Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




quinta-feira, 29 de abril de 2010

imenso

era um esquecido sonho meu, o imenso amor

beija-me o eterno e sou o sonho dele

terça-feira, 27 de abril de 2010

feroz em sossego

O ar está quente e cheira intensamente a flores de laranjeira na rua de trás. Há um casal de velhinhos que sempre que o tempo o permite se senta lado a lado em duas cadeiras e assim passam a manhã e a tarde, à sombra. Estão lá agora. Há qualquer coisa, nesta quietude agitada apenas pelas andorinhas, que me faz sentir na infância. Palavras raras e gravadas com música que me soa bem acompanham ou criam uma alegria feroz em sossego.

domingo, 25 de abril de 2010

cantam e voam as andorinhas

somos sempre a incompreensível Natureza que nos transforma e cria e recria e retoma e dá à luz e na qual nos derretemos... e que faz de nós outras maravilhas, novas, breves, passageiras... que sentem todas as alegrias e desgostos possíveis e impossíveis e se dissolvem em nada sentir... e acordam no espanto de existir...

sábado, 24 de abril de 2010

no prado florido

No prado florido não se vê o chão

tacteia-se com os pés para detectar

por onde se pode ir e por onde não

aqui é terra é firme, ali há cova,

aqui está húmida, ali... receosa

por fim encontra-se um belo lugar

para uma bela sesta, quando uma pessoa

se deita desaparece entre as ervas.

Basta o peso para libertar o odor

das flores esmagadas, a bela essência

que se evapora e se cola à pele

e aos cabelos. No prado florido

o amor é bendito pela terra e pelo céu.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

se a atmosfera congelasse caía no chão

Plutão pode ficar tão frio, acreditam os investigadores, que a sua atmosfera pode realmente congelar e cair no chão. Se acontecesse isso à atmosfera da Terra faria uma camada de mais de 9 metros de espessura.

domingo, 18 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

chuva em loureiro

nunca tinha ouvido a música dos pingos de chuva nas folhas do loureiro... leve, bela... inesperada, nova! tão boa!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nas Alturas da Alegria

Com os pés no chão e tropeçando muitas vezes nas duras e irregulares pedras das calçadas deu cabo dos joelhos, das mãos, dos braços, da cabeça. Cada vez que se elevava um pouco mais servia também de alvo às pedradas. Que dura é a vida para quem tem coração de balão e deseja elevar-se... Quantas vezes rebentou em lágrimas que foi preciso esconder em lugares solitários ou engolir antes que brotassem intempestivas onde a lei era seca. Contusa e dorida apresentava-se como se nada fosse e também tivesse coração de pedra para magoar e suportar a força bruta.

.

A certa altura foi à Grécia e todos aqueles corpos de pedra belos e mutilados, alados e mutilados, prenderam-na dentro dos sonhos, da imobilidade, da impossibilidade de acordar e movimentar-se. Oh, quantas formas de desespero é preciso conhecer para encontrar a saída? Eis que a Vitória desce dos céus e mal aflora com a ponta do pé o mais alto templo. Sustêm-na impossivelmente as asas de pedra... como é possível? Além da gravidade a alegria. Cantam as aves cobertas de penas.

.

O sonho dela era alto como as estrelas. De criança a adulta e através de mares e continentes, interdições e privilégios, cumpriu o seu destino e chegou lá acima onde as máquinas se aproximam o mais que podem da distância imaginária. Mas o céu está mesmo aqui, é nele que nos movemos, respiramos, sorrimos... Queridas, queridas crianças e descuidadas esperanças que brincam, deixem-na partilhar a vossa inocência. Deixem-na estar na vossa companhia e não vos incomodeis quando ela gritar alto ou chorar silenciosamente. Se lhe sorrirem ela sorri também, é uma alma enxovalhada, permiti que se desfaça das memórias retidas e dos esquecimentos acumulados.

.

Calma, calma, a fruta amadurece para uma fome que ainda não existe... Da terra profunda as raízes trazem rios doces, delgados como cabelos. Suspensa a fruta contempla a madeira que a eleva e muda de cor, de forma, de aroma e de sabor, sem nada saber. O Sol e a Lua parecem elevar-se e descer mas apenas a luz e não o corpo nos alcança descendo até nós que elevamos o olhar e os alcançamos assim, não com o corpo. Distancias comunicantes, amantes, quentes. Nas alturas da alegria cantamos ou escutamos os cantos santos e incorpóreos das fontes brilhantes. Os nossos corpos resplandecem de saúde e os lábios de beijos. Se não fosse na felicidade onde houveras de agitar-te?

domingo, 11 de abril de 2010

realidade e sonho

"Este amor será

real ou um sonho apenas?

Como hei-de sabê-lo,

se a realidade e o sonho

existem sem existir?"

Ono No Komachi

O Japão no Feminino I Tanka séculos IX a XI, organização e versão portuguesa Luísa Freire, Assírio & Alvim, Lisboa, 2007, p. 25

terça-feira, 6 de abril de 2010

a capacidade criativa

"Em 1901 foram descobertas mais grutas na Dordonha, em Combarelles e Font-de-Gaume, revelando uma colecção fantástica de desenhos, pinturas e gravuras que então começaram também a ser atribuídas ao homem do Paleolítico. Em 1901 a Associação Francesa para o Avanço das Ciências reuniu-se na Dordonha para examinar as pinturas. Com solenidade académica, os presentes decretaram que as mesmas eram paleolíticas. (...)

O professor Cartailhac apresentou então desculpas ao homem do Paleolítico e ao caluniado marquês de Sautuola, há muito falecido. O seu artigo sobre Altamira (1902) intitulou-se «Mea culpa d'un sceptique». Nele assumiu «a participação num erro durante vinte anos, numa injustiça que deve ser abertamente reconhecida e reparada». Nesses vinte anos o mundo académico tinha revisto completamente a noção da capacidade criativa do homem pré-histórico. Após Altamira ter sido reconhecida, as provas adicionais dessa capacidade surgiram de forma esmagadora."

Daniel J. Boorstin, Os Criadores Uma História dos Heróis da Imaginação, Gradiva, Lisboa, 2002, p. 148 e 149