Eu guardo, sob o tampo de cristal
da mesa em que trabalho no jornal,
duas velhíssimas fotografias...
Olho-as mil vezes no dobrar dos dias.
Não são de «cover-girls» (já as tive),
nem do amor que no meu peito vive...
Uma é de Einstein, um deus entre os humanos,
outra a de uma criança de seis anos.
O que impressiona, mais do que o contraste
do roble imenso e do botão na haste,
é a atitude de ambos frente à vida:
a de quem sabe e a de quem duvida...
Enquanto o matemático, perplexo,
revê as fórmulas - talvez sem nexo! -,
o jovem fita-me com altivez
- só porque sabe que 1 e 2 são 3!
Mundo de assombros, em que tudo cabe:
o que sabe que sabe e o que não sabe;
o que não sabe que não sabe nada,
Alfa e Ómega, noite e madrugada,
a vaidade, a modéstia, a sombra, a cor,
o desespero, o sonho, o riso, a dor,
o átomo, a galáxia, o Céu, o Inferno
- tudo o que é pó e tudo o que é eterno.
Adolfo Simões Müller, Moço, Bengala e Cão, Lisboa, Dezembro de 1971,
da mesa em que trabalho no jornal,
duas velhíssimas fotografias...
Olho-as mil vezes no dobrar dos dias.
Não são de «cover-girls» (já as tive),
nem do amor que no meu peito vive...
Uma é de Einstein, um deus entre os humanos,
outra a de uma criança de seis anos.
O que impressiona, mais do que o contraste
do roble imenso e do botão na haste,
é a atitude de ambos frente à vida:
a de quem sabe e a de quem duvida...
Enquanto o matemático, perplexo,
revê as fórmulas - talvez sem nexo! -,
o jovem fita-me com altivez
- só porque sabe que 1 e 2 são 3!
Mundo de assombros, em que tudo cabe:
o que sabe que sabe e o que não sabe;
o que não sabe que não sabe nada,
Alfa e Ómega, noite e madrugada,
a vaidade, a modéstia, a sombra, a cor,
o desespero, o sonho, o riso, a dor,
o átomo, a galáxia, o Céu, o Inferno
- tudo o que é pó e tudo o que é eterno.
Adolfo Simões Müller, Moço, Bengala e Cão, Lisboa, Dezembro de 1971,