Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




sexta-feira, 29 de abril de 2011

nocebo

estamos mais ou menos familiarizados com o efeito placebo - se acreditamos que algo nos faz bem isso faz-nos realmente bem
mas estamos menos familiarizados com o efeito nocebo, que é o oposto - se acreditamos que algo nos faz mal isso faz-nos realmente mal
que é então acreditar? e até que ponto podemos escolher aquilo em que acreditamos?
ou melhor: podemos nós perceber que acreditamos em algo?
parece que sim, que podemos ... embora não seja muito fácil, porque aquilo em que acreditamos nos parece ser verdade
é comum incentivar as pessoas a ter pensamentos positivos, acreditar no bem, etc. para que isso se torne realidade, supõe-se portanto que podemos escolher aquilo em que acreditamos
também o proselitismo, o marketing e a propaganda pretendem convencer as pessoas a acreditar em qualquer coisa e muitas vezes conseguem, embora também provoquem o efeito contrário e algumas pessoas acreditem então que tudo o que vem de determinada fonte é mentira
mas basta ser possível dizer o que estou a dizer para compreender que há uma distância entre acreditar e ser verdade, distância essa que é mais perceptível nos outros :)
é mais fácil perceber que outras pessoas acreditam em coisas em que não deviam acreditar :)
já aquilo em que nós acreditamos ... enfim ... é a verdade :)
e porque esperaria eu que acreditassem no que estou aqui a escrever? ;)
deixem-me só acrescentar que é precisamente isto que me entusiasma na brincadeira, este acreditar sem acreditar :)
mas também não acreditar acreditando ;)
e experimentar para ver o que acontece ...
quer acreditemos quer não vivemos num mundo maravilhoso onde nunca se sabe o que vai acontecer ...
oh, dirão talvez alguns de vocês, mas as companhias de seguros ganham muito dinheiro precisamente porque apostam na probabilidade de não acontecer nada de mal aos seus segurados ... eh, eh, eh, isto também tem graça, porque na verdade as companhias de seguros vivem das cláusulas que impedem os segurados de beneficiar do seguro se lhes acontecer alguma coisa ...
e, como vêem, eu divirto-me com estes diálogos imaginários ... :)
excepto quando me ponho triste ou ansiosa ou deprimida ou outra coisa qualquer precisamente por causa dos pensamentos com que me entretenho ...
e esta distância entre mim e os pensamentos com que me entretenho também me dá que pensar ...
espero ter conseguido explicar, mais ou menos, o meu amor ao vazio ...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sameti

Em 1915 o norueguês Marcello Haugen recebeu de presente um terreno no topo de uma montanha. Marcello tinha salvo o lavrador Bredevangen, que vivia em Thogården, de um acidente perto do rio Otta, quando o cavalo lhe fugiu. Isto explica a oferta. Marcello construiu uma casinha de madeira a que chamou  Sameti. Pôs a chave perto da porta e tornou-a pública. Milhares de pessoas têm visitado este local ao longo dos anos, tanto as pessoas que moram perto como pessoas de toda a Noruega e também do estrangeiro. Depois da morte de Marcello Haugen a propriedade tornou-se uma fundação em 1983.
Procurei e não encontrei informação sobre Marcello Haugen em português, nem na internet nem nas Enciclopédias que consultei. No entanto foi um homem clarividente que se tornou notável no seu tempo devido à capacidade de curar, prever, descobrir e aconselhar. Era procurado por todos estes motivos pelos seus vizinhos e concidadãos. Conheceu também pessoas notáveis como Rudolf Steiner e o Imperador Francisco José do Império Austro-Húngaro que lhe ofereceu um lugar de conselheiro que ele amavelmente recusou.

