Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

veve

A segunda-feira é o dia da semana consagrado a Exu.

Exu, o orixá que faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.

ver aqui

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

cuidados e recreações

"(...) nos fins de 1831 abandonei tudo o que eram cuidados de sciencia ou recreações litterarias para me alistar no exercito da Rainha, e imbarcar para os Açores. Em Janeiro de 1932 sahi de París com praça de simples soldado, consegui por este modo tomar minha humilde parte n'aquella expedição, cujos avisados e cautelosos directores com tanto impenho afastavam toda a gente conhecida de verdadeira liberal, por todos os modos, por modos que hãode parecer incriveis, e que eles hoje negariam a pés junctos, se fosse possível negar o de que ha tantas testimunhas e tantas victimas ainda vivas, tantos documentos que hãode durar mais que ellas.

A minha curta estada nas ilhas foi impregada quasi toda nos trabalhos de legislação e organização administrativa a que alli se procedeu, e de que me encarregou a amizade e confiança de um amigo particular, então em grande valimento, ao qual e á dura necessidade de me achar eu unico alli que tivesse estudado aquelas materias (...)"

Almeida Garrett, Romanceiro, (Na Segunda Edição, p. XII e XIII) Lisboa, Imprensa Nacional, 1875

imagem e transcrição do poema aqui

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

a avó dos banhos de vapor

Temazcalteci, a avó dos banhos de vapor, a deusa mexicana pré-hispânica do Temazcal - sauna, purificação. A "nossa avó", mãe dos deuses.

Imagem de temazcal ou temazcalli, escolhida entre outras, aqui.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Álgebra

"Os lados não paralelos de um rectângulo medem, respectivamente, 8m e 6m, não é?... Ora pois... quanto se deve adicionar ao menor dos lados para que, subtraindo ao outro lado o mesmo comprimento, se obtenha um rectângulo de área igual a 45m2?...
Mutismo do Pedro.
E o Paulo:
- Procuremos portanto a resolução, designando por x o comprimento pedido (expresso em metros). Ora nestas condições as medidas do novo rectângulo serão representadas, já se vê, por 6+x e 8-x. Como a área deste rectângulo, claro, é igual a 45m2, resulta a seguinte operação - (8-x) (6+x)=45. Portanto, reduzindo a operação à forma canónica, obteremos 48+8x-6x-x2=45 ou, por fim, x2-2x-3=0. Ora a aplicação da fórmula resolvente permite determinar as raízes já x=3 e x2=-1. Acontece, porém, que o problema tem também duas soluções, que são x=3 (8-x=5 e 6+x=9) e x2=-1 (8-x=9 e 6+x=5). Mas estas duas soluções conduzem ambas a rectângulos iguais... Ou não?...
Houve aí uns dez segundos de silêncio. E o Paulo tornou:
-Pedro?... Então?... Estás lá ou foste-te embora?
O Pedro suspirou, desolado.
-Tens razão.!... Era facílimo!... Onde é que eu tinha a cabeça?
O outro riu-se."

Odette de Saint-Maurice, Amigos, p. 15 e 16, Clube do Autor, Lisboa, 2011

Este livro terá sido publicado pela primeira vez ainda nos anos 50 ou talvez já nos anos 60.

A autora que, além de livros, também produzia teatro radiofónico, terá realmente imaginado como é que isto podia ser dito ao telefone?

Na ilustração, da esquerda para a direita, os grandes da Álgebra: Euclides (séc. III a.C.), Diofante (séc. III d.C.), Mohammed ibu-Musa al-Khowarizmi (séc.IX d.C.) e François Viète (séc. XVI d. C.).

Parece que são precisos cerca de 6 séculos para que apareça um homem capaz de fazer avançar a Álgebra mas, claro, posso ter-me enganado nas contas ;)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

um pouco mais do que uma máquina

Fedor Petrovich disse, docemente:
«A luz das tochas não faz realçar as cores da madeira como deveriam...»
Volodia aproximou-se:
«Fedor Petrovitch, há um homem que está em perigo de vida.»
Apontando para a tróica, acrescentou:
«Para ele, neste caso, isto nunca será um objecto de arte, mas sim um conjunto de madeira que lhe terá permitido salvar-se. Tanto faria que o teu trenó fosse grotesco ou sombrio - hoje em dia é assim que são! -, que isso não alteraria fosse o que fosse.
-Compreendo - disse o velho - Mas não podes impedir que eu veja nele um pouco mais que uma máquina!»

Didier Decoin, A Última Tróica, p. 34 e 35, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1978

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

para o Desconhecido

Centro Champalimaud para o Desconhecido, perto da Torre de Belém em Lisboa

fotografia: THE PORTUGAL NEWS ONLINE, Carrie-Marie Bratley, A new ‘Age of Discoveries’ on the banks of the Tagus, 11/2/2012



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

a forma da andorinha

há no mármore das escadas
entre outras formas
a de uma andorinha
ou talvez da sua sombra
apanhada no chão
em pleno voo
- ou será que foi dali
que ela surgiu?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

fazer trabalhos debaixo de pancadaria

«Nós cá dentro continuamos a vender pretos e a escravizá-los ao algodão, obrigando-os a fazer trabalhos debaixo de pancadaria, e isto é incrível e espantoso.»

D. Sebastião Soares de Resende, primeiro bispo da diocese da Beira, em Moçambique

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Está a chegar

a Primavera e a cada dia
                                    é mais longa a cauda do vestido
                                                                                   e outras as estrelas no seu rasto...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

papéis riscados com letras

EMPTINESS


Forjar na polpa das palavras
a sintonia suculenta do morfema
e sair nu cantando lavras
semeadas na cor do poema
ondulando liberdades e savanas
com olhos molhados de punhais
e vozes quentes de calema.

Vivemos um momento
vazio e frio de sentidos
há, como dizem os ingleses,
uma cruel emptiness, um vácuo
castrado de utopias e sonhos
suspensos, ideais na diáspora...

À varanda pálida dos lábios
sequiosos da alma, rosa aflita,
esta infame e crua certeza:

                     A POESIA

                         NÃO SERVE

                              PARA NADA!

Os poemas, como as cartas de amor
do Campos, o tal louco de muitas pessoas,
(ou o tal Pessoa de muitos loucos)
são papéis riscados com letras...

© by Namibiano Ferreira

domingo, 5 de fevereiro de 2012

a censura

quer seja púbica quer seja privada ou, se preferirem, quer seja pela frente quer seja pelas costas, é sempre uma facada, os cobardes atacam pelas costas, os valentes pela frente, mas é preferível não ser vítima

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Wisława Szymborska

"Depois de cada guerra alguém tem que fazer a limpeza" Wisława Szymborska (Polónia, 1923 - 2012)


A fotografia veio daqui, onde está também um dos seus poemas traduzido para português.