Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Por amor à Arte

Susan Brabeau, For Art's Sake (?)

Torna-se às vezes muito difícil e duvidoso descobrir a autoria e a obra original. Deixo três links:
este, este e este

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

a tia Emília

«A minha tia Emília levava-me consigo para as aldeolas onde dava aulas: S. Pedro de Valbom, Valdezende... Tempo ainda de iluminação a petróleo, de carros de bois a lamuriar por caminhos primitivos... Acompanhei minha tia nos meus cinco, seis anos.»

«Era uma aventura, um deslumbramento. Ir às segundas-feiras de Braga para essas aldeias era para mim, criança ávida de descoberta, verdadeira magia, magia pura. Mal nos apeávamos da camioneta, lá estavam os garotos à nossa espera. As miúdas ofereciam à senhora professora ramos de flores silvestres e os rapazitos exibiam-se em gritaria heróica, descalços, limpando o monco (risos) à manga do casaco e deixando nela uma espécie de rasto de lesma...»

«(...) era uma festa. Nós por aqueles caminhitos rumo à escola, à velha escola, minha tia à frente com aquelas flores todas como uma santa num andor. Parecia uma galinha seguida pelos pintos. (Risos). As mocinhas muito compenetradas e sorridentes, os rapazitos aos pinotes, com berros de assustar índios...»

«Viajavam numa camioneta incrível, focinhuda, que largava fumo e poeirada e nas subidas gemia que metia dó. De aldeia em aldeia, a camioneta ia parando e em cada paragem apeava-se uma professora, com o respectivo bando à espera. Até que chegava a nossa vez.»

«(...) eu ia ao cinema com a minha tia, já que por esses tempos não havia classificações etárias. Aos nove anos, por exemplo, vi o Hamlet, do Shakespeare, numa admirável adaptação cinematográfica de Lawrence Olivier.»

«À noite, rezávamos o terço. Minha tinha era muito religiosa. Orações, orações... aquilo nunca mais acabava. Depois do rosário propriamente dito, havia que rezar pelas almas dos parentes já falecidos, uma legião interminável, e depois em prol das almas mais abandonadas. Dava-me o sono, mas eu sabia que a seguir vinha o encantamento, porque minha tia contava-me histórias antes de adormecermos. Contava-as como só ela sabia contar. Tinha um dom para contar histórias como nunca vi em mais ninguém.»

«Tomemos como exemplo A Branca de Neve e os Sete Anões, quando a princesa é abandonada na floresta. Minha tia "colocava-me" no local, falava de medos, de ameaças, de rumores sinistros. Usando onomatopeias, introduzia em mim o bracejar lamentoso do arvoredo ao luar, à hora em que pia o mocho. Tinha uma capacidade invulgar para me pôr no local da acção, com todos os sentidos alerta.»

Entrevista de Altino do Tojal a «A Página da Educação» em Outubro de 2001. A fotografia de Altino do Tojal veio daqui.