Sameti é uma das casas espirituais que ele criou. Chamou às outras Arjuna e Svarga.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

pastores

pastores Dinka, fotografia de Carol Beckwith & Angela Fisher

"Fomos cativadas pelas curvas longas e retorcidas dos chifres do gado em silhueta contra o céu do entardecer. Cada chifre tinha sido individualmente formatado enquanto crescia, a sua curva guiada pelas mãos do pastor numa forma graciosa que ele imitaria frequentemente com os seus braços enquanto se deslocava com os animais. Os Dinka acreditam que os seus animais são uma conexão com o mundo dos espíritos, e cada homem dinka vê o seu boi homónimo, que lhe foi dado na puberdade, como alma gémea, a síntese da força e da beleza. Ao longo da vida, identifica-se com este animal, cuidando dele, compondo poesia em sua honra, e acreditando que ele e o animal são um."
Carol Beckwith e Angela Fisher


terça-feira, 26 de abril de 2011

o tanque cor de rosa

Pink Tank, projecto de Marianne Joergansen, Dinamarca, 2006, realizado com a ajuda de pessoas de diferentes países do Mundo, idades e sexo que fizeram e lhe enviaram 4.000 quadrados de crochet. Este projecto foi uma forma de protesto contra a guerra no Iraque. O tanque é da II Guerra Mundial.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

paz, poeta e pombas

porque hoje é dia de ouvir José Afonso e é a primeira canção dele de que me lembro, ainda antes do 25 de Abril, quando eu era uma criança e perguntava, espantada, que canção era esta e ninguém me respondia ... carregar aqui.

domingo, 24 de abril de 2011

Smingus-Dyngus

Na Polónia é tradição os rapazes atirarem água (fria claro) às raparigas, na segunda-feira de Páscoa. E todas querem ficar molhadas até aos ossos :)

sábado, 23 de abril de 2011

Canta alto...!

Conselhos não ajudam quem ama!
Quem ama não é como o ribeiro da montanha
para que se possa construir uma barragem atravessada.

Um intelectual não sabe
o que o embriagado sente!
Não tentes adivinhar
o que os que estão perdidos dentro do amor
farão a seguir.

Quem estivesse a mandar daria todo o seu poder,
se lhe chegasse um leve aroma do almíscar desse vinho
do quarto onde os que amam
estão a fazer sabe-se lá o quê!

Um deles tenta cavar um buraco na montanha.
Outro foge dos louvores académicos.
Outro ri dos bigodes famosos!

A vida gela se não lhe chega o sabor
deste bolo de amêndoa.
As estrelas levantam-se girando
todas as noites, maravilhadas de amor.

Haviam de cansar-se
desse girar se não estivessem.
Diriam
"Durante quanto tempo teremos de fazer isto!"
Deus pega no mundo flauta de cana e sopra.

Cada nota é uma necessidade chegando através de um de nós,
uma paixão, uma saudade.
Lembra-te dos lábios
onde o vento-respiração teve origem,
e deixa que a tua nota seja clara.
Não tentes pôr-lhe fim.

Sê a tua nota.
Vou mostrar-te como isso é suficiente.
Sobe ao telhado à noite
nesta cidade da alma.
Deixa que todos subam aos seus telhados
e cantem as suas notas!

Canta alto...!

RUMI

imagem de flauta de cana aqui

quarta-feira, 20 de abril de 2011

o que me rodeia cantando ou me cerca florescendo

De "A Águia", nº1, Porto, 1 de Dezembro, 1910
Edição digitalizada de Al-Barzalh, 2010

A ortografia é a original (a não ser que a força do hábito me tenha por vezes cegado para as diferenças):

