

Os vinte dedos 


Férias alegres 

Férias brinquedos 

terça-feira, 12 de março de 2024

Gil Vicente, Auto da Lusitânia, 1531

 Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:


Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:
                         delas não posso achar, 
                         porém ando porfiando

                         por quão bom é porfiar. 

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
                         e meu tempo todo inteiro
                         sempre é buscar dinheiro
                         e sempre nisto me fundo.


Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
               e busco a consciência.


Belzebu: Esta é boa experiência:
             Dinato, escreve isto bem.


Dinato: Que escreverei, companheiro? 

Belzebu: Que Ninguém busca consciência.
              e Todo o Mundo dinheiro.


Ninguém: E agora que buscas lá? 

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
               que tope com ela já.


Belzebu: Outra adição nos acude:
              escreve logo aí, a fundo,
              que busca honra Todo o Mundo
              e Ninguém busca virtude.


Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse
                         tudo quanto eu fizesse.


Ninguém: E eu quem me repreendesse
               em cada cousa que errasse.


Belzebu: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido? 

Belzebu: Que quer em extremo grado
              Todo o Mundo ser louvado,
              e Ninguém ser repreendido.


Ninguém: Buscas mais, amigo meu? 

Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê.

Ninguém: A vida não sei que é,
               a morte conheço eu.


Belzebu: Escreve lá outra sorte.

Dinato: Que sorte? 

Belzebu: Muito garrida:
              Todo o Mundo busca a vida
              e Ninguém conhece a morte.


Todo o Mundo: E mais queria o paraíso,
                         sem mo Ninguém estorvar.


Ninguém: E eu ponho-me a pagar
               quanto devo para isso.


Belzebu: Escreve com muito aviso.

Dinato: Que escreverei?

Belzebu: Escreve
              que Todo o Mundo quer paraíso
              e Ninguém paga o que deve.


Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar,
                         e mentir nasceu comigo.


Ninguém: Eu sempre verdade digo
               sem nunca me desviar.


Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
              não sejas tu preguiçoso.


Dinato: Quê?

Belzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso,
              E Ninguém diz a verdade.


Ninguém: Que mais buscas?

Todo o Mundo: Lisonjear.

Ninguém: Eu sou todo desengano.

Belzebu: Escreve, ande lá, mano.

Dinato: Que me mandas assentar?

Belzebu: Põe aí mui declarado,
              não te fique no tinteiro:
              Todo o Mundo é lisonjeiro,
              e Ninguém desenganado.