CARTA PERDIDA
   Sim, dizes bem, eu não te sei amar! Porque saber amar - não é assim? - é ter medida nos transportes, calma no desejo, uma moderação cheia de paciência e de umildade, uma parcimónia em todos os arranques e em todos os ardores. Saber amar é saber limitar o amor a um quarto de ora de efusão; saber amar é saber restrinjir-se.
   Não, eu não te sei amar!... Sinto fogo nas veias quando me enlaças ao peito, sufoca-me uma ância de te possuir in aeterno, de fazer do teu corpo uma posse ininterrupta...
   Deperto e de lonje, sinto-te em mim constante, soberana rainha, senhora dominadora. Desde que te amo sei que a ausência é uma palavra vã. Não á maneira de estar sózinho. Guardo-te nas minhas veias, na espessura das minhas artérias, no fundo do meu coração. Tenho-te sempre presente em mim mesmo, como se o meu ser se tivesse imbebido do teu ser.
   Surpreendo-me a lembrar palavras tuas, a comover-me com a memória de tais palavras, numa embriaguez de vinho velho. A minha vida é um éco da tua.
   De noite, na cama, penso na tua boca e vejo-a, nítidamente a vejo, estendendo para mim os seus lábios sensuais. E penso então: A boca dela tem uma frescura tão grande que me parece um jardim com degraus de mármore e todo regado e embebido de orvalho.
   E dentro da minh'alma, da minha pobre alma atormentada, impera, soberana, iniludível, vitoriosa, absoluta, a obsessão da tua boca!
   Sim, dizes bem, eu não te sei amar.
   Amo-te exajeradamente, profundamente, como se ama o sangue das nossas veias e o ritmo da nossa respiração. É uma sede exclusiva. E em todo este amor único aplico a minha ignorância selvajem, a minha espontaneidade injénita, a minha sede voraz de te beijar a carne, de fazer minha com os meus beijos a tua carne - a tua carne de seda e de mármore...
   Quando escrevo as minhas cartas e quando as releio, com os olhos num fulgor de duas estrelas novas, e quando penso comigo mesmo que vão ser agasalhadas no teu seio, que vão aninhar-se entre essas duas redondas taças que o ardor das minhas palavras faz altear e crescer, como um copo cheio de espuma, sinto nelas - nas minhas sinceras, nas minhas desordenadas cartas - o calor vivo do teu corpo e antecipação feliz dos meus beijos. Quasi que as amo, como aos teus braços, e que as beijo, como ás tuas divinas mãos... Ligo tão estreitamente e duma maneira tão nítidamente e tão implacávelmente material o facto de escrever as minhas cartas e a lembrança que vão ser recebidas no teu seio, que sinto ao escrevê-las toda a comoção sensual e toda a olímpica doçura, que é sentir arfar, confessadamente, debaixo dos meus dedos, essas duas colinas de carne branca num estremecimento de montanha sensível.
   E quando te vais, depois de uma entrevista apressada, no nosso quarto côr de malva, deitando-me de lonje o teu último adeus, ou sorvendo na minha bôca o meu último beijo, fica ainda no ar o teu sorriso, o ardor do teu olhar, o teu perfume, toda a suave transcendência do teu ser. Parece que os objectos tomaram alguma coisa de ti e que se banharam na tua alma. Sinto-os diferentes, com uma beleza imanente, como ensopados numa claridade nova. E tão impregnado sinto o ar da tua pessoa, que tomo consciência da tua volatilidade.
   Nas paisagens que contemplo durante o dia, lèguas distantes de ti, nas estrêlas que palpitam no céu num abrasamento orijinal, no que me rodeia cantando ou que me cerca florescendo, és tu que eu vejo, tu que eu ligo a todas as coisas, tu que eu caso com todas as armonias do Universo, tu que eu contemplo em tudo e admiro em tudo. E o encanto - o ambiente encanto que me enche de fervor - é o teu encanto, o teu único encanto que espalho pelas coisas e que os meus olhos comovidos diluem no Universo.
   Sim, dizes bem, eu não te sei amar... Pois se eu amo em ti todo o mundo, não te estou traindo sempre? e é traindo mais que se ama mais?
   Queres saber? ontem passei pela tua porta só para sentir a tua prossimidade. Sabia que não chegarias á janela e que não poderia ver-te. Mas que me importava? não me ia eu sentir na zona da tua respiração, viver por momentos na tua ambiência? E fui. As janelas estavam fechadas e só numa descortinei uma luz mortiça, muito fraca, uma luz de lamparina alumiando imajens. A suposição de que estivesses ajoelhada diante daquela imajem de Cristo que possuis no teu quarto, tão artística e tão fina, deu-me vontade de ajoelhar também sobre as pedras úmidas, desde que ajoelhar é confessar à Vida que a nossa alma está cheia de amor.
   De repente vi passar um vulto e pensei que fôsses tu. E essa ideia deu-me um prazer tão grande como se tu tivesses passado na minha própria alma.
   Fiquei assim muito tempo olhando a janela e adivinhando-te. Na rua não avia viv'alma; caía uma chuvinha meúda, lenta, umectante e teimosa; no ar transparecia apenas um murmúrio de coisas distantes - ruídos de carros ao largo, imprecações lonjínquas e de quando em quando um latido triste... e a tua casa, entre a chuva renitente, parecia amortalhada num silêncio pesado e numa treva de morte. Mas que importava, se eu sabia que tu estavas , e que o ar que respirava cá fora talvez te tivesse já banhado os pulmões e deles tivesse saído mais puro, mais animador de vida, mais digno de ser respirado!
   Assim fiquei muito tempo, encostado a uma parede, surpreendendo o teu vulto em todas as coisas próssimas... Sobre mim caía uma chuvinha meúda, insistente, e os pontos brilhantes das luzes, no espaço úmido, lembravam olhos lânguidos, molhados, chorando um choro triste. Mas no meu coração só havia uma grande satisfação platónica e a consciência da tua prossimidade.
   Mas de repente assaltou-me a cruciante ideia de que tudo tinha sido sonho... e senti a necessidade impreterível de me certificar, de te ter novamente nos meus braços, de saber que fui bem eu que te possuí, e não a imajem do meu eu cheio da tua imajem. Por vezes tenho destas dúvidas crueis. E pergunto a mim mesmo: Teria sido uma ilusão? Meu Deus! Como é triste saber que a prova tem de ficar lonjínqua e que ainda tenho que duvidar!
   Se ouvesse uma maneira de me fundir contigo, de formar contigo um outro ego, um ser com individualidade própria, se por uma reacção das nossas vontades, dos nossos desejos, dos nossos ardentes amores, eu me pudesse combinar contigo! Sabes daquelas reacções em que dois corpos outrora separados, desconhecidos um do outro, seguindo cada qual o seu caminho no Universo, se encontram de repente, acham um destino comum e formam uma nova fonte de enerjia, libertando um calor enorme do seu abraço absorvente e criador? Eu queria esse abraço fundente, penetrante, exotérmico, sentir-me eu em ti e sentir-me ambos num só! Que supremo orgulho para a Matéria, formarmos o Cáos com o nosso abraço, anularmos o nosso eu na integridade da nossa posse!
   Olha, ás vezes, perto do teu corpo, o mais perto que pode ser, sinto obsessões, atracções dum abismo incognoscível - sinto desejos de me perder em ti...
   E não és tu, em todo o caso, a mulher que eu criei? Não me deve orgulhar o poder criador?
   Sim, tu és a mulher que eu tornei diferente, ao sôpro quente da minha paixão; aquela que eu redimi e conquistei; aquela que é minha, minha não só no acto fisiológico do amor, mas nas suas entranhas e no seu coração.
   Fui eu que te fiz, mais de que teu pai e de que tua mãe. Tua mãe trousse-te no seio; eu fiz mais; penetrei a tua vida na minha. Animei-te do fogo sagrado. Modifiquei-te. Tornei-te forte. Dei-te a corajem de te opores. Dei-te o mássimo orgulho. Dei-te o supremo desprêzo. Ensinei-te a rir e a desprezar. Ensinei-te a ser forte na tua pureza, e a ser grande na tua bondade. Dei aço inquebrantável à tua alma luminosa de diamante. Foi uma mulher nova, soberana, esplêndida, olímpica, que eu criei.
   Sim, dizes bem, eu não te sei amar!
   És obra minha, não devo adorar a minha obra. Seria vaidade. Seria pecado mortal. Seria mais do que vaidade - seria um incesto...
   Mas vem, vem! Eu quero pôr-te com olheiras fundas. Como deves ficar bem com olheiras. Serão alos d'astros nos teus olhos astrais. Vem, vem! Eu quero ver-te com os lábios rôxos. Como te devem ficar bem os lábios rôxos! Imajina como serias bela, com os teus lábios da côr das violetas... Vem, que eu quero extenuar-te - quero ver como tu deves ficar linda depois de morta...
   O quarto já está preparado. No jarro ha ja as flores que tu amas. Tenho versos novos para te ler. A cama já está aberta. E parece dizer: Eu espero por ela!
   Vem, vem, minha amada... Esperaste cinco meses, dirás tu, também podes esperar mais uma noite... Mas já te disse uma vez - lembraste? - naquele dia em que cheguei do Algarve: «Cinco meses passam depressa, mas cinco minutos não.»
   Vem! vem! vem!
   É ser ezijente, não é, amor?
   É ser sacrílego, ser incestuoso, ser o que tu quiseres, não é certo?
   É amar muito, desejar muito, adorar muito, não é verdade?
   Ah! é que tu compreendes - eu não sei, eu não te posso amar... mais.

Raul Proença

terça-feira, 19 de abril de 2011

passarinho

Sitta carolinensis é uma ave canora do Canadá, Estados Unidos e Norte do México que gosta de posições invulgares e de manhã limpa as fezes do lugar onde pernoitou

quinta-feira, 14 de abril de 2011

grande e pequeno

fotografia publicada no facebook que suscitou este comentário:

"eh, eh, eh, tenho visto isto tantas vezes, o cão grande é amoroso e quer brincar, o pequeno pensa que é tão grande como ele e como ladra mais alto e chateia ele é que manda haha"

será que o cão grande pensa que é pequeno?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

tijoladas

Sapo da floresta amazónica
Notícia publicada hoje:
Jovem de 19 anos agride familiares a tijoladas em Alta Floresta
Eliza Gund
da TV Nativa
O jovem Leandro Redondo da Silva, de Alta Floresta, Norte de Mato Grosso, estava ingerindo bebida alcoólica em casa, quando de repente, em momentos de fúria, começou a atirar tijolos em seus familiares. Sua mãe, Cleide Monteiro da Silva de 57 anos, foi atingida no cotovelo esquerdo; o padrasto, Francisco José Vieira de 37 anos, foi atingido na cabeça causando um corte e sofrendo hematomas no nariz.
Após o ataque de fúria o jovem foragiu-se do local tomando rumo ignorado. Os familiares foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Pronto Socorro do Hospital Municipal. O boletim de lesão corporal foi registrado pela Policia Militar.
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A fotografia de Daniel Beltrá também é de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

a poça de água

De "A Poetic Universe" (Um Universo Poético) Um Calendário de Sabedoria Pictórica Tibetana e Mongol por Bruce Foreman, que é o autor da fotografia a que anexa este texto:

"Imagina uma poça de água que uma manhã acorda pensando, 'Este é um mundo interessante em que me encontro, um buraco interessante em que estou, é mesmo à medida para mim, não é? De facto ajusta-se a mim surpreendentemente bem, deve ter sido feito de propósito para mim!' Esta ideia é tão poderosa que enquanto o Sol sobe no céu e o ar aquece e, gradualmente, a poça fica mais e mais pequena, se agarra desesperadamente à noção de que tudo ficará bem, porque este mundo é para ela, foi feito para a ter em si, portanto o momento em que desaparece apanha-a completamente de surpresa. Penso que isto pode ser qualquer coisa para que devemos olhar." Discurso em Digital Biota2, Cambridge, UK, (1998) citado em Richard Dawkins "Louvor de Douglas Adams"


domingo, 10 de abril de 2011

as águias têm que voar

A Agência Espacial Europeia publicou um video no youtube sobre os 50 anos do primeiro homem no Espaço, Yuri Gagarin, em inglês, espanhol, italiano, alemão, francês e português. No video a filha e os colegas pilotos de Yuri Gagarin contam a sua história, desde a aldeia onde nasceu, filho de camponeses, do seu amor pelas máquinas e sonho de voar, da viagem em órbita da Terra que o tornou famoso, foi o primeiro homem a experimentar a ausência de gravidade, e finalmente da sua morte num avião que se despenhou.

Destaco a surpresa de Alexey Leonov, que trabalhava com Gagarin e era seu amigo, ao ver as pessoas que dançavam, cantavam e riam nas ruas de Moscovo porque Gagarin tinha regressado do Espaço. Até então, para ele, tudo aquilo não lhe parecia extraordinário, era "apenas trabalho" :)

sábado, 9 de abril de 2011

guerrilha girassol

No dia 11 de Maio de 2006 o Blog "Brussel Farmer" publicou o Manifesto da Guerrilla Tournesol -  plantação selvagem de girassois em Bruxelas - em francês e flamengo.

A ideia internacionalizou-se em inglês. Em português existe um blog e o grupo "Jardinagem de Guerrilha" no Facebook que criou o acontecimento "Gerrilha Girassol 2011" de onde copiei a imagem e excertos do texto:

1 de Maio de 2011 é o quinto “Dia Internacional da Guerrilha Girassol” (International Sunflower Guerrilla Gardening Day) e desta vez calha a um Domingo! Portanto, esperamos que este evento seja o maior e o mais colorido de sempre! Faz a tua parte! Sem ti, não será o mesmo!

Faz um plano para o dia 1 de Maio! Procura no teu caminho habitual ou na tua vizinhança um pedaço de terra pública – um jardim degradado, um canteiro abandonado, ou mesmo um espaço com terra junto a uma árvore… Imagina estes lugares com girassóis enormes e o que isso poderia causar às pessoas que por lá passarem! ;)
Dirige-te à uma loja de sementes próxima e adquire as suas sementes de girassol! Com 1 euro compras muitas sementes!
(Nesta época do ano os girassóis são mais adequados para plantio no Hemisfério Norte, por isso, se estiveres no hemisfério sul podes optar por uma ideia diferente! (Faz a Guerrilha Girassol em Novembro).

quarta-feira, 6 de abril de 2011

lutas

"O Sudão é um país muito perigoso uma vez que passou várias décadas em guerra civil. Como o acesso ao país estava limitado há mais de 20 anos, os cientistas e estudiosos não tinham a certeza se os antílopes de orelha branca ainda existiam ou não. A última vez que estes animais tinham sido filmados foi em 1982. A equipa National Geographic trabalhou em conjunto com a Sociedade de Conservação da Vida Selvagem para conseguir ter acesso ao sul do Sudão e explorar a história. (...)

Em vez de planícies vazias, encontrámos uma enorme população de antílopes - cerca de um milhão de animais. Em termos de extensão e de área coberta, a sua migração é comparável à dos gnus. Conseguimos filmá-los num momento bastante emotivo, tanto em termos de descoberta científica como da importância da sua migração. Na sua migração, durante a estação seca, os machos juntam-se num enorme campo de batalha onde lutam pela atenção das fêmeas. Os machos lutam até ao ponto de se matarem uns aos outros. Durante o resto do ano, os antílopes não costumam andar em grupos tão grandes, tendem a dispersar-se mais.

Os antílopes estavam extremamente nervosos e foi muito difícil captar estas cenas. No entanto, foi fantástico podermos ver estes animais, documentá-los e contribuir para o futuro estudo destes antílopes, os seus padrões migratórios e da própria região."

Entrevista a David Hamlin, produtor da série "Grandes Migrações", National Geographic Channel

A ilustração é de Benjamin Water House Hawkins, "A Comparative View of the Human and Animal Frame", Plate VII, Chapman & Hall, Londres, 1860

Parece-me instrutivo saber que a guerra civil entre os homens, e consequente limite de acesso ao país, favoreceu o crescimento da população de antílopes ao ponto de as lutas entre os machos se tornarem tão emotivas que se matam uns aos outros - criando cenas interessantes para fazer reportagens para a televisão.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

caracol

andava à procura de outra estátua de (Li Bai) 李白 e encontrei esta fotografia de um caracol no Jardim de Esculturas da Família Jao em Irvine, Califórnia

parece-me que ilustra ainda melhor o poema:

Perguntas-me porque vivo na floresta da montanha
e eu sorrio, e fico em silêncio,
e até a minha alma permanece calada,
ela vive no outro mundo
que não pertence a ninguém.
Os pessegueiros dão flores,
A água corre.

Li Bai (também escrito às vezes Li Po, Li Bo, Li Pai, conforme a transliteração adoptada)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

de mãos dadas

A História da Verdade e da Parábola

Uma vez a Verdade saiu à rua tão nua como no dia em que nasceu. Assim sendo ninguém a quis em suas casas. Quando a viam viravam-lhe as costas e fugiam.  
Um dia em que a Verdade andava tristemente ao acaso, encontrou a Parábola. A Parábola estava vestida com roupas esplêndidas de cores magníficas. E a Parábola, vendo a Verdade, perguntou: "Diz-me, vizinha, porque estás tão triste?" A Verdade respondeu amargamente: "Ah, irmã, isto vai mal. Muito mal. Estou velha e toda a gente foge de mim. Ninguém quer nada comigo."
Ouvindo isto a Parábola disse: "As pessoas não fogem de ti por seres velha, eu também sou velha. Muito Velha. Mas quanto mais velha fico mais as pessoas gostam de mim. Vou dizer-te um segredo: Toda a gente gosta de coisas disfarçadas e embelezadas. Deixa-me emprestar-te algumas roupas esplêndidas como as minhas, e vais ver que as pessoas que te evitavam te vão convidar para suas casas e apreciar a tua companhia."
A Verdade aceitou o conselho da Parábola e vestiu as roupas emprestadas. Desde então a Verdade e a Parábola têm andado de mãos dadas.

História Tradicional Yiddish

Pantheon Books, New York